segunda-feira, janeiro 22, 2007

VALEU, TIÃO!

Este vinte de janeiro de 2007 ficará marcado na minha memória pra sempre. Eis a razões:

Duas da tarde. Entro na Folha Seca e sou cumprimentado pelo Rodrigo Ferrari, o Digão da Folha Seca. Dou um abraço forte no Prata Querubim que não via desde o seu aniversário, ali mesmo, num samba histórico naquela esquina. Mal cheguei e, no cantinho do balcão, vejo uma figura, cerveja na mão, trajando algo que lembra uma bata africana em tons vermelho e preto, as cores do meu flamengo. Penso: será que é ele?

Minhas suspeitas ficaram mais fortes quando o Simas, acompanhado da Candinha, entrou empurrando a porta de vidro e o sujeito, que eu discretamente observava, disse a um amigo ao lado:

- Olha ele aí...

Concluí que tinha ficado mais fácil acertar. Mas não queria arriscar ir falar com o cara e, sem querer, dar com os burros n’água. Resolvi ficar no meu canto, sorvendo extasiado, aquela atmosfera inebriante da livraria.

Já do lado de fora vi chegar o Grande, Glorioso, Gigantesco, Monstruoso e Inenarrável Cláudio Falcão – meu mestre na profissão e personagem fundamental desta história – acompanhado da Ana Paula. O Cláudio trazia uma imagem de São Sebastião que deu de presente ao Digão pra que fosse posta no centro da mesa onde tocariam e cantariam os sambistas.

Logo depois pintou o amigo Alan, com quem passei boa parte do tempo trocando idéias sobre as matrizes religiosas afro-brasileiras, dentro da Folha Seca, que é muito rica em livros sobre o tema.

Simão passa do meu lado dizendo com expectativa nítida na face:

- Já vamos começar os trabalhos!

Pelo olhar dele, não entendi se ele dizia isso pra mim ou pra ele mesmo.

E começou o samba. Simas no cavaquinho, o Prata nas suas mágicas sete cordas, Alberto Mussa, que só vi quando já estava brincando de tamborim... E assim foi esquentando.

Claudão parou do meu lado. Resolvi não perder mais tempo e disse:

- Sabe que, faz tempo eu leio o “buteco do Edu”, e até hoje eu não conheço o cara?...
- Deixa que eu te apresento – ele me respondeu com tranqüilidade.

O Simas já tinha me prometido fazer tal apresentação num almoço no Rio-Brasília. Estávamos no Samba do Trabalhador quando acertamos que combinaríamos o dia. Não foi preciso. Eu estava lá, no samba de aniversário da Folha Seca e sabia que o Edu também estava. Só não sabia quem era, apesar da quase certeza que tive naquela cena dentro da livraria.

Aí vem o Claudão e me manda a seguinte letra... Vê se isso não é coisa de irmão:

- Faz o seguinte. Compra o livro do cara, aproveita o desconto que o Digão está dando pelo aniversário da livraria, que eu te apresento o Edu e tu ainda leva um autógrafo de quebra!
- Claro! Claro! – respondi, sem perda de tempo.

Aí ele completa:

- Se não tiver aí o "numerário", deixa que eu passo no meu cartão... – é ou não é coisa de irmão?
- Ta tranqüilo. Tô prevenido... – respondi.

Entrei na livraria, peguei o livro, que estava caprichosamente destacado numa mesa à esquerda da entrada e fui até o balcão onde fechei o negócio com o Digão. Com ele, peguei uma caneta emprestada para o autógrafo. E fui até o Cláudio que já caminhava em direção ao Edu, parado em frente ao bar do Mestre Santos.
Tapinha no ombro, Edu vira e Cláudio faz as apresentações.
Aperto forte de mão, e digo:

- Prazer, Diego Moreira.
- Ah, eu conheço ele da internet... ele também escreve... – Edu responde com cordialidade.
- Ele comprou o seu livro e queria um autógrafo... – diz o Cláudio.
- Ah, que beleza! Que beleza! Perai... só preciso de uma caneta.
- Eu tenho – disse.

Edu então entrou e, apoiado no, nada imaginário, balcão do bar do Santos, escreveu a dedicatória que transcrevo na íntegra.

- Pro Diego, com um abraço do tamanho da Tijuca, torcendo pra que você se sinta em casa!

Voltou do balcão com um sorriso no rosto. Eu, recebendo o livro, disse:

- Falei com o Simas e ficamos de marcar um almoço no Rio-Brasília. Vamos?
- Vamos! Você já foi lá, né? Eu li o que você escreveu no blog do Simas...
- Fui sim! Então, vamos marcar!
- Vamos. Depois me diz se gostou do livro, hein.
- Com certeza!

E nos despedimos.

Com um abraço no Cláudio e no Alan, fui embora cumprir minhas obrigações no dia de Oxóssi, deixando naquela esquina um pedaço do meu peito batendo na cadência do samba.

Assim que me vi livre e à vontade para o lazer, corri pra ler o livro que tinha comprado. Em pouco tempo me percebi refém de uma leitura deliciosa e envolvente. Acomodado no sofá da casa da minha mãe, onde costumo ficar depois das giras de sábado, fiquei muito tempo atraído irresistivelmente pelas histórias e personagens fascinantes de "Meu lar é o Botequim!". Ri tanto, mas tanto, de certas passagens, que cheguei a assustar minha mãe, que me olhava como quem nunca tinha me visto em tal estado de riso.

Fiquei completamente dominado pelo ambiente estético da obra. Via-me dentro do botequim em Vila Isabel. Se alguém acordasse – todos foram dormir e eu continuava lendo - e me dissesse - vai dormir senão vai acabar virando a noite!, provavelmente eu responderia: Foda-se a freira! – Não entendeu nada? Leia o livro do Edu.

À meia noite, na hora grande, meu avô levanta pra uma de suas urinadas sagradas no meio da noite – ele toma uns remédios de pressão que são diuréticos – me vê sentado no sofá e pergunta:

- Tá lendo a Bíblia?

Mal sabe ele o sentido profundo das palavras que ele acabara de proferir.

Sem titubear, respondi:

- É...

Fechei o livro e fiquei meditando sobre o que o meu avô – não sabia que ele era tão sensitivo – havia acabado de dizer.

Pra quem é carioca e aprecia o estilo de vida do "Ser Carioca", o livro do Edu é obrigatório. Uma bússola, a guiar garotos novos como eu e malandros da antiga como Aldir Blanc, sempre em direção à Zona Norte. Uma obra maravilhosa!

"Meu lar é o Botequim!" Histórias, palpites e feitiço sem fim, fala por si próprio.

Só me resta agradecer ao padroeiro por este dia incrível!

Valeu, Tião! Okê Arô!

3 comentários:

Eduardo Goldenberg disse...

Malandro: exageros à parte, muito carinhoso da tua parte! Fico à espera do almoção lá no Rio-Brasília, para que a gente possa pôr mais o papo em dia, falar mais sobre o livro - e sobre o que ainda vem por aí - e mais, e mais, e mais, e mais. Com o time completo. Forte abraço!

Anônimo disse...

fala cunhado!
fico bolada qnd tu dala desses sambas e nunca me leva em nenhum.
Bom, pelo menos está parcialmente explicado o uso da expressão: "Foda-se a freira", agora só falta descobrir o pq.
Mas para isso sinto que terei que ler o livro.
Até a proxima e prometo comentar e não só ler.
Espero que o próximo fale do filme que acabamos de assistir.

um beijo

Unknown disse...

Puta texto, hein? Disse tudo, malandro. É assim que reagi quando li pela primeira vez o livro do mano Edu. Já li duas vezes, sempre com renovado entusiasmo. Abraço e bom Rio-Brasilia. Nós ainda nos vemos por lá este ano.