Ninguém é totalmente cego. Há mais de um século que os cariocas como eu vivem numa cidade cujo crescimento é regulado pelo capital que explora o solo urbano de modo especulativo.
Uma das práticas mais comuns é a retenção de grandes imóveis urbanos por décadas para posterior loteamento e comercialização.
Esse processo foi claro na orla marítima da cidade especialmente a partir do século XX, com a expansão para Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra, Recreio dos Bandeirantes.
Esse modelo levou à configuração de uma nova centralidade urbana carioca na Barra da Tijuca, o primeiro dos bairros litorâneos da Zona Oeste.
Há muito que a Barra se converte em núcleo de atração de trabalhadores que vivem na baixada de Jacarepaguá, em Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba, etc., pela expansão imobiliária, de seu comércio e dos serviços. Para os especuladores, a receita é aguardar a valorização de seus terrenos para reparti-los em lotes e vendê-los auferindo grandes lucros com a operação.
Terrenos unifamiliares são convertidos em multifamiliares com uma singela ajuda do poder público, cujos agentes, muitas vezes, participam do banquete que partilha essa riqueza.
Nesse ano de 2013, o Rio de Janeiro receberá a Jornada Mundial da Juventude, e o Papa Francisco celebrará uma missa para 2 milhões de pessoas.
O local será um terreno de topografia irregular localizado em Guaratiba que foi cedido por Jacob Barata Filho, herdeiro do capital das empresas de ônibus urbanos que controlam um terço do serviço na cidade.
Em troca da "oferta", a prefeitura da cidade está usando recursos públicos para fazer a terraplanagem no terreno para que a missa do Papa corra bem.
A justificativa é razoável. O escândalo está no investimento público em um patrimônio privado que será comercializado no ano que vem.
Jacob Barata Filho aproveita o dinheiro público investido em obras de melhoria no seu patrimônio privado para reduzir os custos do negócio milionário que fará em 2014, quando dará início à venda de lotes da sua propriedade que mede 2 milhões de metros quadrados.
Daí que defendo uma reforma urbana que crie mecanismos que impeçam essa exploração especulativa do espaço urbano. É inadmissível que uma família promova uma retenção especulativa de uma área tão grande por décadas sob a proteção do direito à propriedade quando fica evidente que isso vai contra o bem comum, eleva os preços dos imóveis, segrega os mais pobres do direito à moradia digna.
O relato sobre a terraplanagem feita pela prefeitura no terreno de Jacob Barata Filho foi feito pelo meu camarada Fernando Molica em sua coluna "Informe do Dia", que você pode ler aqui.
Abraços!