quinta-feira, abril 19, 2007

UMA CERVEJA DE RESPEITO

Fugindo brevemente da série sobre os investimentos pelo Brasil, escrevo esse texto tomando cuidado pra não repetir o que já li por aí na blogosfera sobre o assunto que me fez mudar o rumo por hora. E o papo de hoje é sobre uma cerveja que até bem pouco tempo atrás eu nunca tinha ouvido falar. Therezópolis Gold é o nome dela. Mas vamos, primeiro, pelas beiradas, e, de pouco em pouco, chegaremos ao cerne da questão.

É fato que eu não sou um bebedor assíduo de cerveja. Prefiro a cana, maravilha desta terra, que consumo, também, com moderação. Mas a cerveja não me cai mal de jeito algum pois sou, já faz tempo, familiarizado, digamos, com o líquido.

Lembro-me da infância quando íamos, eu e minha família, pro pequeno sítio do meu tio Luiz Carlos, em Magé, Praia de Mauá. Passava os dias perdido em brincadeiras, de esconder, com brinquedos variados, e no contato com a terra. Lá, aprendi a capinar uma grama e a cortar e descascar cana pra depois mastigar e conhecer sua doçura.

Mas nem tudo eram flores. Meu pai, meu avô materno, e meu tio (muitas saudades, que ele já foi pra melhor) faziam um trio que bebia bem. Mas sabe como é essa turma, né?

- Garoto, vem cá! Traz meia dúzia de Antarctica! Mas, ó! Antarctica, hein!!!

Era essa merda cortando o barato da brincadeira de meia em meia hora.

Eu, pequenino, experimentava uma relação de amor e ódio com o botequim. O ódio era mais intenso, pois eu ia muitas vezes comprar cerveja pros caras ficarem beliscando e bebendo. O amor aparecia quando rolava um qualquer pra comprar bala e chiclete. Geralmente era só na primeira ou segunda leva que a grana pintava. Da terceira em diante, ninguém ligava pro fato de eu ficar puto por ir mais umas dez vezes ao botequim sem ganhar nada em troca. Mas isso foi só depois dos sete anos de idade. Tenho memórias mais antigas ligadas à cerveja.

O trio só bebia Antarctica. Como isso faz quase vinte anos, a cerveja não era nada parecida com a atual. Essa versão da Antarctica Original lembra mais a que eles bebiam. Como sei? Ainda com uns cinco anos, eu me lembro, depois que a turma matava uma caixa, meu velho molhava minha chupeta (que eu troquei tempos depois por um tênis do Rambo) no copo da geladíssima dele.

- Vem cá, filhão! Só o papai pode fazer isso, hein! Sozinho tu não pode não.

Depois dessa, a turma levantava e ia roncar (alto! muito alto! – diga-se de passagem), meu tio no quarto, meu pai no chão da sala e meu avô, como faz até hoje, na esteira de vime, jogado na varanda, ou em qualquer outro canto mesmo.

Como disse, bebo pouca cerveja. E quando bebo, mato a ampola rapidinho. Detesto ficar com a criança esquentando no copo. Faz uns quinze dias que eu esbarrei pela primeira vez com a Antarctica Original. Foi aqui pertinho de casa, no Bar Twistinho, pé-sujo que fica ali na rua Uruguai, entre a Maracanã e a Guaxupé, porém do outro lado da calçada. Deu saudade da infância. Na Páscoa, tomei umas com meu pai, aqui em casa.

Nessa última quarta-feira voltei ao Twistinho na intenção de recarregar os estoques de Original, aqui de casa. Compro de seis em seis. Cada lote dura, mais ou menos, uma semana. Entrei no bar, entreguei os cascos, paguei e, quando ia saindo, dei de cara com a Therezópolis Gold, cerveja sobre a qual já tinha lido no blog do SIMAS, nesse texto divertidíssimo, aqui. Quem não leu, leia! Perguntei pro camarada no balcão:

- Aquela ali é a Therezópolis Gold?

Já tinha encontrado essa cerveja na Nygri, uma Delicatessen que fica a uns cem metros do Twistinho, também aqui na rua Uruguai, tudo colado na minha rua, cujo nome homenageia, desde 1925, o município mineiro acima mencionado. Preço: R$ 4,50. Mas como não gosto de entrar em Delicatessen, lojinhas afrescalhadas ao meu ver, muito menos deixar meu dinheiro suado nelas, não comprei. E fiz bem. A cerveja no Twistinho era a Therezópolis Gold e o preço dela, gelada, é de R$ 4,40.

O cara do balcão devolveu minha pergunta com outra:

- Você já bebeu dela?

- Não – respondi sinceramente.

- Então eu te recomendo levar.

- Sério? Qual a razão?

- É muito boa, rapaz! E tem mais. Aconselho não misturar com outra. Bebe essa sozinha.

Não tive dúvida. Levei, e fui pensando: vou provar a danada.

Pra acompanhar, fiz uma lingüiça calabresa fininha com queijo provolone partido em cubos. Montei meu botequim em casa pra tomar essa cerveja.
E todos estavam cobertos pelo mais espesso manto da razão. A Therezópolis Gold é um espetáculo!

Um Abraço Solidário!

8 comentários:

Clélia Riquino disse...

Não resisti...

Moda da pinga
Ochelsis Laureano & Raul Torres


Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meus taio
Pego no copo e dali num saio
Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio
Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!

Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
E no lugar que eu caio já fico roncando, oi lá!

O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço pro favor
Prosa de home nunca dei valor
Bebo com o sor quente pra esfriá o calô
E bebo de noite que é pra fazer suadô, oi lá!

Cada vez que eu caio, caio deferente
Me arço pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio derepente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá!

Pego o garrafão é já balanceio
Que é pra mor de vê se tá mesmo cheio
Num bebo de vez por que acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá!

Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperada com cravo e canela
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá!

Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me deram pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê

Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braços dado
Ai de braço dado ai com dois sordado
Ai, muito obrigado!

Mas vou pensar em outras...

Clélia Riquino disse...

Lembrei-me de + 1:

Cotidiano N° 2
Vinícius & Toquinho


Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo, de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados, em casa, tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes, quero crer, mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí, pergunto a Deus: Escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Clélia Riquino disse...

Vale cerveja acompanhada de feijoada?

Feijoada completa
Chico Buarque/1977


Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as lingüiças pro tira-gosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia, ou da seleta
Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão

Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão

Clélia Riquino disse...

Agora, bebida com macarronada:

Quitandeiro
Monarco & Paulo da Portela


Quitandeiro, leva cheiro e tomate
Pra casa do Chocolate que hoje vai ter macarrão
Prepara a barriga macacada
Que a boia tá enfezada e o pagode fica bom

Chega só 30 litros de uca
Para fechar a butuca
Desses negos beberrão
Chocolate, tu avisa a crioula
Que carregue na cebola e no queijo parmesão

Mas não se esqueça
De avisar a nêga Estela
Que o pessoal da Portela
Vai cantar partido alto
Vai ter pagode até o dia amanhecer
E os versos de improviso
Serão em homenagem a você

Do Aurélio:

uca 2
S. f. Bras. Gír.
1. Ver cachaça (1): "No boteco, .... bebeu vários tragos de uca" (Fernando Ramos, Os Enforcados, p. 171).

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Grande Diego,

Essa sua história é muito parecida com a minha. Eu vivia indo comprar cerveja pro meu pai e meus tios beberrões. E eles só queriam Antártica. Só que, naquele tempo, Brahma era sinônimo de cerveja e então eles me mandavam comprar 2 brahmas mas que fossem da marca Antártica. Essa coisa até virou uma piada, aqui em São Paulo, quando o então presidente do Coríntians, Vicente Matheus, numa solenidade, agradesceu à Antarctica pelas brahmas que enviou. É que Brahma não era só uma marca. Era um sinônimo de cerveja.

Nunca bebo Brahma. Não é frescura não. mas me dá dor de cabeça. E, provavelmente por influência paterna, sempre fui bebedor de Antárctica. Hoje, fico alternando entre Bohêmia e Original. E quando não tenho dinheiro vou de Itaipava, mesmo. Gostava muito da Serramalte mas faz tempo que não a encontro pra comprar. Será que não existe mais?

Essa Teresópolis Gold eu nunca vi. Assim que a encontrar, irei experimentar.

Diego Moreira disse...

Clélia,

Moda de Pinga - bacana, não conhecia. Muito engraçada.

Cotidiano 2 - Lembrou minha infância, meu pai ouvindo Vinícius. Ele era fascinado por um LP que chamava Cinco anos sem Vinícius. Vcs conhecem esse disco? Nunca mais ouvi...

Vale com Feijoada, mas tem que ter laranja no final! hehehe!

E com macarronada também! Já ouviu o grande Roberto Ribeiro cantando Quitandeiro? 30 litros de uca fecha a butuca de qualquer nego beberrão!!

Arnaldo, meus velhos nunca beberam a Brahma pela mesma razão que você. E eu também jogo nesse time. A Bhoêmia infelizmente caiu de qualidade e a Serramalte ainda não conheço. Como bebo muito pouco, não me importo em pagar um pouco mais caro pelas melhores.

Se tiver oportunidade, beba a Therezópolis. De fato é um espetáculo!

Abraços!!

Clélia Riquino disse...

Caro Diego,

A "Moda da pinga" ou "Marvada pinga" foi gravada por Inezita Barroso (que alterou a letra pr'uma versão "feminina" – que lhe enviei, anteriormente –, e nem faz muito sentido). Pena Branca & Xavantinho mantiveram a versão original, "masculina" (um pouco diferente, inclusive, da gravada por Inezita - observe a letra, abaixo). Se um dia puder ouvi-la, aí está.

Obs.: Arnaldo gosta, especialmente, deste trecho: A muié me disse / Ela me falô / Largue dessa pinga / Peço por favô / Prosa de muié / Nunca dei valô... (pois é!)

Moda da pinga
(Marvada pinga)
Ochelsis Laureano & Raul Torres


Com a marvada pinga
É que eu me atrapaio
Eu pego no copo e já dou meu taio
Eu chego na venda e dali não saio
Ali memo eu bebo
Ali memo eu caio
Só pra carregar nunca dei trabaio
Oi lá!

Sempre bebo a pinga
Porque gosto dela
Bebo da branquinha,
Bebo da amarela
Eu bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperada com cravo e canela
Seja em qualquer tempo vai
Pinga na goela
Oi lá!

Venho da cidade
Já venho cantando
Trago um garrafão
Que venho chupando
Venho pro caminho,
Venho trupicando
Chutando o barranco
Venho cambetiando
No lugar que eu caio
Já fico roncando
Oi lá!

Não largo da pinga
Nem que eu tome pito
Que é de inclinação e eu acho bonito
O cheiro da pinga fico meio aflito
Bebo uma garrafa e já quero um litro
Já fico babando crio dois espírito
Oi lá!

Pinga temperada eu não modifico
Quem manda no bule
Eu chupo no bico
Vou rolar na pueira
Que nem tico-tico
Vou de quatro pé destripando o bico
Junta a mosquiteira
Mas eu não implico
Oi lá!

A muié me disse
Ela me falô
Largue dessa pinga
Peço por favô
Prosa de muié
Nunca dei valô
Bebo com sol quente
Pra esfriar o calô
E bebo de noite pra fazer suadô
Oi lá!

A muié me disse
Largue de bebê
Pois eu co'essa pinga
Hei de combatê
Você fique quieto largue
De tremê
Depois que se embriaga
Não levanto ocê
Vô deixá da pinga só quando eu morrê

abço,
Clélia

Anônimo disse...

hahaha
que engraçada
essa música
muito louca!!