Os dados que trago hoje me parecem interessantíssimos e relevantes. E quando eu digo que me parecem interessantissimos, não quero fazer crer através de sutileza alguma que eles possam parecer interessantíssimos para vocês também. Eles me parecem interessantes e só.
O fato é que hoje fui ao cartório, na oitava circunscrição do registro civil e tabelionato, que fica aqui na Tijuca, na Praça Saens Peña. Cheguei por volta das 16:30 e, quando entrei, o rapaz que me atenderia perguntou de imediato:
- Você vai registrar nascimento ou óbito?
- Nascimento - respondi. E ele devolveu:
- Graças a Deus!
Não resisti e perguntei:
- Porque isso? Muitos óbitos hoje?
- Mais de trinta! - e começou a contar na tela do computador. Confirmou o número para a colega do lado, que estava curiosa:
- Andreia, até agora foram 31.
E a moça devolveu;
- E os nascimentos? Chegaram a 20?
O rapaz danou de contar os nascimentos registrados até então. Enquanto eles se divertiam com esta situação cotidiana, eu aguardava para ser atendido. E o rapaz confirmou:
- Quinze! Com o dele - e apontou pra mim - são 16!
Teria razão para ficar incomodado com a perda de tempo provocada pela diversão dos atendentes do cartório mas eu não estava com pressa e sou professor de geografia, ou seja, lido frequentemente com taxas de natalidade e mortalidade, coisa que me interessa.
Na fila, antes de entrar para o meu atendimento, conversava com as pessoas e pude saber que entre elas havia mais um registro de nascimento e três de óbito para serem feitos. Saldo: 17 nascimentos e 34 óbitos.
É óbvio que essa não é a realidade brasileira. Nós não temos todos os dias um número de mortes 100% maior que o de nascimentos. Trata-se de uma realidade que marca um dia - que pareceu excepcional até para quem faz isso todos os dias - e que se apresenta em uma região da cidade - a Tijuca e seus arredores.
Para explicar a situação, muitos fatores podem ser verdadeiros, porém todos, para mim, hipotéticos. A Tijuca é um bairro com notável presença de idosos. E eles, naturalmente, estão mais propensos à morte. Especialmente em dias de calor como esses das últimas semanas. Creio, mesmo, que estes dois fatores associados formam a principal causa para o que vi hoje, em números.
Números que me fizeram, por instantes, refletir sobre a vida, sobre a finitude da existência, sobre a relevância do que fazemos, do que construímos, do que valorizamos, das nossas escolhas, dos nossos pequenos projetos, dos nossos grandes projetos, enfim: do que fazemos com o tempo que temos.
Tenho pequenos projetos, grandes projetos e uma prioridade absoluta para os próximos meses: a família. Por isso, o tempo que dedicarei a estar na internet escrevendo em meus blogs, comentando nos blogs dos amigos, participando ativamente das redes sociais e de informação será limitado.
Aqui no Geografias Suburbanas, estarei de vez em quando, falando qualquer coisa que me interesse. A porta continua aberta e vocês podem entrar. Só não façam muito barulho que tem criança dormindo.
Abraços e até!
2 comentários:
Grande Mestre, o morticínio está programado e, infelizmente, quem paga e pagará esta conta são os nossos jovens...
http://notrauma.blogspot.com/2008/01/morticnio-programado.html
Felicidades e Grande Abraço.
Paulo Pepulim
Filhão!
Belo texto!
Você é de ouro!
Beijo!
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