sexta-feira, fevereiro 23, 2007

CARNAVAL AO VINAGRETE

Queridos,

Depois do breve recesso de carnaval, retorno pra contar algumas historinhas desses meus dias de folia. Não vou me vangloriar de muita coisa pois, em plena manhã do sábado de Carnaval, quando uma fração considerável do Brasil desejaria estar na minha cidade pra desfilar com o Bola Preta, eu estava na Metrópole Mundial Brasileira, a cidade de São Paulo, onde nem mesmo vários paulistanos pareciam querer estar.

Meu carnaval começou ao molho vinagrete. Já já explico.
Desembarquei as 05:40 da manhã de sábado no terminal Tietê, acompanhado da 'Patroa', também conhecida como a 'Sub-Gerência', 'Digníssima Senhora', ou ainda, a mais recente alcunha de 'Costela', o que remete a mais antiga alcunha feminina, de fato, vinda dos tempos adâmicos.

Ainda no terminal, tomamos um café rápido e aguardamos o dia clarear, o que tardou mais do que desejávamos já que a cidade de São Paulo localiza-se a Oeste do Rio de Janeiro, e, portanto, recebe a luz solar depois do Rio, embora os relógios das duas cidades marquem rigorosamente o mesmo horário, inclusive com o horário de verão. Algo depois de vinte minutos além do que esperávamos, o sol dominou a cidade.

Partimos. Ali mesmo, no terminal, acessamos a passagem para o metrô, onde nos deparamos com uma fila imensa para comprar os bilhetes. Algo próximo a 200 pessoas estava na nossa frente. Não tínhamos escolha. Era enfrentar ou enfrentar.
Nesse exato momento, a patroa manda um comentário que me deixa emocionalmente mais próximo do Rio:

- Dizem que paulista adora uma fila... Não é possível que seja essa fila toda mesmo!..

Era. Pausa. Preciso deixar claro que desde o momento em que o ônibus partiu, às 00:05, com 25 minutos de atraso, do Rio, uma sensação de vazio crescia e se agravava em mim. E o comentário da patroa, então, soou como um pequeno alívio, um remedinho pra essa dor.

Seguindo em frente, pegamos o metrô e fomos direto pra estação da Liberdade, o bairro Japonês em São Paulo. Mais uma pausa. Passamos esse carnaval na casa de uma família de origem Japonesa, que já tinha mencionado aqui, no texto "Sobre o raio do mp3 player", e por isso a Liberdade foi nossa primeira parada. Uma homenagem.

Infelizmente chegamos muito cedo (antes das 08:00) e quase tudo no bairro estava fechado, mas fiz questão de registrar em foto um letreiro do Mc Donalds escrito em japonês. Não posto aqui por uma simples razão: Não sei fazer isso. Preciso dizer que o bairro, apesar de ter crescido, hoje tem muito menos japoneses. A maioria dos asiáticos vem de Taiwan, Coréia e outras terras, menos do Japão.

Dali fomos caminhando até a praça da Sé onde a Digníssima conheceu a catedral, que eu já conhecia e o Pátio do Colégio de São Paulo, uma das primeiras construções da cidade. Do prédio original do Colégio, só sobrou uma ruína, conservada em seu lugar pra visitação.

Descendo, chegamos à rua 25 de Março. O Saara paulistano. Poucas lojas abertas, ainda, às 08:30 da manhã, mas muitos camelôs nas calçadas. Andamos a rua de ponta a ponta. Sem parar. Parar em uma rua como aquela, acompanhado pela 'Costela' seria o mesmo que decretar o fim do dia, do carnaval, do casamento, talvez.

Se há uma coisa que ela não resiste é um camelôzinho, uma lojinha baratinha, ofertinhas imperdíveis, tudo o que se assemelhe a uma feirinha, do tipo que ela freqüentava com assiduidade nos tempos em que era moradora da pequenina Nilópolis, cidade lembrada com efusividade apenas no Carnaval. No resto do ano, nada se fala sobre aquelas bandas.

Portanto, passamos correndo pela 25. Só paramos quando o “Rapa” chegou e os camelôs, puxando rapidamente os 'pára-quedas', corriam e avisavam aos outros. Sem saber o que poderia acontecer, entramos em uma loja, por segurança, mas não houve confusão. Detalhe: nos dois minutos dentro da loja, ela já sabia o preço de tudo, fez amizade com a vendedora, pegou cartão e o escambau!

Chegamos na avenida Ipiranga, que subimos com ânimo em busca da famosa esquina com a São João. Na esquina, às 09:00 em ponto, avistei o Bar Bhrama que me tinha sido altamente recomendado. Mas, além de estar fechado, achei que ele tinha toda a pinta de Belmonte e Conversa Fiada. Nem atravessei a rua pra ver. Na mesma calçada, porém no lado oposto da esquina, ainda na São João, achamos um pequeno paraíso, pra quem curte um bom sanduíche de mortadela.

É a Casa da Mortadela. Uma portinha pequena, parecendo mais um açougue do que uma casa de sanduíches. Entrei.

Eita texto que não acaba mais! Calma que tu vai entender o lance do Vinagrete.

A Sub-Gerência, pra minha surpresa, sentou primeiro no balcão e mandou na lata do chapeiro:

- Qual é o melhor sanduíche da casa?

E o caboclo respondeu:

- É o de Mortadela com Queijo e molho Vinagrete!

Pensei comigo: Molho Vinagrete?.. Vamo vê!
Atirei a resposta:

- Manda dois, no capricho.

E o caboclo puxa duas fatias gigantes de mortadela e taca na chapa. Mais duas fatias, pro segundo sanduíche. Duas de queijo pra cada. Vira na chapa. Meia concha de molho Vinagrete por cima e pão francês partido. Vai o conteúdo enrolado pra dentro do pão, que é partido em dois pedaços pra ficar mais fácil comer. Mordidão no sanduba e eu e patroa dizemos em uníssono:

- Putaqueopariu!

Nos arrependemos do café tomado na rodoviária. Ficaríamos horas comendo vários sanduíches daquele. Da mortadela da casa, levamos 1 Kg pra viagem.
Eu ainda pedi mais um, dessa vez provando o sanduíche de lingüiça calabresa. Esse, também, bom pra cacete!

Saímos, por volta das 09:30, descendo a Ipiranga, em busca de um banheiro pra patroa, que eu acho que tem a bexiga menor do que um tubo de ensaio. Entramos na rua Santa Ifigênia, também de esquina com Ipiranga, com tal propósito. Essa rua é interessantíssima. Nela se verifica um forte processo de coesão do comércio de Eletro-Eletrônicos. O maior de São Paulo. Certamente, do Brasil. Possivelmente, da América Latina. Mas só queríamos o banheiro. Não achamos.

Continuamos a descida da Ipiranga e nos deparamos com um troço chamado “Poupa Tempo”. Com uma estrutura redonda, o prédio, de dois andares no máximo, parecia uma praça fechada, cheia de gabinetes. O Poupa Tempo é um lugar onde se tem facilidade pra tirar qualquer tipo de documento, exceto passaporte, se não me engano, tudo no mesmo lugar. Quer tirar CPF, Identidade, Carteira de Trabalho? Vai no Poupa Tempo que tu resolve.
E o melhor... tem banheiro! Chegou do Rio, andou o Centro da Cidade inteiro, comeu igual a um porco e tua mulher vai explodir se não mijar? Vai no Poupa Tempo que tu resolve!
Porra! Esse treco é a idéia do século XXI!

Tá acabando! Tá acabando! Guenta aí!

Depois de uns 5 minutos esperando sentado num banquinho dentro do Poupa Tempo, aparece a Digníssima, cara de alívio profundo e pergunta:

- Quer uma aguinha, amor?
- Quero.

Bebi. Depois senti um arrepio profundo percorrer a espinha e chegar na cabeça, levantando os, cada vez mais raros, cabelos. Tremi pois senti que isso estava ligado ao vazio que vinha sentindo desde a partida do Rio. Não resisti e confidenciei a sensação pra Costela.

- Porra, tô todo arrepiado...
- Cruz Credo! Caga pato, se feder amanhã eu te mato! – respondeu ela pra afastar qualquer agouro, coisa ruim.

Aí minha intuição entrou na jogada e eu perguntei:

- Patroa, que horas são?
- Hãn?
- Que horas são?! – já meio impaciente...
- Dez horas – responde com a cara torta pra minha impaciência.
- Em ponto?
- É! – visivelmente irritada com meu questionário...
- Então é isso... – respondi dominado por profunda certeza do que dizia.
- É isso o quê, Diego? – quase me batendo.
- Tá saindo o Bola Preta!!! Tá saindo o Bola Preta!!!

Ali mesmo, comecei a cantar a marchinha tradicional do bloco.

"Quem não chora não mama.
Segura meu bem, a chupeta!
Lugar quente é na cama.
Ou então no Bola Preta!"

Como disse antes, muitos dos que estavam em São Paulo pareciam não querer estar ali. Eu, certamente, era mais um na multidão!
Sem mais por hoje.

Um abraço solidário!

7 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto, malandro!

Mas tu não me convenceu que achou São Paulo tão ruim assim. O teu texto deixa claro que rolou uma paixão platônica sim.

Normal. São Paulo é tão escroto quanto solidário, tão sujo quanto elegante. E pode ser tão lírico quanto o Rio, se tu souber olhar a cidade com olhos de criança - como tu parece ter feito.

Bar Brahma? Fez bem em fugir. Um dia te apresento butiquins esplendorosos, de fazer frente ao Rio-Brasília e tudo.

Mas só se tu me ensinar onde fica essa mortadela ao vinagrete. Vou dormir sonhando com isso aí!

Putabraço!

PS - Tá linkado.

Unknown disse...

Cunhado, a cada dia que passa vc escreve melhor. Amei esse texto. Da proxima vez eu vou para Sao Paulo com vcs. Mas no carnaval realmente nao tem como. La de saquarema senti muita falta dos blocos daqui. Mas nao soh do bola preta, pq afinal eu nao sou como vc que parece gostar sempre so de um tipo de coisa. Eu gosto de todos os blocos daqui.
Agora soh naum entendi uma coisa. Vcs ficaram qnts horas em sampa esperando o onibus?
E nessas tempo todo soh conheceram a cidade? a duvido que nao tenham experimentado os moteis de lah!
Ficou vermelho neh? Ta rindo!

fui.
bjo

Unknown disse...

Fala Diego, valeu pelos comentários lá no Orkut.

Já sobre São Paulo eu realmente gosto como algumas coisas lá funcionam melhor que aqui. A rodoviária interligada com o Metrô e o Poupa Tempo como você disse são exemplos que poderíamos importar muito bem, mas acho que os cariocas ainda não dão o braço a torcer por idéias paulistas. Mas na diversão e lazer o Rio ainda continua insuperável. São Paulo realmente não parece um lugar muito divertido para passar o Carnaval =P

Abraços!

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Como disse meu amigo Bruno, se você souber achar os lugares certos, minha cidade consegue te seduzir.

Se tivesse saido da 25 de março e virado à direita cairia no mercadão oude gastaria uma grana preta com coisas mais saborosas e comeria o sanduiche de mortadela tão bom quanto o que comeu.

Mas como diz um outro amigo, na dúvida, vá sempre pra esquerda e aí, acabou caindo na Ipiranga. Paciência. Mais umas viagens desta e você acha o melhor rumo.

Só mais uma coisa (tá parecendo teu texto, de tão longo): Vir pra São Paulo no carnaval??? Fala sério!!!

Anônimo disse...

Concordo com o Arnaldo. Fala sério!!! Diegão, essas coisas ( São Paulo no carnaval) não se revelam, meu amigo, nem ao médium depois de morto. Deixa quieto...abração

Anônimo disse...

Ah...a patroa gosta de ser chamada de costela? Mate minha curiosidade. Se eu chamo a Candida de patroa, costela, sub-gerência ou digníssima senhora, acordo no dia seguinte no olho da famosa rua...

Anônimo disse...

Bruno: Te apresento o sanduiche com certeza.

Carol: Nao deu tempo... nao deu tempo...

Gustavo: enquanto isso vamos aguardando o interesse publico passar a frente da mesquinharia politico-partidaria.

Arnaldo: Acho que fui a esse mercado em 2003. Tinha de tudo... fumo de rolo e o escambau! Bacana mesmo!

Simas: de fato, esse era o ultimo dia pra estar em SP mas quando nao da pra ser diferente tem que relaxar e procurar algo de bom.

Quanto a patroa, ela nao curte o Costela, mas dos outros ela nao reclama. Do Patroa ela gosta. Garanto!

Todos: Desculpem a falta de acentos mas o teclado desconfigurou sozinho...

Abracos!