sábado, março 22, 2008

A SANTA DA RUA AIERA E OUTROS CASOS

Há certos jovens que não se encaixam perfeitamente nos rígidos padrões de beleza impostos pela sociedade. E há aqueles cuja forma física e os traços faciais reproduzem com certa fidelidade esses mesmos padrões. Na adolescência, a efervescência hormonal leva os jovens a modificações estéticas rápidas e profundas que mexem com a auto-estima, e a sexualidade do sujeito entra em cena. Sem pretensões freudianas, vamos ao papo que interessa.

Eu sou um sujeito precoce. Encontrei o amor da minha vida aos 18 anos, casei-me aos 22 e, agora com 25, há quem diga que estou demorando muito pra ser pai. Mas a introdução sobre adolescência foi proposital pois quero contar certas coisas que vivi entre os 12 e os 14 anos.

Estava na sexta série, turma da manhã da Escola Pio XII, em Vila Kosmos, em 94. Eu e os garotos, dentre eles os meus irmãos Daniel Simões, Daniel Meirelles e Rafael "Perninha", além de outros grandes amigos como o Rubens, o Vitor, o Carlos "Bojon", decidimos instituir naquele ano uma eleição semestral da Garota Mais Bonita da Sala. A vencedora do primeiro semestre foi imbatível. A Soraya, além de ser um espetáculo - lindíssima da cabeça aos pés - era nova na turma. E os abrutres adoram carne fresca.

Todo mundo chegou junto, numa pressão do cacete. E todo mundo se fudeu. A Soraya deu, gloriosamente, sucessivos "tocos" em cada um dos marmanjos que ousaram galantea-la. O que serviu, apenas, pra deixar a galera subindo pelas paredes, loucos pra desvendar os mistérios que se ocultavam por trás daqueles olhos cintilantes e o sabor daqueles lábios deliciosamente carnudos. Deu merda. O clima ficou tenso. Se a garotada não tivesse coração de doze anos, neguinho baixava hospital com infarte. Caminho de ida, sem volta.

As mentes inquietas começaram a armar festinhas pra reunir os garotos e, é claro, as garotas, razão fundamental de tais eventos. Estilo Hi-Fi. Rapaziada levando refrigerante e as garotas levando uma comida. Chovia biscoito salgado. Presuntinho e Skyni eram os campeões. Tia Beth, mãe do Meirelles, tem conceito altíssimo com a galera até hoje pois algumas vezes cedeu o espaço da garagem para a nossa bazófia.

Com a festa armada, o que se presenciava era a arte da guerra. Todo mundo atirando pra tudo que é lado. E tinha atirador de toda espécie. Tinha quem só dava tiro pro alto - assustava todo mundo e não acertava ninguém. Tinha quem só dava tiro no pé - tipo joselito que erra feio e passa vergonha. Mas tinha Sniper, atirador de elite - aquele que só dava tiro certeiro. Para espanto e euforia dos caras, tinha sniper dos dois lados. Durante as festas as garotas se soltaram e começaram a atirar com precisão. Não ia prestar.

Confesso, com vaidade extrema, que eu estava na lista dos atiradores de elite. Meu primeiro tiro certeiro valeu-me a primeira namorada - coisa que homem de caráter não esquece nunca. Foi um tiro duplo pois eu também fui alvejado, por um tiro que teve mais precisão que o meu. No final daquele ano de 94, depois de um mês namorando a Alice - morena de uma beleza sufocante e olhos de cor indizível - ela me chamou num canto e disse:

- Você sabe que eu só quero a sua amizade, não é?

Impossível guardar mágoa de Alice. Registre-se: Alice venceu a votação do segundo semestre daquele ano e eu estava com ela. Trocando em miúdos. Eu era o Cara aos 12 anos e minha história precoce apenas começava a ser escrita.

Depois de férias agitadas, voltamos pra sétima série em 1995. E não demorou pra galera começara a atirar. Eu mirei uma vez só e acertei a Aline Maia. E fui acertado por ela também, precisamente. A Aline era mais velha que a média da galera, que tinha de 12 pra 13 anos. Ela, no início daquele ano, estava prestes a completar 15, com direito a festa no Play com clip filmado no Jardim Botânico e o escambau. E quem foi pra festa de namorado da debutante? Eu, o cara, ainda com doze anos, cada vez mais vaidoso.

Minha vaidade, reconheço, era tanta que tirei onda de mais novo podendo tranquilamente passar por mais velho. O namorado de uma prima dela - acho que se chamava Franklin - me perguntou quantos anos tinha. Devolvi a pergunta pra saber quantos anos ele achava que eu tinha. Senti-me um deus quando ele respondeu:

- Dezessete!

Retruquei, sem esconder o sorriso orgulhoso, quase cínico:

- Não, eu tenho doze. Dá pra acreditar?

E a Aline era - meus respeitos a dona Júlia, seu Flávio, ao seu irmão Pedro Henrique e ao Marquito, que é meu camarada e atual namorado dela - uma gostosa. Fazia o estilo "Sou boazuda e sei disso". De parar o trânsito e causar acidentes graves. Só tinha um defeito. Era botafoguense e apaixonada pelo Túlio Maravilha. O namoro vingou quase um ano até o primo de uma vizinha - que era os cornos do Túlio - pintar na área durante as férias do fim do ano e botar sal na minha batida de limão. Perdi. Mas a Aline ganhou as duas eleições daquele ano de 95 enquanto era minha namorada. Eu, aos treze, virava uma lenda.

Larguei mão de ser besta e decidi que ia galinhar na oitava série. Dito e feito. O Baile de domingo do Mello Tênis Clube não foi mais o mesmo. E foi mais fácil do que eu achei que seria. Ficou até chato. Chegou ao ponto de, certa vez, eu ter que sair mais cedo de uma festa na casa do Adílio, que morava na Meriti, quase em frente à 27 DP, por que eu fiquei com uma garota e uma outra - que foi, digamos, preterida - encheu a caveira de cerveja e ameaçou armar um barraco.

Depois dessa fase eu daria um bom tempo quieto e fiquei no zero a zero durante todo o primeiro ano do ensino médio. Meus novos amigos estavam convictos de que eu era viado, convicção que se desfez quando no ano seguinte eu passei a namorar uma menina da minha turma.

Mas o episódio mais marcante daquela oitava série ocorreu depois da festa junina do colégio. A quadrilha foi feita ao avesso, os garotos de mulher e as garotas de homens. O Fernando Stróligo, hoje um respeitável oficial da Aeronautica, ficou pateticamente cômico vestido de noiva, porém não menos que eu, um troglodita, usando um vestido da irmã do Adalberto - o único que coube em mim. Mais esdrúxulo que isso foi a professora de inglês, a Rosemeri, passando batom nos garotos. Histórico.

Quase no final da festa, ainda vestido de mulher, eu estava sentado na arquibancada de frente pra quadra comendo um cachorro-quente quando vi chegar bem perto de mim uma garota - não me lembro do nome de jeito nenhum e ainda que lembrasse, não diria - me devorando com os olhos. Ela não era, nem de longe, daquelas que faziam o meu feitio mas, já senhora de seus dezesseis anos, parecia disposta a me oferecer muito mais do que as meninas de 14 anos, pra ela, umas pirralhas.

Armei o peitoral, arregaçei as mangas imaginárias da camisa - eu sempre fazia isso mas estava de vestido! - e cego pelo esteriótipo negativo da menina, mandei com cara de poucos amigos:

- E aí, tranquilo?

Senhora de si e sem perder a pose de mulher feita ela me disse:

- Vim saber qual é a parada.
- Que parada? - perguntei com cara de indignado.
- A parada. Eu tu e nós dois? - ela respondeu direta como um raio, sem se abalar.

Achei a tirada péssima. De quinta categoria. Mas tive de reconhecer que era ousada e corajosa. Procurei dar linha pro papo pra ver até onde ia.

- Como é que é essa parada, eu, tu e nós dois? Me dá uma idéia...
- A parada é do jeito que você quiser - ela disse com o sorriso leviano no canto da boca.

Fiquei empolgado e tenso. Arrisquei uma sacanagem pesada achando que podia me livrar daquela situação mas sentindo que podia evoluir pra um caminho sem volta. Disse:

- Olha, eu "tô" com um pouco de pressa e dizem que apressado come cu - enfatizei o trocadilho pronunciando-o nitidamente.

Embora tenha soado horripilante, o trocadilho foi respondido assim:

- Tudo bem. Eu também não tenho tempo a perder.

E antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, ela deu de costas, fez que ia sair e voltou-se novamente pra mim. Fitou o meu cachorro-quente e, com um risinho safado entre os dentes, fez o seu trocadilho:

- Quer que te chupe?

Chegei em casa mais tarde do que esperava. Mais detalhes não contarei jamais! Ah, se a santinha da rua Aiera falasse o que viu por ali naquela noite...

16 comentários:

Larissa disse...

Caraca! Punk essa história! huahauahua Todos personagens conhecidos! Saudades dos tempos de Pio XII...

@line Maia disse...

EM MINHA DEFESA EU NAO PEGUEI O CLONE DO TULIO MARAVILHA!!!

Alan disse...

me apresenta?

deixo claro, meus interesses são meramente psicanálíticos. ;)

abração

Diego Moreira disse...

Garota, é fato que você conheceu vários dessa história.

Aline, tu pegou sim, que eu sei! Hahaha!

Alan, meu caro, nunca mais vi a diaba!

Abraços a todos!

Unknown disse...

Diego, adorei a história!
Realmente deu saudades!!! Obrigada por lembrar de mim com carinho.

Beijos!

Unknown disse...

Ah, tenho várias fotos da festa junina que vc citou... posso enviar caso queira.

Bjs!

Diego Moreira disse...

Alice, por favor!! Por favor!!
Envie-me essas fotos!! Estou ansioso!! Quem sabe não publico uma(s) aqui... Devem ser engraçadíssimas!!

Ah.. o carinho que guardo de vocês, meus amigos, é imenso.

Beijo grande pra você e pro seu irmão, o grande Alan.

Anônimo disse...

Meu amigo, essa história é sensacional. E reforça uma tese que compartilho contigo: filho?! vai que eu tenho uma filha?! Não posso com isso não...! hahahaha

Abração!

Diego Moreira disse...

Se nascer menina, vai pro convento!!

Abraço!

Larissa disse...

Ah, mas não vai não que eu não deixo!! Nada de convento pra minha sobrinha! Vai é pra farra com a tia!! kkkkkkkk

Henrique Eldinias disse...

Boa história amigão!
Engraçado que se passaram sei lá quantos anos (mais de 10, talvez) e a sua memória está tinindo. Isso é a prova de como nossa memória funciona. Os acontecimentos mais marcantes ficam intactos na cachola. Doido isso né??!

Mas falando da santinha da Aiera, cuidado rapaz. Dá pra descobrir quem é a menina.

1o: por que você e a tal menina foram parar tão longe do Pio XII? Já que a festa era lá na escola? Tá certo que se vcs queriam um lugar privativo, sem incômodos e tal, estes existiam bem mais próximos que lá na santinha.
2o: Se vcs foram parar na santinha, que fica lááá no fim da rua, é porque é bem provável que a menina morasse ali perto. Não? Pode ser. (fico imaginando vc subindo os 2 km da Aiera com a maquilagem borrada e um vestido todo esticado na pança.)

Bom, só com essas duas HIPÓTESES já é possível começar a fazer ligações perigosas. Eu que sou seu amigo desde aquela época - e freqüentei bem aquele pedaço entre Rua Aiera, casas do Allan, Marquito e Pinto -, posso ligar alguns pontinhos e, quem sabe, chegar perto do nome da criatura.

E aí? Quer que te chupe? Ou mais tarde? (ketchup ou mostarda?)

Abs quentes como o seu conto “rubenspaivano”.

Diego Moreira disse...

Meu camarada, a memória é algo muito esquisito. Esquecemos do ontem mas lembramos de passagens remotas... estranho...

Quanto à menina, ela não era aluna do colégio... estava lá na festa como convidada de alguém - que não conheço - mas que, pelo que entendi naquele momento, morava perto daquele cantinho...

Acredite, é impossível saber quem é! Eu nunca mais vi a diaba!

Abraços!

Anônimo disse...

Eu nunca achei que você era viado!!!!
Muito pelo contrário!!!
Delícia de história, mas falou muito pouco sobre a época do poli!!
Podia falar mais (usando nomes falsos, é claro!!!) hahahhaa
Valeu pelo coment no meu blog.. novinho em folha, só tem você e a Larissa de leitores.. heheheh
Beijim
Diana

Anônimo disse...

Essa história foi show! Viagei no tempo. Me lembro como se fosse hoje aquela festa junina!
Quanto aos elogios só tenho agradecer meu amigo Diego!! Estou muito feliz na Força Aérea voando meus aviões e pricipalmente os helicópteros!
Saudades da galera e apesar de estar longe (Rio Grande so Sul) eu não esqueço de ninguém!!!!
Fernando Pinto Homem Stroligo! Aos Rotores.... o sabre!!!
Valeu Alan, Henrrique, Adalberto, Diego, Rafael Sampaio(Mr. Beam), Rubens Feijão, Aline, Alice, Betinha, Bodion, Daniel Simões, Daniel Meireles, Diego, Cheiroso, Adílio, Soraya, Ane, Tamara, Mário ( que Mário)....e todos aqules que moram no meu coração!!
Vou para o Rio em agosto e quero fazer uma festa para rever todos vcs. Fiquem com deus e até breve!!

Anônimo disse...

Meu velho, quantas saudades! Apareça! Vou pedir pra sua irmã mais nova, que é aluna lá do colégio em que dou aula, que me dê o seu e-mail pra poder falar com você!

Bom vê-lo por aqui.
Beijo grande, meu amigo!

Garfield disse...

Diego, não sabia que quando vc era criança era mlk piranha / prostituto..hahaha Tem haver com a história do DJ Tubarão no baile que tu ia né..haha
Abraço!