sábado, novembro 20, 2010

CONSCIÊNCIA NEGRA

Eu, malungo de umbandas e quimbandas, cambono de preto-velho, tocador de atabaque, de berimbau e outras macumbas, deixo o meu recado no dia de hoje - de gritar valeu, Zumbi! - feito cantador de cantiga de capoeira e batedor de jongo em caxambu.

Ocorre que a moda há algum tempo é dizer que esse Brasil de meus deuses é de todas as cores. Mas na hora de dizer que ele também é preto, calunga, o buraco é mais embaixo e o couro tem que comer; o pau tem que quebrar.

E o pau quebrou no dia em que a mocinha do IBGE pintou na casa de minha prima, Ana Carolina, querendo pintar a pele, alma e a identidade do povo daquele ilê. Ana Carolina confirmou:

- É preto! É preto, calunga! Eu também sou preto, calunga!

E a mocinha tergiversou:

- Não bota preto não! Bota pardo! Você é até clarinha!..

E saiu descontente com a afirmação da identidade afrodescendente de Ana Carolina.

É mole? O Brasil não é para principiantes.

2 comentários:

Ana Carolina disse...

E tem gente que ainda acha que não existe preconceito no Brasil...

implacavel disse...

Interessante né...tenho amigos que quando vão ao Shopping Center, entrar no Copacabana Palace, procurar um emprego se autodeclaram brancos, morenos e clarinhos.
Mas na hora de curtir uma roda de samba, ir ao ensaio da Mangueira, inscreverem-se num vestibular, ir a um candomblé se autodeclaram negros, pretinhos e mulatos.
Realmente o Brasil não é para pricipiantes....