sábado, julho 26, 2008

O NOVO MEMBRO DA FAMÍLIA

Respeitando os veneráveis desígnios de Orunmilá, eis que a família cresce com a chegada de um novo membro. Vem para trazer Ire para o lar tendo seu nome determinado por Ifá. Apresento-lhes Talumejwá - "Quem sabe o fim de tudo".


Iboruboya, Talu!

quinta-feira, julho 17, 2008

UM ROLÉ EM OLARIA

Luis Henrique tinha prometido ao João, nosso primo-irmão de 15 anos, que o levaria à festa de aniversário da sua amiga debutante em Olaria. No início daquela tarde de sábado ele calculava: se a festa estava marcada para começar às nove, ele sairia do curso no Centro às oito, chegaria em casa na Tijuca às oito e meia e partiria com o garoto pra chegar em Olaria umas nove e meia, porque inaugurar festa é coisa de gente meio sem noção. As festas nunca estão prontas na hora marcada e quem chega cedo sempre atrapalha.

Mas não podia estar tudo tão certinho. O João, que é lerdo feito um caramujo, sempre faz algo errado. Não faz muito tempo, a sua irmã Ana Carolina pediu que ele achasse um acendedor de churrasco - aquele troço às vezes rosa, às vezes branco, que vem no saco de carvão - e ele entregou uma cocada para ela. E justificou:

- Você disse que era branco!

Não satisfeito, foi pra cozinha, deixou a cocada e voltou com uma tábua plástica de carne, branca, perguntando:

- É isso, então?
Como se vê, o Luis tinha razões para desconfiar do garoto. Achou que o horário da festa estava muito tarde. Pegou o convite e confirmou suas suspeitas. A festa era às sete da noite e não às nove como o petiz havia confirmado. Com certa satisfação pela sua perícia, fechou o convite e entregou ao garoto. Mudança de planos, o Luis não iria mais para o curso. Levaria o João à festa saindo de casa ao cair da noite.

Pé na estrada rumo ao Subúrbio da Leopoldina, o endereço era a rua Paranapanema, 754. Desceram do ônibus quase na Penha e voltaram à pé. Uma caminhada desnecessária, como desnecessário se fazia aquele rolé em Olaria. Chegando no logradouro, caminharam até o número que indicava o convite. Mas onde estava o convite? Em casa. O João, inerte como uma rêmora, havia esquecido em casa. Mas tudo bem. Quem nunca entrou numa festa sem o convite ou mesmo sem ser convidado?

Fosse só esse o problema... De frente pro local da festa, Luis estranhou o que estava acontecendo. Aquilo não parecia uma festa e sim um culto evangélico. Lá da porta do Cacique de Ramos dava para ouvir o pastor, voz de exorcista, dando ordens a seu Tranca-rua e dona Maria Padilha para que deixassem os corpos das ovelhas do seu rebanho. Incrédulo, o Luis perguntou:

- João, a sua amiga é evangélica?

- Não... Quer dizer, não sei... Acho que não... Ué, mas ela dança até funk...

Em poucos segundos tocava o celular da Ana Carolina. Era o Luis perguntando o que não queria perguntar. Se preparando para ouvir o que não queria ouvir. Sem delongas, foi direto ao ponto:

- Carol, tá vendo o convite em cima da mesa?

- O que é que tem?

- Abra.

- Já abri, e aí?

- Qual é a data da festa?

Ana Carolina já gargalhava sozinha na sala de casa. O João tinha errado o dia da festa, que estava marcada para o próximo sábado, e o Luis entrou de gaiato e pelo cano nessa furada.

quarta-feira, julho 16, 2008

REAPROVEITAMENTO DE ÓLEO VEGETAL

Todo mundo já se perguntou o que fazer com aquela sobra de óleo de cozinha usado para frituras em casa. Reaproveitar para novas frituras não é a solução mais saudável, especialmente para quem tem problemas com colesterol ou para quem não quer tê-los. Por isso a melhor alternativa pode estar na reciclagem. Difícil? Nem um pouco.

Você pode armazenar a sobra de óleo vegetal em recipientes e ele é recolhido por coperativas especializadas neste trabalho. A iniciativa é louvável pois além de contribuir para a redução do despejo do óleo nos rios, lagoas e mares, tem a contrapartida social de geração de empregos para uma população de baixa renda.

O velho ditado que diz que a união faz a força é mais do que válido nesse caso. Isso porque para que as cooperativas busquem o óleo é preciso que haja uma certa quantidade reunida. Por isso o Programa de Reaproveitamento de Óleo Vegetal (PROVE), desenvolvido aqui no Rio de Janeiro, já iniciou o processo de certificação de restaurantes, escolas e condomínios.

Quem mora em prédio ou casa de vila tem, portanto, uma oportunidade de participar desse projeto. Basta ligar para o Disque-Prove (21-2598-9240) e obter as informações sobre como participar. Porque solidariedade com o meio ambiente é fundamental. Abraços!

sexta-feira, julho 04, 2008

UM CAFÉ PARA MARIA FAGUNDES

- Bahia é bom, né fio?
- É, Vó.
- Mas ela lá e ocê cá!

Era exatamente este diálogo que se repetia todas as vezes que Vovó Maria Fagundes clareava a terra com sua presença entre nós deste mundo. Como se fosse uma senha pessoal e intransferível que permitia aos seus netos reconhecê-la em sua chegada, por trás daquele homem que humilde e caridosamente servia-lhe de veículo.

Passava horas contando as histórias do seu Véio Mané, o companheiro que deu a ela dezenove filhos quando esteve nesse mundo. E além do pito, servido no cachimbo, pedia invariavelmente a sua canelinha – um licor de canela – para acompanhar a prosa em que dava conselhos aos seus netos.

E que sabedoria tinha aquela nega-velha! Desde as primeiras consultas ela me disse coisas que eu jamais fui capaz de entender por completo e outras que eu só compreendi depois de muitos anos. Coisas que são aparentemente, apenas aparentemente, muito simples, como a resposta que ela dá para a pergunta que marca a sua chegada. Porque “mas ela lá e ocê cá” pode ter significados muito complexos.

Com o tempo e o desgaste da saúde física do seu “cavalo”, vovó foi deixando de lado a canelinha e passou a pedir a “moca, sem terra”. Levou certo tempo para descobrir que o que ela pedia era um café sem açúcar. Dessa charada, a “terra” foi fácil de entender, mas o difícil foi a “moca”. Nunca compreendi porque a velha chamava o café assim e só agora começo a ter algumas suspeitas.

Segundo a lenda mais difundida sobre a origem do consumo do café, Kaldi, um pastor de cabras da região de Kafa na Etiópia, descobriu o efeito estimulante da fruta observando que seu rebanho ficava mais ágil, lépido e resistente às subidas íngremes quando pastava em áreas onde se alimentava com o café. A notícia se espalhou pela região e em pouco tempo o consumo se multiplicou.

No entanto, quase um milênio se passou desde a descoberta do pastor até que o café adquirisse a forma de consumo atual. Antes era consumido na forma macerada, misturado com banha para as refeições ou ainda na forma de um suco que, fermentado, virava bebida alcoólica. Embora o café fosse utilizado pelos etíopes, foram os árabes do Iêmen, do outro lado do mar Vermelho, que dominaram o cultivo da planta e monopolizaram seu comércio. No século XIV eles já utilizavam a técnica de cultivo em terraços irrigados.

Nessa mesma época, a expansão mercantilista inseriu o café no conjunto de especiarias de alta rentabilidade por conta do interesse despertado pelo caráter estimulante e misterioso da bebida no mercado europeu. Enquanto isso, no Iêmen, a produção aumentava significativamente. E foi na região de Mocka (al-Mucka), o principal porto do país, que a produção atingiu seu esplendor, sendo este o maior porto exportador daquele tempo.

Foram as sementes de Mocka que os holandeses levaram para seu Jardim Botânico em Amsterdã e de lá as espalharam por suas colônias. Foi também com essas sementes que eles presentearam Luis XIV e a partir delas a França passou a cultivá-las em Martinica. Da ilha caribenha, as sementes chegaram à Guiana Francesa, de onde viriam para o Brasil, trazidos por Francisco de Melo Palheta.

Não bastassem as coincidências entre a “moca” da Vovó Maria Fagundes e a Mocka, cidade que deu origem à expansão do cultivo do café pelo mundo, há ainda outra fonte de coincidências, desta vez no espaço da cidade do Rio de Janeiro. Sabe-se que boa parte da área da floresta da Tijuca foi desmatada no passado dando lugar a cultivos de café. E um dos primeiros introdutores das plantações na área foi um belga de sobrenome Moke.

José de Alencar, em sua obra “Sonhos d´ouro”, falando das belezas da floresta, cita a chácara do belga neste trecho:

Entre estas notam-se principalmente duas, a do Moke, por ser das residências mais antigas que se estabeleceram nesse aprazível sítio; e a do Dr. Cochrane, arranjada à feição de um modesto parque inglês, o que lhe atraía outrora grande número de visitantes”.

Como se vê, não é por falta de razões que a nega-velha chamava o café de moca. Mas o que espanta os mais céticos é que meu velho avô, cavalo de Maria Fagundes, não era exatamente um homem das letras, daqueles repletos de conhecimentos acadêmicos. Não. O velho, que aprendeu a assinar o próprio nome aos quarenta e seis anos de idade e só depois aprendeu a ler e a escrever corretamente, tinha a cultura do mato. Era mestre, mas do saber informal.

Prova de que sua espiritualidade imensa permitia àqueles que o utilizavam como veículo expressar suas mensagens e manifestar seus hábitos e costumes de forma clara, transparente. Quem tem demanda não dorme e eu jamais me esquecerei de Vovó Maria Fagundes, de suas histórias, seus hábitos e do seu canto cotidiano:

Pai Joaquim, cadê pai Mané?
Tá na roça colhendo café.
Diz a ele, quando vier
Pra subir na escada sem bater com o pé!

É ouro, minhas almas!

quarta-feira, julho 02, 2008

POR UM BRASIL MELHOR

Nesses tempos em que os caminhos da juventude brasileira perturbam até mesmo os mais despreocupados, pareceu-me interessante aproveitar a necessidade de aplicar uma avaliação complementar para saber o que os jovens pensam sobre o Brasil e o que esperam dele no futuro, dando-lhes a oportunidade de expressarem suas idéias. Pedi a 150 alunos do segundo ano do ensino médio que escrevessem um pequeno texto propondo ações práticas que pudessem colaborar com o processo de desenvolvimento do país, especialmente sobre as formas de apropriação e valorização do espaço nacional, focando-se as áreas de indústria e tecnologia, agricultura, energia e transportes.

Para o desenvolvimento industrial e tecnológico do país, a idéia de que há necessidade de mais investimentos em educação, tanto de base quanto tecnológica, foi a mais mencionada pelo conjunto de alunos. Foi ressaltada também por muitos a importância dos investimentos em pesquisa científica e tecnológica como um elemento capaz de criar um diferencial estratégico ampliando a capacidade produtiva e competitiva do país. Destacou-se também a proposta de desconcentração espacial da indústria pelo território nacional a fim de cria novos pólos de desenvolvimento fora do espaço do Centro-Sul.

Na área de agricultura a idéia mais defendida foi a necessidade de apropriação das terras improdutivas do país para a extensão do programa nacional de reforma agrária. Foi digno de nota, contudo, a consciência de que tal reforma precisa ser acompanhada de uma política agrícola que crie condições de cultivo e comércio aos produtores assentados. Nesse conjunto de idéias também foi mencionada a importância do estímulo à agricultura familiar por ela ser capaz de gerar a subsistência e o bem-estar do homem no campo e de fixá-lo na terra.

Sobre a questão energética o consenso ergue-se em torno da importância da diversificação das fontes de energia e da necessidade de adequação do uso das fontes às características do espaço de produção de energia. Destacaram-se a noção de que a construção de hidrelétricas de grande porte que abastecem grandes áreas gera impactos sociais e ambientais que poderiam ser minimizados pela construção de hidrelétricas pequenas voltadas para demandas locais. Foi defendida a redução do uso do carvão, do petróleo e seus derivados em favor do gás natural, com destaque para o investimento no gás nacional a fim de reduzir a dependência em relação à Bolívia. Foi proposta a expansão do programa nuclear ressaltando-se que ele deve ser cercado de cuidados com seus impactos e com os altos riscos que gera. Cabe ressaltar ainda que esses jovens brasileiros defendem o uso de biocombustíveis produzidos a partir de produtos como a cana-de-açúcar, a mamona e o dendê.

Quanto aos transportes ficou claro que eles vêem uma necessidade urgente de adequação e integração do sistema de transportes brasileiro. Compreendem que um país de longas distâncias como o Brasil não pode ter a rodovia como modelo básico e por isso defendem o uso de hidrovias, onde a geografia permite, e a construção de ferrovias que integrem não só as grandes áreas produtivas do interior aos portos mas também ao mercado interno, conectando todas as regiões do país. Destacou-se a idéia que defende a construção de estações intermodais capazes de criar uma relação de complementaridade entre os diversos meio de transporte, tendo em mente que nenhum meio de transporte é ruim quando utilizado de forma adequada. Para os transportes nas grandes cidades foi defendida a expansão dos sistemas metroviários integrados aos terminais rodoviários, o rodízio de carros e até mesmo a adoção de transportes não motorizados como as bicicletas para curtas distâncias.

É fato que nem de longe essas idéias esgotam as necessidades desse país, mas se essa geração crescer defendendo politicamente as idéias que escreve num trabalho de geografia e pondo-as em prática enquanto cidadãos no seu dia-a-dia, eu não sei bem o que dizer mas tenho pra mim que esse país promete.