domingo, setembro 28, 2008

PRA QUEM GOSTA DE NÚMEROS NO FUTEBOL

O clássico Gre-Nal de hoje foi uma decepção profunda para aqueles que são apaixonados pelas análises numéricas, matemáticas e oswald-de-andradeanas no futebol. Porque, pra esses, o time que tem os melhores números no decorrer do jogo, tem vantagens sobre o adversário. Mas nem sempre é assim, como ocorreu hoje no clássico gaúcho. Veja só se não tenho razão.

Número de faltas (aos 20 do primeiro tempo)

O jogo estava empatado em um a um, com o grêmio, que começou perdendo com um gol aos quatro minutos, batendo mais.

Inter – 2

Grêmio – 7

Aos 20 do segundo tempo as faltas estavam assim:

Inter – 15

Grêmio - 20. O tricolor gaúcho continuava batendo mais e essa é a única vantagem do Inter.

Número de finalizações  (aos 24 do primeiro tempo)

O grêmio teve o triplo de chances mas só aos 19 conseguiu o empate.

Inter – 2

Grêmio – 6

Número de passes errados  (aos 41 do primeiro tempo)

Mesmo trocando muito mais passes errados, o Inter guardou mais dois e cravou três a um no placar. 

Inter – 10

Grêmio – 7

E faria mais um aos 45.

Número de desarmes  (aos 12 do segundo tempo)

Mesmo desarmando mais, o Grêmio não consegue fazer disso uma vantagem no resultado.

Inter – 11

Grêmio – 16

E o Inter, ao contrário do que os números indicam, conseguiu o melhor resultado, goleando e até tripudiando do o adversário, com a galera gritando olé, o goleiro fazendo embaixadinha com bola recuada e o escambau. Porque, no futebol, a matemática funciona para os gols. Quem faz mais e leva menos, ganha. É simples. O resto é conversa fiada.


[ Foto: Alexandre Alliatti - globoesporte.com]

Vitória do Inter. O campeonato está mais do que embolado, com chance pra todo mundo que está na frente. Ainda mais agora que o Colorado sepultou o tricolor gaúcho no Beira-Rio.

Abraços!

quinta-feira, setembro 25, 2008

MAIS UM MORADOR

E a quantidade de moradores em minha casa só faz crescer nos últimos meses. Em julho, recebemos Talumejwá, como falei aqui. Em agosto foi a vez do Luis Henrique, meu cunhado, que está passando uns dias aqui em casa, aproveitando a calma do ambiente pra meter a cara nos estudos. E agora, em setembro, foi a vez do Picolino, um Coleiro Bigodinho que meu cunhado deu de presente para a irmã.

Lembro sempre dos coroas, amigos de meu pai e de meu avô, que criavam coleiros lá no Engenho da Rainha. Aposentados, eles levavam os passarinhos bem cedo pra tomar o sol da manhã. E no subúrbio se fazia uma sinfonia. Lá em casa nós criávamos um Tiziu e dois Gold Diamonds australianos. Lucimar, durante muito tempo, criou o Tarcísio, o papagaio que a avó dela ganhou de presente e batizou numa homenagem ao Tarcísio Meira, seu ator preferido.

Antes que os politicamente corretos me critiquem por criar uma ave selvagem em casa, explico que não soltarei o bicho pois, já que foi domesticado por aquele que o prendeu, ele não sobreviveria muito se solto nos céus da cidade. Já procurei saber tudo sobre a certificação de pássaros e vou me tornar um criador amador com registro no Ibama, substituindo a gaiolinha por um viveiro para que o mais novo membro da família tenha mais espaço.

O nome Picolino foi dado por minha digníssima. Originalmente, esse era o nome de um pinguim que aparecia no desenho do Pica-pau, e que a patroa adorava. Na infância ela ganhou um passarinho e deu à ele o nome do pinguim. Agora, relembrando os velhos tempos, ela resgata o nome do antigo passarinho e batiza o Coleiro Bigodinho de Picolino.

E não é que as cores do Coleiro são semelhantes à do pinguim do desenho? Ele tem o peito branco, as costas pretas, a cabeça preta e uma mancha branca em cada uma das bochechas, que inspiram o nome popular de Bigodinho. Vejam vocês:



E pra quem não se lembra, o desenho do Pinguim, da turma do Pica-pau.



Abraços!

terça-feira, setembro 23, 2008

EVEREST ATLÉTICO CLUBE

Fundado em 28 de abril de 1953, com sede na Rua Acari, em Inhaúma, o Everest Atlético Clube foi palco de algumas peladas que participei nos tempos de garoto. Comecei a nutrir profunda simpatia pelo clube ao saber que o seu Darci, coroa boa praça que era porteiro do meu prédio, tinha sido um dos fundadores desse atlético inhaumense. Depois, quando eu fiz a bola rolar com meus amigos por lá, o clube garantiu uma vaga especial do lado esquerdo do meu peito.

Antes que se enganem os poucos que passam por aqui, quero dizer que sou flamenguista desde sempre, mas o amor à camisa rubro-negra jamais encontrou problemas em compartilhar um espaço no meu coração com o carismático time do subúrbio. As coisas não se misturam por aqui.

Acontece que, dia desses, um aluno me surpreendeu aparecendo com uma camisa do Everest em sala de aula. Explico. O Fernando é desses que colecionam camisas de times de futebol, e nos dias de aula de educação física – que coincidem com as minhas aulas – ele leva duas ou três camisas para o colégio. Elas ficam expostas na sala para, como ele diz, embelezar o espaço de aula. Jamais reprimi tal gesto, e até estimulo, pra conhecer a diversidade da coleção do garoto de perto.

Então, cheguei na sala e dei de cara com o manto amarelo e azul. Reconheci a camisa imediatamente. Olhei pro Fernando e fiz uma pergunta que só eu sabia que era retórica:

- O que é isso?

Ele prontamente respondeu:

- Essa é do Everest, clube da terceira divisão do Rio, professor.

- Eu sei – respondi, já com a camisa nas mãos.

- Conhece? – ele perguntou, ignorando minha história com o clube.

- Claro, claro – respondi com olhos de menino.

Não conseguia parar de sorrir. Um sorriso largo e mudo, de quem é transportado para a infância, vivendo um instante daqueles que, se a gente pudesse, eternizava. Não sei de onde veio a idéia ou como surgiu, mas quando vi, eu já tinha sacado o celular do bolso e depositado nas mãos do Fernando, pra ele, ao menos em parte, eternizar aquele momento.

- Bate! – disse.

E ele fez isso aqui, ó:


Abraços!

quarta-feira, setembro 17, 2008

VELHOS AMIGOS

Raramente a vida me presenteia com o encontro de velhos amigos. Nos últimos anos tenho feito alguns poucos mas bons amigos, no entanto vi muito pouco aqueles que me cercaram na infância e na juventude. Alguns compareceram ao meu casamento. Outros casaram-se e eu pude comemorar com eles seus enlaces. E há aqueles que eu encontrei por sorte, sem data marcada, porque o destino quis. Quem estiver atento vai perceber nesse texto que foi através dos meus amigos que eu conheci os recantos mais belos do subúrbio, meu berço e inspiração.

Em dezembro de 2006 o meu velho amigo Daniel Simões casou-se com a amiga Marina. Foi motivo para o encontro de vários amigos, registrado aqui.

Da esquerda para a direita: Daniel Meirelles, Carlos Bojon, Aline Maia (atrás), Daniel Simões (o noivo, vestindo a farda da FAB), Alice Barreiros, Rubens e eu. Falei de todos eles e de outros amigos quando escrevi A SANTA DA RUA AIERA E OUTROS CASOS (leia aqui). Com eles, e outros amigos, eu conheci melhor a Vila Kosmos, a Vila da Penha, o Largo do Bicão, Vista Alegre e Irajá, entre outras freguesias.

Daniel é o nome de alguns dos poucos sujeitos que eu considero como meus melhores amigos. O Simões e o Meirelles, na foto, certamente fizeram parte desse time. O Meirelles, sempre excelente aluno em matemática, fez CEFET e acabou indo parar na Suíça, fazendo experimentos com anti-matéria. Voltou para casar-se com a Polyanna, em fevereiro de 2007. O Simões, que sempre sonhou pilotar caças e até me levou na Base Aérea de Santa Cruz, onde entramos num F-5, viveu duas vezes o esforço de passar para a EPCAR (na primeira foi reprovado injustamente por um problema de joelhos que não existia) e depois encarou quatro anos de Academia da Força Aérea. Depois de casar-se foi para Roraima, onde está até hoje.

Rubens e Carlos Bojon sempre foram camaradas pra toda hora. Certa vez, no treino para uma apresentação de capoeira na escola, eu quebrei o nariz do Rubens com um toque muito leve no rosto. Nervosíssimo, chamei a professora Miriam, de ciências, que já foi dessa pra melhor, deixando saudades por aqui. Ela ajudou a conter o sangramento e eu acabei fazendo a exibição de capoeira com outro camarada, o Felipe Barreto, que eu encontrei pela última vez, por acaso, em 2000.

Quem tem a sorte de ter como amigas os dois primeiros amores da vida? Eu tenho. A Alice Barreiros e a Aline Maia, que embalaram as emoções que vivi entre os doze e os treze anos de idade, são daquelas pessoas que eu só esqueceria se fosse um canalha. Porque o tempo passa e algumas pessoas fogem de nossa memória, mas essas amigas não.

E como é bom ter os amigos dentro de casa. Desde que nos casamos, eu e Lucimar - minha digníssima senhora – temos nos esforçado para trazer nossos velhos amigos pra cá. E eles vieram várias vezes, o que sempre nos alegrou muito. No ano passado recebemos essa turma aqui:

Da esquerda para a direita: Lívia, Viviane, Anne (em pé), eu (sentado), Lelê (agachado), Tatiana, Daniela (no colo) e Daniel. Com eles, e outros amigos, eu me inebriei da verve suburbana. Passei por Manguinhos, onde nos conhecemos, por Ramos, Olaria, Penha, Cordovil; pelo Méier, Engenho de Dentro, Deodoro, Realengo... E também por Niterói, São Gonçalo, Itaipu e pela Baixada, de onde veio minha digníssima senhora, que é Nilopolitana e me fez conhecer melhor a Pavuna, Anchieta, Ricardo de Albuquerque, Olinda e, claro, Nilópolis.

Há, aqui, um encontro de gerações. Explico. Todos nós passamos pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, em Manguinhos, e nos formamos técnicos em saúde. Exceto eu, claro, que saí da escola e segui o caminho que me levou à geografia. O Lelê é o mais antigo e foi aluno da Turma 91. Nós nos identificávamos assim porque a escola, fundada em 86, só tinha uma turma de trinta alunos por ano, num curso que durava quatro anos. Quando eu e o Daniel chegamos, na Turma 97, ele já era professor da escola. Daniel hoje também é professor da lá e trabalha com o Lelê. Eles são professores do meu primo João (leia o que escrevi sobre ele aqui). As meninas são da Turma 93, da qual fez parte minha digníssima senhora. Minha irmã, que não esteve nesse dia conosco, foi da Turma 94.

De certa maneira, todos fizeram parte da minha juventude, especialmente Daniel, que em questão de semanas virou um novo irmão. A ele eu ensinei os primeiros acordes do violão, que hoje ele toca com maestria. Freqüentei sua casa com a assiduidade de um membro da família. Dormia, ou caía, como dizíamos, lá pelo menos umas três vezes por semana, deslizando os dedos no braço do pinho até altas horas. Sua mãe virou minha mãe. Seu pai, meu pai. Seus primos, tios e avós, todos viraram meus parentes e eu conheci os caminhos e mistérios da Ilha do Governador. Nando, Vitor e Gordinho, grandes amigos desses velhos tempos, completavam aquilo que foi nossa banda até uns sete anos atrás.

E no último sábado eu tive a felicidade de encontrar um amigo da mais tenra idade. O Bráulio, ou gaguinho, era meu vizinho de porta, eu no 101 e ele no 102 do bloco 4 do PREV, na antiga Estrada Velha da Pavuna, no Engenho da Rainha. Durante a semana inteira a gente vivia uma coisa que só é possível no subúrbio. As duas portas, coladas uma na outra, passavam a semana inteira abertas. Minha mãe, sem bater, entrava no 102, abria a geladeira e pegava uma cebola emprestada. A saudosa mãe Fátima, mãe do Bráulio e do Bruno, que todo dia cozinhava bebendo uma cerveja gelada, fazia rigorosamente o mesmo lá em casa. E elas se anunciavam apenas assim:

- Ô, vizinha, vim aqui no Paes Mendonça e peguei uma cebola, tá?
- Ah, tudo bem! Daqui a pouco eu vou ali no Disco buscar uma batata.

Era assim. A geladeira da vizinha era o mercado mais próximo de casa e funcionava na base da troca. Só mudavam, de vez em quando, os nomes dos mercados. As vezes era Guanabara, Supermercados Rio, Rainha... Os rádios ligados tocando os LP`s das Escolas de Samba. O dia inteiro. Todo mundo mangueirense roxo. Roxo, não. Verde e rosa. O pai Jorge, o Camarão, era mangueirense mas foi um dos fundadores da Caprichosos de Pilares que, pela simpatia que eu tinha por ele, sempre foi minha segunda escola. Aqui o registro do encontro com o Bráulio, no último sábado.

Com esse irmão eu aprendi muita coisa. Se você, leitor, notar bem, verá que o Bráulio chora com o reencontro. Ele se emocionou, como eu também, com as lembranças daqueles tempos de outrora, com as memórias das estações vividas naquele Parque Residencial da Estrada Velha. Da guerra de água e de amêndoas. Do polícia e ladrão e do pique - esconde com mais de cinqüenta garotos e garotas; do futebol e da sangria no parquinho; da conquista do topo das árvores escaladas; das escorregadas com papelão nas gramas inclinadas; das aventuras ilícitas invadindo a piscina no ano novo e a quadra de futebol depois das dez da noite; e outras experiências que formaram nosso caráter, suburbano até as vísceras.

E com ele vou conhecer mais da freguesia de Campo Grande, onde hoje mora esse velho amigo, pai de cinco filhos e marinheiro do cais da Barão de Mauá. Fica registrada aqui a promessa de visitar o seu quintal, Gaguinho!

Para os meus amigos, velhos e novos, de quem eu falei aqui ou não, deixo o meu caloroso abraço, desejando que nos reencontremos em breve.

quinta-feira, setembro 04, 2008

O GOL QUE O LÉO MOURA NÃO FEZ

Os jogos do rubro-negro da Gávea não têm sido para torcedores cardíacos e vêm deixando os torcedores mais fanáticos hipertensos, até os que não são. E na noite de ontem não foi diferente. Encarando o Figueirense, freguês que perdeu de cinco a zero para o Mengão no Maraca, pelo primeiro turno do brasileirão deste ano de 2008, o escrete fez um primeiro tempo emocionante, principalmente porque dominou o jogo e guardou dois gols, um aos 18' e outro aos 40', sem deixar espaço para o adversário trabalhar. Um jogo primoroso, com uma escalação que incluiu três homens jogando como zagueiros e três como atacantes. Fim do primeiro tempo.

O segundo teve outra cara. Pior para a nação rubro-negra que viu o time apático tomar um gol aos 5' e ser fortemente pressionado durante os vinte e cinco minutos iniciais. Mas pra espantar o calor do Figueira bastou fazer mais um gol aos 34'. Bola na área, toque de cabeça pro meio do bololô, Marcelinho Paraíba cabeceia pro chão, o caroço resvala no pé direito do arqueiro e sobra para o moicano Léo Moura guardar no fundo do barbante e sair pro abraço. O Flamengo ainda tomou um gol aos 47', numa jogada individual mas garantiu a vitória e os três pontos. É o que importa, diriam aqueles que comentam o futebol exclusivamente segundo a perspectiva da matemática dos pontos, aqueles que usam expressões como G-4 e outras pederastias. Daqui a pouco vão chamar a Série A de G-20 do futebol brasileiro.

Só que nesse jogo um lance, que não resultou em gol, foi mais importante do que os outros. Foi o gol que o Léo Moura não fez, chutando de dentro do grande círculo na direção do gol ao ver que o goleiro adversário estava ridiculamente adiantado. A bola subiu pouco nos céus e ao descer não tomou o rumo do gol, passando, caprichosa, a menos de um palmo da trave, o que fez o goleiro voltar correndo pro gol e cair catando cavaco, todo estabanado lá dentro do saco de barbante. De tão perto, o banco de reservas chegou a comemorar o golaço que o moicano teria feito. Mas não fez. Precisei abrir mais uma cerveja pra suportar a pressão. Aliás, tenho enchido a caveira de forma industrial durante os certames do meu time.

E o que o Léo Moura fez - sem dúvida o lance mais bonito do jogo e talvez do futebol brasileiro nos últimos meses, depois daquele come desconcertante do Robinho num defensor do Equador, em pleno Maraca - foi uma daquelas jogadas que conferem magia ao esporte bretão. Foram eternos aqueles dois ou três segundos em que a bola viajou pelo espaço. Tivesse sido mais curta a trajetória da parábola descrita pela bola... tivesse sido maior a força de atrito com o ar... tivesse sido maior o vento contra...

Que importa? Fodam-se a parábola, o atrito e o vento contra. O irreal, aquilo que não é, pode ser maior e muito mais importante do que o real, aquilo que é, exatamente por que ele alimenta o desejo de transformar o não-ser em ser, porque permite sonhar imaginando a celebração de uma glória não obtida, por que essa ilusão nos faz meninos de novo, e nos faz reis de novo, ainda que só por alguns instantes, e só dentro nós.

No vídeo, os gols do jogo, os melhores momentos e, claro, o gol que o Léo Moura não fez. Recomendo assistir com o volume zerado pra não ter que ouvir as merdas que os comentaristas cospem.

Abraços!