É assim. Eventualmente eles aparecem com perguntas absolutamente fora de propósito. Às vezes são simpáticos, outras, inconvenientes. Mas na maior parte das vezes eles são é curiosos mesmo. Querem conhecer um pouco mais sobre nós, seus professores, que aos poucos nos tornamos seus ídolos.
Na sexta-feira antes do carnaval entrei em sala já no esquema dos súditos de momo. Dei minhas aulas especialmente eufórico e as terminei saudando os alunos e gritando:
- Evoé!
Curioso foi que, ao longo do dia, surgiram aqui e ali algumas perguntas meio fora de lugar, absolutamente sem relação com a matéria. No final de uma das aulas, enquanto recolhia o meu material, um aluno se aproximou e perguntou:
- Professor, você é casado?
Respondi que sim, há quase quatro anos, e ele sorriu. Respondeu simplesmente:
- Pô, maneiro...
O rapaz, que não tinha me dirigido nenhuma pergunta direta desde o início do ano, denotou naquela curta resposta uma surpresa positiva com o fato de eu ser casado. Entendi pelo tom da voz que a surpresa se devia ao fato de que eu sou jovem para ser casado.
Quem me conhece pessoalmente sabe que eu não aparento ter 26 anos. Com cabelos sem corte e barba por fazer costumo ganhar uns dez anos a mais pela aparência. No mínimo. Tenho cortado o cabelo e feito a barba com maior frequência, o que somado à perda de peso recente, tem me aproximado mais da minha idade real. Daí a surpresa do rapaz. Mas, convenhamos, não é das perguntas mais absurdas, apesar do seu caráter essencialmente pessoal.
Em outra turma, enquanto fazia o mesmo ritual de recolher o meu material, uma aluna se aproximou e perguntou:
- Professor, você é comediante?
A surpresa foi toda minha dessa vez. Respondi que não de forma contumaz e mesmo assim não fui capaz de convencer a moça. Ela retrucou:
- Eu tenho certeza que te vi no teatro numa comédia em pé. O cara era igual a você, falava igual a você, fazia os mesmos gestos que você...
Interrompi pra afirmar peremptoriamente:
- Não, eu não sou ator e você não me viu atuando em uma comédia em pé.
Ela, ainda duvidando, perguntou pela última vez:
- Sério? Jura que não era você?
Fiz com a cabeça que não e saí pela porta da sala achando aquilo totalmente inusitado. Eu, ator de comédia em pé... Ninguém merece.
Última aula do dia e eu já do jeito que momo gosta. Deixei uns escritos no quadro e fui fazer um três-meia-zero pela sala pra ver quem estava copiando a matéria ou quem estava só engalbelando. Dei um esporro básico aqui, um peteleco na orelha ali e, de repente, uma aluna me chama.
Passei entre duas carteiras e me aproximei, mas não muito. Ela fez com a mão como quem diz que precisa falar de perto, pra poucos ou ninguém mais ouvir. Não concedi-lhe o privilégio e parei a três passos de distância. Sinalizei como quem diz que dali não passaria. E ela perguntou:
- Professor, você é de algum orixá?
- Eu sou de Babá - respondi.
- Sério? - ela devolveu.
- É. Por isso o branco - disse alisando minha camisa.
- É, eu percebi. Mas eu notei pela pulseirinha que você usa.
Ela fazia alusão ao idefá, pulseira de contas verdes e amarelas consagrada aos iniciados em primeiro grau no culto de Ifá-Orumilá. Eu, consagrado Awofakan ti Orumilá desde meados do ano passado, jamais removi meu idefá, essencial para o reconhecimento dos iniciados no culto do grande orixá da sabedoria, além de outras funções de relevância espiritual.
Não foi a primeira vez que fui inquirido sobre minha religião ou sobre meu casamento. Não raro eles, os alunos, atentam para os sinais, como a aliança, o idefá e as blusas brancas que tenho usado invariavelmente pra trabalhar. A novidade dessa sexta-feira momesca ficou com a concentração de tantas perguntas extras num mesmo dia e com a semelhança com um ator de comédia em pé. Comediante, eu? Faça-me o favor...
Abraços!
Na sexta-feira antes do carnaval entrei em sala já no esquema dos súditos de momo. Dei minhas aulas especialmente eufórico e as terminei saudando os alunos e gritando:
- Evoé!
Curioso foi que, ao longo do dia, surgiram aqui e ali algumas perguntas meio fora de lugar, absolutamente sem relação com a matéria. No final de uma das aulas, enquanto recolhia o meu material, um aluno se aproximou e perguntou:
- Professor, você é casado?
Respondi que sim, há quase quatro anos, e ele sorriu. Respondeu simplesmente:
- Pô, maneiro...
O rapaz, que não tinha me dirigido nenhuma pergunta direta desde o início do ano, denotou naquela curta resposta uma surpresa positiva com o fato de eu ser casado. Entendi pelo tom da voz que a surpresa se devia ao fato de que eu sou jovem para ser casado.
Quem me conhece pessoalmente sabe que eu não aparento ter 26 anos. Com cabelos sem corte e barba por fazer costumo ganhar uns dez anos a mais pela aparência. No mínimo. Tenho cortado o cabelo e feito a barba com maior frequência, o que somado à perda de peso recente, tem me aproximado mais da minha idade real. Daí a surpresa do rapaz. Mas, convenhamos, não é das perguntas mais absurdas, apesar do seu caráter essencialmente pessoal.
Em outra turma, enquanto fazia o mesmo ritual de recolher o meu material, uma aluna se aproximou e perguntou:
- Professor, você é comediante?
A surpresa foi toda minha dessa vez. Respondi que não de forma contumaz e mesmo assim não fui capaz de convencer a moça. Ela retrucou:
- Eu tenho certeza que te vi no teatro numa comédia em pé. O cara era igual a você, falava igual a você, fazia os mesmos gestos que você...
Interrompi pra afirmar peremptoriamente:
- Não, eu não sou ator e você não me viu atuando em uma comédia em pé.
Ela, ainda duvidando, perguntou pela última vez:
- Sério? Jura que não era você?
Fiz com a cabeça que não e saí pela porta da sala achando aquilo totalmente inusitado. Eu, ator de comédia em pé... Ninguém merece.
Última aula do dia e eu já do jeito que momo gosta. Deixei uns escritos no quadro e fui fazer um três-meia-zero pela sala pra ver quem estava copiando a matéria ou quem estava só engalbelando. Dei um esporro básico aqui, um peteleco na orelha ali e, de repente, uma aluna me chama.
Passei entre duas carteiras e me aproximei, mas não muito. Ela fez com a mão como quem diz que precisa falar de perto, pra poucos ou ninguém mais ouvir. Não concedi-lhe o privilégio e parei a três passos de distância. Sinalizei como quem diz que dali não passaria. E ela perguntou:
- Professor, você é de algum orixá?
- Eu sou de Babá - respondi.
- Sério? - ela devolveu.
- É. Por isso o branco - disse alisando minha camisa.
- É, eu percebi. Mas eu notei pela pulseirinha que você usa.
Ela fazia alusão ao idefá, pulseira de contas verdes e amarelas consagrada aos iniciados em primeiro grau no culto de Ifá-Orumilá. Eu, consagrado Awofakan ti Orumilá desde meados do ano passado, jamais removi meu idefá, essencial para o reconhecimento dos iniciados no culto do grande orixá da sabedoria, além de outras funções de relevância espiritual.
Não foi a primeira vez que fui inquirido sobre minha religião ou sobre meu casamento. Não raro eles, os alunos, atentam para os sinais, como a aliança, o idefá e as blusas brancas que tenho usado invariavelmente pra trabalhar. A novidade dessa sexta-feira momesca ficou com a concentração de tantas perguntas extras num mesmo dia e com a semelhança com um ator de comédia em pé. Comediante, eu? Faça-me o favor...
Abraços!