quarta-feira, setembro 28, 2011

TIA DILA

Se há algo indispensável para uma infância plena é o contato com os avós. Tive o privilégio de viver a minha infância morando no mesmo prédio que os meus - um andar abaixo dos avós maternos e quatro andares abaixo dos avós paternos, no bloco 4, do número 4800, na antiga Estrada Velha da Pavuna, atual Adhemar Bebiano, no Engenho da Rainha.

Não bastasse as que eu já tinha, a vida quis me dar de presente outras avós. Dentro da minha casa, por quase dezoito anos, viveu Tia Vivi, minha tia-avó, mãe da minha madrinha de batismo, irmã mais velha de minha avó paterna Océlia. Tia Vivi é, agora, a única viva de sua geração na família de minha avó.

No final do corredor, Vó Lurdes, mãe da minha madrinha de consagração, a Léinha, com quem passei muitas tardes, recebi parte dos meus valores e descobri que é possível amar alguém que não é da nossa família como se fosse.

No Jardim América vivia uma flor, outra avó que a vida me deu. Flor que viveu o inverno da vida nos últimos meses e floresceu para uma vida nova de encantamento no raiar dessa primavera. Tia Dila, minha tia-avó, também irmã de minha avó Océlia.

Tia Dila tinha que ser minha avó. Na infância de papai, num tempo de vacas - de tão magras - raquíticas, vovó Océlia simplesmente não tinha como criá-lo. Papai foi morar com Tia Dila e Tio Carlos, que foram mãe e pai para ele. Os dois foram chamados de "mãe" e "pai" por ele até o último dia de cada um.

Na foto, Tio Carlos e Tia Dila à esquerda. Papai e Mamãe ao centro. À direita, tia Maria, irmã do vovô Moreira, e seu marido, tio Walter.

De nossa infância recordamos da farra no quintal da casa no Jardim América, das visitas frequentes de Tio Carlos e Tia Dila, ele com seu fusquinha branco. O telefonema não faltava para saber de nós, os pequenos. Bastava saber que estávamos meio assim-assim, e eles dois apareciam, carregados de frutas, legumes...

Tia Dila, sempre muito doce, amável. Tio Carlos, sempre adoravelmente desbocado (Puta que pariu! Esse moleque tá grande pra caralho!), e sempre rezando por todos. Tio Carlos passava horas rezando. Pensava em cada filho, cada neto, cada sobrinho, cada sobrinho-neto... E por nós pedia.

Agora que Tia Dila se encantou, rezo pra que os dois estejam juntos, muito bem. Merecimento não lhes falta.

segunda-feira, setembro 05, 2011

SAMBA DO IRAJÁ - O SAMBA COMEÇA

E depois da homenagem do Mizinho para a sua Maria Cristina, o samba começa. Quente! Eu entro tocando o "ovinho" aos 27 segundos. Largo pra correr o salão com a cãmera e depois pego de volta. O povo gsta da festa. Confira:







Até!

terça-feira, agosto 30, 2011

SAMBA DO IRAJÁ

Já falei uma enormidade de vezes dos "Sambas do Irajá" que rolam de quando em vez no Doce Refúgio, quintal da família de minha senhora e meu saudos sogro, o velho Mizoca, malandro que só. A "Série - Samba do Irajá", na coluna ao lado dá conta disso e cresce com essa postagem de hoje.

No último domingo foi celebrado o aniversário da Maria Cristina, ou simplesmente Tina, com ela é carinhosamente apelidada por todos. E teve samba, claro.

De início as palavras do Jorge Moreno pediram um minuto de silêncio e prece pelos mais velhos tio Dica e tio Tonga, ambos irmãos do mestre Nei Lopes, que estão hospitalizados. E depois a emoção do momento aumentou ainda mais com a bela homenagem feita pelo meu cunhado Mizinho à sua esposa, a aniversariante Tina.

Foi bonito de doer e muita água rolou dos olhos de quem ama aquele povo. O vídeo a seguir mostra esta bela homenagem do Mizinho à Tina. Vejam só.



Depois tem mais, que o samba rolou bonito! Até!

segunda-feira, julho 25, 2011

DE ONDE EU SOU?

Perguntaram, de supetão, de onde eu sou. Não soube responder de pronto. Pensei um pouco e o pouco que eu pensei foi muito pro sujeito, que desconversou e depois foi embora.

Eu sou da Estrada Velha, da Cidade Nova, da rua Bela, do Engenho do Mato. Sou da Leopoldina, da Linha Auxiliar, do Amorim e do Mandela.

Sou da Zona Norte, sou do Subúrbio da Central. Sou da Ilha, do Galeão, da Cambaúba, Praia da Bica. Jardim Carioca, rua Adélia. Sou do Cacuia, Cocotá, Tauá, Bancários, Freguesia, Bananal, INPS, 200 - preço do ônibus!

Sou de Madureira, do Mercadão, do Polo 1, cinema no Shopping São Luis. Sou da quadra do Império, da Estrada do Portela, da Carolina Machado, viaduto Negrão de Lima.

Sou da Meriti, de Vila Kosmos, Praça Aquidauana, da Santa da rua Aiera. Sou da Marco Polo, do Largo do Bicão, da rua Tejupá, da Escola Grécia.

Sou da São Félix, da Lona João Bosco. Sou da Padre Roser, da Paratinga, da Vila Pureza. Sou de Irajá, do cimento branco, do Pau Ferro, Honório de Almeida, rascunhei uns sambas por lá.

Sou de Vicente de Carvalho, bacalhau do Neca, Igreja do Carmo, matinê do Mello, tirava onda, peitoral malhado. Sou de Vaz Lobo, antigo Barros Nascimento, pertinho do Carmela Dutra, muita coxa grossa, me fiz homem por lá.

Sou da Penha, rua Augusto Zanoni, da Lobo Junior, calcinha no outdoor. Sou de Brás de Pina, Arapogi com Francisco Enes, rua Suruí, Mangueirinha.

Sou de Manguinhos, 903, Leopoldo Bulhões, Barbearia do Manel, deixei muito cabelo lá. Tia Janete, Sizenando Nabuco, caminhão do Mozart, terreiro do velho Vieira - seu Pedra Preta dono do Gongá. Sou do Poli, da Fiocruz, fiz muito amigo lá.

Sou do Engenho da Carlota Joaquina desde molequinho. Do Prev, dos Bancários, da pedreira, do Marronzinho. Sou do Conjunto dos Músicos. Pixinguinha, Dona Ivone e Bide também são. Assim como Mestre Marçal, Almir Guineto, Zé Kéti, Baianinho e Jamelão.

Sou do Méier - quem é de lá não bobéier. Don Chopp, Aristides Caire, Dias da Cruz. Arquias Cordeiro, rua Soares, 3 anos no Visconde de Cairu. Imperator, Hermengarda, Pedro de Carvalho, sou da Boca do Mato.

Sou do Arranco do Engenho de Dentro, Adofo Bergamini, rua Pernambuco, Daniel Carneiro, Clarimundo de Melo. Sou do Engenho Novo, Dona Romana, Grão Pará e Cabuçu.

Sou de Cascadura, do Sargento, Ernani Cardoso, Sidônio Pais, sou da Mendes de Aguiar. Sou do Rocha, da Ana Néri, Dr. Garnier. Sou do Jacaré, rua Lino Teixeira, mamãe nasceu lá.

Sou de Honório, Bento Ribeiro, rua João Vicente - tanto casarão bonito. Sou da Intendente, das flores do Valqueire.

Sou do Campinho, rua Maria José, Praça Seca e Largo do Tanque - caminho antigo da Barra sem Linha Amarela. Sou da Freguesia, Geremário Dantas, Três Rios, Gabinal.

Sou de Cavalcante, da Silva Vale e da Laurindo Filho, a rua da feira: Sergio Cabral (o pai) nasceu por ali. Sou da Suburbana, Cachambi, rua Garcia Redondo - meus padrinhos moravam lá.

Sou de Pilares, Abolição, ladeira do Rei do Bacalhau. Piedade, Gama Filho, São Jorge Guerreiro de Quintino, minha catedral.

Sou do Quitungo, Shopping 3000, Palanca Negra, moela com pimenta e roda de viola no terraço do Cabeça. Sou de Realengo, Lona Gilberto Gil, Avenida Santa Cruz, Pedra Branca, praça de Bangu. Já morguei no sete-sete e no nove-dezessete. Acendi vela no Murundu.

Também sou da Tijuca, dos Barões. São Francisco, Mesquita, Itapagipe, Iguatemi e Drummond. Sou da Conde de Bonfim, da Guaxupé, sou do Rio Maracanã. Sou do Rio Joana e do Trapicheiros. Sou da Xavier de Brito, do Momo, do Pavão. Gabizo, Heitor Beltrão, Haddock Lobo, Almirante Gavião.

Sou da Pavuna, de São João, Tomazinho. Nilópolis via Rio do Pau. Sou da rua Carmela Dutra, sou da Mirandela, do buraco da estação. GP Haroldo Barbosa, Olinda, Lona Carlos Zéfiro de Anchieta, via Ricardo. Nova Iguaçu, Comendador Soares (heptavô dos meus filhos), Morro Agudo. Já joguei bola por lá.

Sou do Largo das Cinco Bocas, da rua Barreiros, Veterinária Lassie, clínica Balbino. Rua Firmino Gameleira, é de lá que vêm os Moreira. Rodoviária de Caxias, parque Araruama. Jardim América, rua Atílio Parim. Ralaram muito pra eu estar aqui.

Sou da Praça das Nações. Paris, Londres, Bruxelas e Nova York. Sapataria Elite, Bolinho de Bacalhau no Capelinha, na Cardoso de Moraes, força do hábito do meu avô, o velho Dutra de Moraes.

Sou da Estrada da Itaoca, do Itararé, rua Régio. Praça de Inhaúma com a Anastácia na mordaça, padre Januário, Canitar, rio Faria Timbó.

Sou da Vila, do Boulevard, da Praça 7. Geografia na UERJ, meu peito é verde e rosa. 24 de maio ou Radial Oeste. Sou da Praça da Bandeira, rua do Matoso, galeto com cerveja melhor não há.

Sou dos becos por onde andei e dos lugares por onde amei.

Sigo a bússola. Meu caminho é a Zona Norte. Sou do Rio de Festas, Macumbas, Entrudos e Bruxedos. Sou do Rio sem postais, dos safáris dos desbravadores de além-túnel, da pelada no campinho de terra.

Sou de onde vem o ziriguidum da cidade-mulher. Eu sou do subúrbio do Rio de Janeiro.

Até!

terça-feira, maio 24, 2011

DEZ POR CENTO DO PIB JÁ: RESOLVE?

Sou professor. Vivo atualmente uma das muitas realidades da educação brasileira: a das escolas particulares que prezam pelo ensino de excelência. Vivi também essa realidade enquanto estudante do ensino fundamental. O que me permitiu conhecer de dois lados essa face da nossa educação que infelizmente abarca tão poucos de nós.

Conheci a realidade das escolas públicas também como aluno, no ensino médio. Frequentei duas escolas, uma federal e técnica, e a outra da rede estadual e de modelo convencional, ambas no subúrbio do Rio de Janeiro. Enquanto concluía meu ensino médio eu já sabia que seria professor e compartilhava os dramas de meus mestres - bravos batalhadores pela educação pública de qualidade. E por eles fui reconhecido como um parceiro de jornada desde então.

Abordo o tema movido pela campanha que circulou no último domingo, 22 de maio, pelas redes sociais, especialmente pelo twitter, em que as pessoas pediam que os investimentos públicos em educação passem a ser equivalentes a 10% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. A campanha foi projetada pela entrevista da professora Amanda Gurgel no programa do Faustão e pelo uso da hashtag #dezporcentodopibja no twitter.

Sou um entusiasta do aumento dos investimentos que permitam uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Tenho certeza que muita coisa poderia melhorar se a educação recebesse mais investimentos do que recebe atualmente. Mas não tenho certeza de que a solução dependa dessa simples matemática financeira. Acredito que um certo caminho deve ser dado a esses investimentos e isso passa pela minha concepção do que é a educação.

Creio firmemente que as condicionantes para uma educação de qualidade surgem ainda na gestação da criança. Por isso, a primeira reforma educacional deveria beneficiar a saúde da mulher e especialmente o cuidado com a gestante. Um pré-natal bem feito é luxo para poucos. Sou pai de uma recém-nascida e de um infante com um ano e meio. Conheço essa realidade, graças a Deus na melhor de suas faces. Os primeiros meses de vida devem ser um momento muito tranquilo para a mãe e para a criança. O que é muito difícil quando as pressões do mundo do trabalho ameaçam as mães e suas licenças de maternidade.

Eu pretendia argumentar sobre cada aspecto que julgo fundamental para a melhoria da educação porém não vou mais. Pra que isso não se torne interminável e insuportável ao leitor.

Acredito que a melhoria da educação passa, então, pela saúde da mulher. Pela gestação acompanhada. Pela amamentação tranquila e o mínimo de seis meses de licença maternidade para todas as mães. Os pais também mereceriam o mínimo de 1 mês de licença. Os atuais cinco dias corridos são uma vergonha e as mulheres precisam de muito apoio nesse primeiro momento.

Se quiserem uma educação de qualidade, precisarão combater todos os aspectos que comprometem a saúde infantil. Crianças subnutridas, sem vacinação e acompanhamento pediátrico terão a capacidade de aprendizagem comprometida, não importa quanto ganhem seus professores e a qualidade da estutura das escolas em que estudem.

Se quiserem uma educação de qualidade, deverão enxergar a função das creches de maneira diferente. Elas não são depósitos de filhos de mães que trabalham. Não são playgrounds. Uma creche bem estruturada e com equipe bem formada e capacitada pode fazer mais por uma pessoa no desenvolvimento de suas habilidades e competências do que uma universidade. Como educador, estou convencido disso.

Se a educação recebida até a conclusão do ensino fundamental for de alta qualidade, as próximas fases serão encaradas com maior facilidade ao passo que a baixa qualidade da educação nesse momento limita as condições para o desenvolvimento futuro dessas pessoas. Em qualquer modelo decente de educação, os professores dessa etapa deveriam ser tão bem pagos quanto professores universitários.

Mas o desafio para essa fase vai além de alcançar melhor remuneração para os profissionais da educação. A dificuldade de muitos educadores está na falta de estrutura do espaço escolar. Falta o essencial: carteiras, livros, cadernos, uniformes, giz, quadro negro, luz elétrica, água, banheiros, ventiladores. Aliás, essa é uma realidade que se estende, em muitos casos, até o ensino universitário. Nesse sentido, as verbas são bem-vindas. Assim como são bem-vindas as boas iniciativas dos administradores escolares, a boa gestão escolar, inclusive das verbas.

É preciso fazer com que os alunos consigam frequentar a escola. O trabalho infantil e a insuficiência somada a precariedade do transporte escolar são obstáculos que precisam ser vencidos. Não há educação de qualidade possível à criança que trabalha e à criança que se vê obrigada a caminhar léguas para estudar.

Se quiserem uma educação de qualidade, os professores precisarão ser bem formados e constantemente reciclados. Nesse sentido as universidades cumprem papel fundamental. Para melhorar a formação dos professores é preciso melhorar as condições de trabalho de quem forma esses professores e incentivar suas pesquisas.

Se quiserem uma educação de qualidade, os livros deverão tornar-se mais acessíveis. Se a qualidade das produções editoriais no Brasil aumentou nos últimos anos, os preços subiram também. Um bom livro didático de volume único para o ensino médio não custa menos do que cem reais. Tanto eles quanto os que não são didáticos - mas que ensinam tanto quanto ou mais do que eles - estão fora da realidade financeira de grande parte dos brasileiros.

Se quiserem uma educação de qualidade, os pais dos estudantes precisarão entender que as aulas de educação física, artes visuais, música, teatro e filosofia são tão importantes quanto as de matemática, português, física, química e biologia. Devem ensinar seus filhos a valorizá-las. Afinal, além de seus valores próprios, música e artes visuais ajudam a entender matemática; filosofia ajuda a entender física e química; teatro ajuda a entender português e literatura; e educação física é fundamental para que os jovens aprendam a lidar com o próprio corpo, que na idade escolar está em constante transformação, raiz de dramas profundos da juventude.

Aliás, o papel dos pais na educação das crianças não pode ser esvaziado. Deve ser ampliado. Se a escola é um espaço para formação de uma sociedade mais ética e cidadã, a família também tem seu papel a cumprir. Os pais devem transmitir o corpo familiar de valores aos seus filhos. Devem cuidar, importar-se com seus filhos e demonstrar que se importam com eles. Saber que é amado pelos pais contribui pra auto-estima e segurança da criança, o que se reflete em seu rendimento escolar. Afeto: um patrimônio imaterial de valor inestimável e que não custa nada doar.

Com crianças bem cuidadas desde a gestação, com as mães tranquilas para se dedicar aos seus filhos por um período mínimo pós-parto, com creches e escolas bem estruturadas, professores bem formados, bem remunerados e constantemente reciclados, e com a família compreendendo - e correspondendo - a relevância do seu papel no desenvolvimento dos seus filhos, a estrada pra uma educação com mais qualidade estará pavimentada.

Se isso custa mais ou menos do que dez por cento do PIB eu não sei. Mas acho que o caminho certo é por aí.

sábado, abril 23, 2011

EXPLOSÃO DA ADUTORA DA CEDAE EM THOMÁS COELHO

Tivemos a oportunidade de ver de perto o estrago causado pela explosão da adutora da CEDAE em Thomás Coelho. E o estrago é grande.

A explosão aconteceu na Rua João Ribeiro, entre as ruas Engenho da Mata e Pereira Pinto, em seu pequeno trecho que fica além da linha do trem. A via nasce na Antiga avenida Suburbana, na altura de Pilares, é dividida pela linha do trem na altura da estação de Thomás Coelho, e termina no encontro com a Avenida Pastor Martin Luther King Jr e a Estrada Adhemar Bebiano.

Local exato da explosão, na João Ribeiro, próximo ao CIEP Frederico Fellini.


Foi a 100 metros desse encontro de vias que ocorreu a explosão, na madrugada de hoje, 23 de abril de 2011, feriado na cidade pelo dia de São Jorge. Fizemos algumas fotos, que compartilhamos aqui com vocês.


Uma área ainda alagada pelas águas do vazamento de 5 mil litros por segundo.




Operários trabalham na área onde a tubulação explodiu.



Trabalhadores preparam a tubulação que vai substituir a que foi danificada.

quinta-feira, abril 21, 2011

HISTÓRIA DAS RUAS SUBURBANAS: ESTRADA ADHEMAR BEBIANO

A escolha da antiga Estrada Velha da Pavuna para a primeira postagem sobre os nomes das ruas do subúrbio explica-se simplesmente: foi nela que vivi por 22 anos antes de mudar-me para a Tijuca; e é nela que vivo agora, novamente.

A estrada nasce no cruzamento com a Avenida Suburbana (atual Dom Hélder Câmara). Cruza Del Castilho, Higienópolis, Inhaúma e termina no Engenho da Rainha, bem nos limites com Thomáz Coelho, onde se encontra com a Automóvel Clube, atual Pastor Martin Luther King Jr. Qualquer dia eu falo dessa guerra religiosa que andou mudando tantos nomes de avenidas por aqui.

A estrada é marcada pela presença de fábricas como a da Plus Vita, do grupo mexicano Bimbo; pelo prédio da 12ª Região Administrativa da cidade, e por vários conjuntos habitacionais.

Entre esses conjuntos habitacionais destacam-se o Conjunto IV Centenário; o Conjunto dos Músicos, onde viveram vários músicos de grande fama; e o Parque Residencial Estrada Velha (PREV), com quase mil apartamentos e mais de três mil moradores.

A antiga Estrada Velha da Pavuna era uma das principais vias que cortavam a Freguesia de São Tiago de Inhaúma, desmembrada da Freguesia de Irajá em 1743. A Igreja de São Tiago Maior encontra-se na praça 24 de Outubro, de frente para a Adhemar Bebiano, e foi erguida em 1745.

A casa antiga que se vê na foto a seguir, de Reinaldo Silva (1968), é um típico chalé suburbano construído no início do século XX e pertenceu à Viscondessa de Embaré. Atualmente está cercada de casas populares em uma área conhecida como "as casinhas", inserida no contexto espacial do complexo do alemão.



Mas quem foi Adhemar Bebiano?

Adhemar Alves Bebiano, cidadão que dá seu nome para a antiga Estrada Velha da Pavuna, era filho de Domingos Alves Bebiano, português nascido em 1849, na localidade de Castanheira de Pera, e neto de António Alves Bebiano, Visconde de Castanheira de Pera. O pai de Adhemar veio de Portugal e estabeleceu-se em 1864 nas Minas Gerais, de onde seguiu para o Rio de Janeiro em 1880.



Na capital fluminense, então capital do país, Domingos Alves Bebiano tornou-se presidente da Companhia América Fabril, cuja estrutura empresarial incluía a fábrica onde atualmente se estabelece o Shopping Nova América. Durante muitos anos a fábrica pertenceu à família Bebiano, que empregou milhares de moradores da região, motivo da homenagem com a mudança do nome da Estrada.

Adhemar Bebiano, além de ligado à Fábrica Nova América, também foi presidente do clube Botafogo Futebol e Regatas entre 1944 e 1947.

P.S.: Eu, em notável esquecimento, deixei de recorrer no início dessa série, ao autor mais que fundamental quando assunto é a história das ruas do Rio de Janeiro. Falo de Brasil Gérson. Busquei seus escritos sobre a antiga Estrada Velha da Pavuna e confirmei o que os moradores antigos da minha área sempre diziam.

Brasil Gérson, em seu livro História das Ruas do Rio (5ª edição, pp. 366-367, Lacerda Ed, Rio de Janeiro, 2000) nos conta que a abertura da Estrada Velha da Pavuna se insere no contexto dos caminhos abertos pelos jesuítas para o Sertão Carioca. Ele escreve o seguinte:

"Esses caminhos tiveram um ponto de partida em comum que foi a cancela dos Jesuítas em S. Cristóvão, o popularíssimo Largo da Cancela inexplicavelmente convertido em Praça Vicente Neiva, e o primeiro deles, aberto pela Sociedade de Jesus em busca de sua sesmaria em Santa Cruz, se transformaria na Estrada Real de santa Cruz, e dela saíram dois afluentes principais, a Estrada da Penha (com seu início nas alturas da atual estação Vieira da Fazenda, na Linha Auxiliar) e a da Pavuna, nas de Maria da Graça de hoje, esta a seguir transformada em duas, a Velha e a Nova, ao abrir-se uma segunda com o mesmo objetivo na Venda dos Pilares, para que ambas se juntassem adiante no Engenho do Mato.

Eles tinham por finalidade maior a ligação direta do sertão com a cidade, porque ao mesmo tempo outros surgiram para que do sertão os seus moradores viessem à cidade com a ajuda do mar, ou, por outra, graças aos portos do que nesses antanhos se denominava o Recôncavo carioca, entre Meriti e Inhaúma, e eles eram, entre outros menores, o Caminho de Itaoca, que no Bonsucesso de hoje se prolongava até as praias de Inhaúma, Apicu e Maria Angu através dele mesmo e dos caminhos ou estradas dos Manguinhos, de Inhaúma, e do Engenho da Pedra (que depois seriam duas, a Nova e a Velha do mesmo Engenho) e a de Maria Angu (que vinha da Penha como prolongamento da Brás de Pina e da Vicente de Carvalho) e a do Porto Velho de Irajá, de certo modo um prolongamento da do Quitungo."

Uma beleza de história, não é? Era isso que eu queria dizer. Abraços!

quinta-feira, abril 07, 2011

TIROS EM REALENGO

Lamento profundamente a tragédia que se abateu sobre as famílias da zona oeste do Rio de Janeiro, com os múltiplos assassinatos e o suicídio cometidos por um homem em uma escola municipal da cidade, no bairro de Realengo.

A tragedia deitou-se, com certeza, sobre a sociedade brasileira, despertando a comoção de nossa gente mais simples, de profissionais de saúde que se esmeram para atender aos feridos, e sobre a presidenta, que chorou, visivelmente emocionada ao homenagear as vítimas.

O crime é, no entanto, estranho. Estranhíssimo. Cometido por um rapaz de 23 anos de idade, sem antecedentes criminais e ex-aluno da escola. Muitas perguntas estão no ar e a polícia vai se ver obrigada a prestar maiores esclarecimentos à sociedade pois não se trata de um crime comum, num espaço comum, por um criminoso "de carreira".

E a sociedade certamente espera por essas respostas, e que elas não sejam evasivas no final do inquérito como são agora, por razões compreensíveis.

Com o pouco que sei, imagino um crime com uma trama psicológica. Afinal, porque ele entrou calmamente na escola, conversou com uma professora, disparou em mais de uma sala, atingiu letalmente mais meninas do que meninos, etc?

Há quanto tempo ele já tinha saído da escola? Alguma criança que foi morta tinha convivido com ele? O há na carta e que ele anuncia os motivos do seu suicídio?

Que papo é esse de islamismo? Ele se converteu? Atribuiu suas motivações à religião? O crime me parece muito ocidental. Lembrei de Tiros em Columbine imediatamente. Muito depois lembrei de Beslan.

Enfim, espero, enquanto membro da sociedade brasileira, enquanto cidadão fluminense e carioca, respostas para essas e outras perguntas relevantes para o caso.

Deixo meu enorme abraço aos parentes das vítimas - fatais ou não. Sou pai. Imagino o drama de quem perdeu seu filho ou está vendo-o sofrer com os ferimentos. Desejo-lhes força, com o mais profundo sentimento solidário à suas dores.

domingo, março 27, 2011

POR UM SUBÚRBIO MELHOR

Dentre todas as bandeiras políticas, econômicas ou sociais pró-subúrbio que eu possa levantar aqui nesse espaço, não vejo uma que seja mais digna do que a defesa da elevação da auto-estima do suburbano.

Queria que os suburbanos não sentissem vergonha do espaço onde vivem, do seu bairro, da sua aldeia. Que seus vínculos subjetivos com o seu lugar não fossem fundamentalmente marcados por aspectos negativos mas por tudo o que pode fazer do subúrbio um lugar muito melhor do que hoje ele é.

Queria que os suburbanos não tivessem como meta de progresso - e de vida - mudar-se do subúrbio para qualquer bairro da cidade banhado pelo Oceano Atlântico, por que seria possível viver aqui e, ao mesmo tempo, desfrutar de todas as benesses da cidade, se ela tivesse fluidez e acessibilidade de fato democráticas.

Queria que ele não fosse a triste realidade de cada um que aqui vive sonhando com a vida que lhes seria (im)possível do outro lado do túnel, mas que fosse mais um lugar onde se pode viver dignamente entre os seus, numa comunidade que se respeita e se valoriza.

Queria que o subúrbio se orgulhasse dos seus pagodes nos bares de esquina, pertinho de Exu e sob os olhos de Ogum. Que o baile funk fosse só um baile funk, onde as gatinhas podem dançar e os marmanjos podem tirar a sua onda. E nada mais. Que a capoeira voltasse sonora e vistosa pra rua, deixando um pouco pra lá as academias e seu suor artificial.

Queria que o suburbano se orgulhasse de sua vida autônoma e autêntica, de suas feiras, de seus mercados, suas macumbas, suas freguesias, de suas igrejas - todas as igrejas! - dos seus campeonatos amadores de futebol e do seu jeito único de sertão metropolitano. Não quero uma cidade partida. Quero uma cidade integrada, integral e íntegra.

Mas para que essa auto-estima do suburbano se eleve, pra que ele sinta vontade de seguir vivendo no subúrbio, é preciso permitir-lhe ir e voltar do seu trabalho tranquilo, sabendo que ele vai perder o mínimo que todos devem dispor do seu tempo nesse vai e vem. Que ele não estará comprimido entre seus iguais em algum meio de transporte caro que atenta contra sua dignidade diariamente.

É preciso dar-lhe a tranquilidade de deixar seus familiares em casa sabendo que eles estarão em um território livre do controle de grupos sociais criminosos e que o Estado lhe garante ao menos os níveis básicos de segurança. Pra ter mais auto-estima é preciso sentir-se cuidado, querido, desejado. Viver no subúrbio deveria deixar de ser fruto de uma condição para ser fruto de uma vontade.

Há tempos que esse blog vem se transformando num instrumento virtual de luta pela valorização da alma suburbana. Queremos que ele alcance transformações reais nas vidas das pessoas que vivem aqui. Estamos abraçando, humildemente, essa causa. Vamos cobrar de quem pode fazer isso virar realidade.

terça-feira, março 22, 2011

RESPOSTA DA OUVIDORIA DA SESQV

Ontem abordei aqui o processo e as condições da implantação das Academias da Terceira Idade (ATIs) pela cidade. Enviei o texto para o email da ouvidoria da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV) com o objetivo de fazer chegar até eles as nossas sugestões.

Recebi hoje, no início da tarde, uma resposta da ouvidoria, que transcrevo na íntegra para que vocês tenham conhecimento.

Prezado Sr. Diego Moreira,

Prezado Cidadão,

Comprimentando-o(a), serve o presente para acusar o recebimento da solicitação, informo que em virtude da restauração desta pasta e da restrição orçamentária para ampliação de novos projetos, neste momento, não será possível o atendimento do vosso pleito.

Contudo estamos sensíveis aos anseios dos usuários da localidade , tão logo os impedimentos adrede mencionados sejam superados, etaremos
(sic)
avaliando o pedido tecnicamente.

Segue abaixo, informações refrente
(sic)
aos projeto da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida.

1-QUALIVIDA, são 120 núcleos de ginástica para os idosos nas praças dentro do Município do Rio de Janeiro.

2-IDOSO EM FAMÍLIA , benefício de R$300 que é oferecido a 58 famílias da cidade do Rio de Janeiro, para contribuir no tratamento e no cuidado domiciliar dos idosos, evitando, assim, que sejam internados em instituições de longa permanência.

3-AGENTE EXPERIENTE, 131 idosos recebem treinamentos periódicos, alem de uma bolsa no valor de R$ 200, para atuar nos mais diversos órgãos da administração municipal, divulgando e supervisionando projetos e orientando a população.

4-CASAS DE CONVIVÊNCIAS, referência no que diz respeito à inclusão social de idosos no município. Algumas das aulas das quais os usuários podem participar são:Inglês, Francês, desenho,alongamento, percussão, dança de salão, entre outras atividades lúdicas, esportivas e informativas, que geram impacto direto na promoção as saúde e no emocional dos freqüentadores. São seis espaços em funcionamento, na Gávea, em São Conrado, na Tijuca, na lagoa, em Botafogo e na Penha. Aberto todos os dias das 08:00 às 18:00 horas.

5-IDOSO EM MOVIMENTO, aulas gratuitas de dança de salão e hidroginástica para idosos acima de 60 anos, supervisionadas por professores de educação física e por profissionais de saúde, em 18 núcleos espalhados pela cidade.

6-SAÚDE MÓVEL, reduzir riscos de contaminação por doenças associadas ao envelhecimento, diminuindo as chances de dependência do idoso. Essa é a proposta do projeto que amplia o acesso daqueles com mais de 60 anos, prioritariamente os com dificuldades de locomoção, a serviço de saúde. Veículo
(sic)
adaptados para funcionar como mini–consultórios visitam os mais diversos bairros e comunidade, com profissionais especializados e toda a infra-estrutura necessária para realização de consultas, exames e pequenos procedimentos, nas seguintes áreas:Clinica médica, geriatria, oftamologia e odontologia.

Atenciosamente,

Atenciosamente, Ouvidoria da Prefeitura - SESQV

Preciso dizer que, ainda assim, é possível perceber que há uma desigualdade na distribuição geográfica das unidades dos projetos, como fica evidente no caso das "Casas de Convivências", que se concentram na zona sul, exatamente onde a população idosa em geral possui os melhores indicadores sociais médios da cidade.

Imaginamos que a população pobre desses bairros, no caso, os moradores das favelas locais, também possam desfrutar de tais benesses, e assim desejamos que o seja.

segunda-feira, março 21, 2011

MUDANÇAS NO SUBÚRBIO - AS ATIs

Volto hoje para continuar falando de mudanças que estão sendo percebidas nos bairros do subúrbio, especialmente aquelas quem têm contribuído mais diretamente para a melhoria da qualidade de vida da população local.

Uma delas, ainda tímida diante do que pode vir a ser, é a atenção que tem sido dada ao público da terceira idade em benefício da saúde desse grupo etário. Falo especificamente da difusão das "Academias da Terceira Idade" (ATIs), que constituem espaços onde a população acima dos 60 anos pode praticar exercícios físicos.

Certo de que todos compreendem a importância das atividades físicas para a saúde, não só de idosos mas de todos os grupos etários, dispenso-me do trabalho de explicar a relevância desse projeto que está sendo implantado na cidade pela Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV).

O portal da prefeitura apresenta o projeto assim:

A primeira academia foi instalada, em agosto de 2009, na Praça Serzedelo Correia, no coração de Copacabana. (...) São compostas por 10 aparelhos que permitem o desenvolvimento de exercícios de força e flexibilidade, atendendo diretamente às necessidade dos idosos. Aulas, supervisionadas por um profissional de educação física, acontecem, diariamente, das 7h às 10h e das 16h às 19h. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), a SESQV também mantém ATIs em postos de saúde e em clínicas da família por toda a cidade.

Em notícia publicada no último dia 18 de março, a secretaria divulgou que a inauguração da unidade da Barra da Tijuca elevou para 20 o número total de ATIs pela cidade:

O projeto já se faz presente, também, nos bairros do Leme, Flamengo, Botafogo, Largo do Machado, Cavalcanti, Anchieta, Penha, Ilha do Governador (2), Tijuca, Vila Isabel, Bangu (2), Praça Seca, Copacabana (2), Ipanema, Leblon, Bairro Peixoto. (...) Para conhecer os endereços das academias, basta visitar a seção Serviços do site da SESQV ou entrar em contato com a Ouvidoria da SESQV no telefone (21) 2976-3711.

Nota-se, pela distribuição das unidades, que a Zona Sul ganhou 9 unidades, a Zona Norte conta com 7 unidades e a Zona Oeste, incluindo a da Barra da Tijuca, possui 4 unidades.

Nossa sugestão para a SESQV é que busque expandir esse projeto de forma a contemplar a área central (Estácio, Cidade Nova, Catumbi, Lapa, Bairro de Fátima etc.); a Zona Oeste, que ainda possui poucas unidades, priorizando áreas densamente ocupadas como Campo Grande e Santa Cruz; e a Zona Norte, em bairros como Madureira, Irajá e o Méier, que tem grande população e nenhuma unidade implantada.

Ficaremos no aguardo do cumprimento da promessa de instalação das 80 ATIs até o final de 2012 e de uma distribuição mais equitativa das unidades pelo espaço da cidade.

terça-feira, março 01, 2011

MUDANÇAS NO SUBÚRBIO

Os amigos mais chegados sabem que eu, depois de alguns anos morando na Tijuca, voltei para o Engenho da Rainha, o bairro onde cresci e de onde saí quando me casei, justamente para ir morar na Tijuca, bairro que eu deixei mas que não me deixará jamais.

Os motivos para a mudança são muitos e também não cabem aqui. Mas os mais chegados sabem também que minha família cresceu - e está crescendo - e que me mudei para morar a menos de cinco passos de minha mãe, a um lance de escada de minha irmã e no prédio ao lado do meu pai. Não é preciso muito esforço para entender que nós queremos que nossos filhos cresçam perto da família.

De tal forma que eu tenho circulado ainda mais pelo subúrbio e tenho visto algumas mudanças que têm me saltado aos olhos. Aquelas derivadas de implantação de políticas públicas são ainda muito primordiais porém não menos importantes. Já as mudanças derivadas da ausência de políticas públicas, ou das vistas grossas do Estado e da prefeitura são rápidas, intensas e bastante preocupantes.

Ressalto que a boa impressão gerada pelas transformações, ainda que primordiais, oriundas das políticas públicas não cobre de méritos a atual prefeitura da cidade, que, aparentemente, está fazendo apenas o mínimo que a Zona Norte merece. A boa impressão é fruto do contraste com o enorme descaso dado ao subúrbio pela dinastia de Cesar Maia, que maltratou demais essa cidade. Haja flecha pra tirar do peito do padroeiro.

O trânsito andou caótico por uma boa causa: chegou a política de asfalto liso. Não se trata de "operação tapa-buraco". O asfalto velho foi removido e as pistas estão sendo completamente recapeadas. Uma falha que se percebe é a falta de sinalização nas pistas recém-asfaltadas. Nas áreas mais movimentadas, os moradores deverão ter cuidado. A pista está "um tapete" e há marginais autorizados pelo Estado a dirigir. Outros não autorizados dirigem também.

Assinalo que apesar dos problemas, não me lembro da última vez que fizeram esse trabalho. Nenhum grande mérito, repito. É o mínimo que se deve fazer pelo menos a cada 4 ou 5 anos. Entre cada renovação, cubram-se os buracos e tá tudo certo.

Chama a atenção também a instalação em progresso de várias "clínicas da família" na Zona Norte. Em Thomáz Coelho já foi inaugurada a Clínica da Família Herbert de Souza. Vi pelo menos outras duas em construção. Uma em Del Castilho, nas cercanias do Shopping Nova América, e outra no Complexo do Alemão, perto da rua Joaquim de Queiroz, usada pela polícia como principal acesso para a pacificação realizada em novembro de 2010.

Diferente das UPAs, que são voltadas para atendimentos de emergência em suporte aos hospitais, essas clínicas estão voltadas para a saúde preventiva, permitindo a marcação de consultas e a realização de exames periódicos. Os moradores do entorno das clínicas inauguradas já estão sendo cadastrados. Posso garantir pois já bateram à minha porta. Resta saber se isso vai pra frente, se vai durar. Adianto que essa é a minha torcida.

Se a especulação imobiliária está em toda a cidade, no subúrbio ela se manifesta de forma bastante peculiar.

Sim, os preços estão subindo. No Engenho da Rainha, mais especificamente dentro do PREV - Parque Residencial da Estrada Velha - na antiga Estrada Velha da Pavuna, atual Adhemar Bebiano, era possível encontrar apartamentos precisando de obra por 50 mil reais em junho do ano passado. Os reformados saíam por preços entre 70 e 80 mil reais. Em dezembro, já se vendia apartamento completamente reformado por 110 ou 12o mil reais.

Mas o aspecto mais marcante e peculiar dessa especulação está no efeito verticalizante que ela tem sobre o espaço do subúrbio, tipicamente composto por casas e prédios pequenos. É nítido que a gestão estratégica da produção do espaço suburbano flutua ao sabor dos interesses das corporações da construção civil. Os grupos CHL, Agre e Tenda são só alguns dos que estão mandando por aqui.

Por todos os lados crescem condomínios que estão longe de compor uma política habitacional. Eles apresentam-se como ofertas do mercado imobiliário para uma classe média crescente na Zona Norte que procura moradia com estrutura de clube em pontos de localização estratégica como os que tem proximidade aos shoppings e às vias de grande circulação, como a Linha Amarela, a Linha Vermelha e a Avenida Brasil.

O pátio de estacionamento do shopping Nova América está tomado por obras que farão emergir três grandes centros comerciais. Edifícios do tipo "Office Tower", para a instalação de empresas e, provavelmente, de universidades, clínicas particulares etc. Isso a alguns passos da Linha Amarela, estando muito mais perto do Aeroporto Internacional Tom Jobim do que a Barra da Tijuca, que, por sua vez, fica perto de quem sai do Shopping Nova América.

A ocupação do Complexo do Alemão acalmou um pouco a região. Isso se percebe não só nos números da Secretaria de Segurança do Estado mas no cotidiano dos moradores da área. No entanto, todo mundo que conhece pelo menos uma pessoa que more no morro do Juramento sabe que o morro está apinhado até o topo com a turma da malandragem. Ainda não ouvi falar em nenhum movimento de implantação de UPP no Juramento, a casa do Escadinha, herdada pelo Uê, ambos falecidos. Sabe-se lá o dia que isso acaba.

Fora isso, e outros balacobacos que andam pululando por aqui, é o de sempre: a mulherada usa shortes cada vez mais curtos nesse calor; o pagode divide espaço com o pancadão na esquina; qualquer ferro velho, oficina mecânica ou supermercado falido vira igreja; e os macumbeiros continuam fechando o corpo pra brincar o cara-suja nos braços do Momo.

E é com esses que eu vou, deixando essas mal traçadas em homenagem às primaveras da minha mui amada e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Evoé!