domingo, março 27, 2011

POR UM SUBÚRBIO MELHOR

Dentre todas as bandeiras políticas, econômicas ou sociais pró-subúrbio que eu possa levantar aqui nesse espaço, não vejo uma que seja mais digna do que a defesa da elevação da auto-estima do suburbano.

Queria que os suburbanos não sentissem vergonha do espaço onde vivem, do seu bairro, da sua aldeia. Que seus vínculos subjetivos com o seu lugar não fossem fundamentalmente marcados por aspectos negativos mas por tudo o que pode fazer do subúrbio um lugar muito melhor do que hoje ele é.

Queria que os suburbanos não tivessem como meta de progresso - e de vida - mudar-se do subúrbio para qualquer bairro da cidade banhado pelo Oceano Atlântico, por que seria possível viver aqui e, ao mesmo tempo, desfrutar de todas as benesses da cidade, se ela tivesse fluidez e acessibilidade de fato democráticas.

Queria que ele não fosse a triste realidade de cada um que aqui vive sonhando com a vida que lhes seria (im)possível do outro lado do túnel, mas que fosse mais um lugar onde se pode viver dignamente entre os seus, numa comunidade que se respeita e se valoriza.

Queria que o subúrbio se orgulhasse dos seus pagodes nos bares de esquina, pertinho de Exu e sob os olhos de Ogum. Que o baile funk fosse só um baile funk, onde as gatinhas podem dançar e os marmanjos podem tirar a sua onda. E nada mais. Que a capoeira voltasse sonora e vistosa pra rua, deixando um pouco pra lá as academias e seu suor artificial.

Queria que o suburbano se orgulhasse de sua vida autônoma e autêntica, de suas feiras, de seus mercados, suas macumbas, suas freguesias, de suas igrejas - todas as igrejas! - dos seus campeonatos amadores de futebol e do seu jeito único de sertão metropolitano. Não quero uma cidade partida. Quero uma cidade integrada, integral e íntegra.

Mas para que essa auto-estima do suburbano se eleve, pra que ele sinta vontade de seguir vivendo no subúrbio, é preciso permitir-lhe ir e voltar do seu trabalho tranquilo, sabendo que ele vai perder o mínimo que todos devem dispor do seu tempo nesse vai e vem. Que ele não estará comprimido entre seus iguais em algum meio de transporte caro que atenta contra sua dignidade diariamente.

É preciso dar-lhe a tranquilidade de deixar seus familiares em casa sabendo que eles estarão em um território livre do controle de grupos sociais criminosos e que o Estado lhe garante ao menos os níveis básicos de segurança. Pra ter mais auto-estima é preciso sentir-se cuidado, querido, desejado. Viver no subúrbio deveria deixar de ser fruto de uma condição para ser fruto de uma vontade.

Há tempos que esse blog vem se transformando num instrumento virtual de luta pela valorização da alma suburbana. Queremos que ele alcance transformações reais nas vidas das pessoas que vivem aqui. Estamos abraçando, humildemente, essa causa. Vamos cobrar de quem pode fazer isso virar realidade.

terça-feira, março 22, 2011

RESPOSTA DA OUVIDORIA DA SESQV

Ontem abordei aqui o processo e as condições da implantação das Academias da Terceira Idade (ATIs) pela cidade. Enviei o texto para o email da ouvidoria da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV) com o objetivo de fazer chegar até eles as nossas sugestões.

Recebi hoje, no início da tarde, uma resposta da ouvidoria, que transcrevo na íntegra para que vocês tenham conhecimento.

Prezado Sr. Diego Moreira,

Prezado Cidadão,

Comprimentando-o(a), serve o presente para acusar o recebimento da solicitação, informo que em virtude da restauração desta pasta e da restrição orçamentária para ampliação de novos projetos, neste momento, não será possível o atendimento do vosso pleito.

Contudo estamos sensíveis aos anseios dos usuários da localidade , tão logo os impedimentos adrede mencionados sejam superados, etaremos
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avaliando o pedido tecnicamente.

Segue abaixo, informações refrente
(sic)
aos projeto da Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida.

1-QUALIVIDA, são 120 núcleos de ginástica para os idosos nas praças dentro do Município do Rio de Janeiro.

2-IDOSO EM FAMÍLIA , benefício de R$300 que é oferecido a 58 famílias da cidade do Rio de Janeiro, para contribuir no tratamento e no cuidado domiciliar dos idosos, evitando, assim, que sejam internados em instituições de longa permanência.

3-AGENTE EXPERIENTE, 131 idosos recebem treinamentos periódicos, alem de uma bolsa no valor de R$ 200, para atuar nos mais diversos órgãos da administração municipal, divulgando e supervisionando projetos e orientando a população.

4-CASAS DE CONVIVÊNCIAS, referência no que diz respeito à inclusão social de idosos no município. Algumas das aulas das quais os usuários podem participar são:Inglês, Francês, desenho,alongamento, percussão, dança de salão, entre outras atividades lúdicas, esportivas e informativas, que geram impacto direto na promoção as saúde e no emocional dos freqüentadores. São seis espaços em funcionamento, na Gávea, em São Conrado, na Tijuca, na lagoa, em Botafogo e na Penha. Aberto todos os dias das 08:00 às 18:00 horas.

5-IDOSO EM MOVIMENTO, aulas gratuitas de dança de salão e hidroginástica para idosos acima de 60 anos, supervisionadas por professores de educação física e por profissionais de saúde, em 18 núcleos espalhados pela cidade.

6-SAÚDE MÓVEL, reduzir riscos de contaminação por doenças associadas ao envelhecimento, diminuindo as chances de dependência do idoso. Essa é a proposta do projeto que amplia o acesso daqueles com mais de 60 anos, prioritariamente os com dificuldades de locomoção, a serviço de saúde. Veículo
(sic)
adaptados para funcionar como mini–consultórios visitam os mais diversos bairros e comunidade, com profissionais especializados e toda a infra-estrutura necessária para realização de consultas, exames e pequenos procedimentos, nas seguintes áreas:Clinica médica, geriatria, oftamologia e odontologia.

Atenciosamente,

Atenciosamente, Ouvidoria da Prefeitura - SESQV

Preciso dizer que, ainda assim, é possível perceber que há uma desigualdade na distribuição geográfica das unidades dos projetos, como fica evidente no caso das "Casas de Convivências", que se concentram na zona sul, exatamente onde a população idosa em geral possui os melhores indicadores sociais médios da cidade.

Imaginamos que a população pobre desses bairros, no caso, os moradores das favelas locais, também possam desfrutar de tais benesses, e assim desejamos que o seja.

segunda-feira, março 21, 2011

MUDANÇAS NO SUBÚRBIO - AS ATIs

Volto hoje para continuar falando de mudanças que estão sendo percebidas nos bairros do subúrbio, especialmente aquelas quem têm contribuído mais diretamente para a melhoria da qualidade de vida da população local.

Uma delas, ainda tímida diante do que pode vir a ser, é a atenção que tem sido dada ao público da terceira idade em benefício da saúde desse grupo etário. Falo especificamente da difusão das "Academias da Terceira Idade" (ATIs), que constituem espaços onde a população acima dos 60 anos pode praticar exercícios físicos.

Certo de que todos compreendem a importância das atividades físicas para a saúde, não só de idosos mas de todos os grupos etários, dispenso-me do trabalho de explicar a relevância desse projeto que está sendo implantado na cidade pela Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV).

O portal da prefeitura apresenta o projeto assim:

A primeira academia foi instalada, em agosto de 2009, na Praça Serzedelo Correia, no coração de Copacabana. (...) São compostas por 10 aparelhos que permitem o desenvolvimento de exercícios de força e flexibilidade, atendendo diretamente às necessidade dos idosos. Aulas, supervisionadas por um profissional de educação física, acontecem, diariamente, das 7h às 10h e das 16h às 19h. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), a SESQV também mantém ATIs em postos de saúde e em clínicas da família por toda a cidade.

Em notícia publicada no último dia 18 de março, a secretaria divulgou que a inauguração da unidade da Barra da Tijuca elevou para 20 o número total de ATIs pela cidade:

O projeto já se faz presente, também, nos bairros do Leme, Flamengo, Botafogo, Largo do Machado, Cavalcanti, Anchieta, Penha, Ilha do Governador (2), Tijuca, Vila Isabel, Bangu (2), Praça Seca, Copacabana (2), Ipanema, Leblon, Bairro Peixoto. (...) Para conhecer os endereços das academias, basta visitar a seção Serviços do site da SESQV ou entrar em contato com a Ouvidoria da SESQV no telefone (21) 2976-3711.

Nota-se, pela distribuição das unidades, que a Zona Sul ganhou 9 unidades, a Zona Norte conta com 7 unidades e a Zona Oeste, incluindo a da Barra da Tijuca, possui 4 unidades.

Nossa sugestão para a SESQV é que busque expandir esse projeto de forma a contemplar a área central (Estácio, Cidade Nova, Catumbi, Lapa, Bairro de Fátima etc.); a Zona Oeste, que ainda possui poucas unidades, priorizando áreas densamente ocupadas como Campo Grande e Santa Cruz; e a Zona Norte, em bairros como Madureira, Irajá e o Méier, que tem grande população e nenhuma unidade implantada.

Ficaremos no aguardo do cumprimento da promessa de instalação das 80 ATIs até o final de 2012 e de uma distribuição mais equitativa das unidades pelo espaço da cidade.

terça-feira, março 01, 2011

MUDANÇAS NO SUBÚRBIO

Os amigos mais chegados sabem que eu, depois de alguns anos morando na Tijuca, voltei para o Engenho da Rainha, o bairro onde cresci e de onde saí quando me casei, justamente para ir morar na Tijuca, bairro que eu deixei mas que não me deixará jamais.

Os motivos para a mudança são muitos e também não cabem aqui. Mas os mais chegados sabem também que minha família cresceu - e está crescendo - e que me mudei para morar a menos de cinco passos de minha mãe, a um lance de escada de minha irmã e no prédio ao lado do meu pai. Não é preciso muito esforço para entender que nós queremos que nossos filhos cresçam perto da família.

De tal forma que eu tenho circulado ainda mais pelo subúrbio e tenho visto algumas mudanças que têm me saltado aos olhos. Aquelas derivadas de implantação de políticas públicas são ainda muito primordiais porém não menos importantes. Já as mudanças derivadas da ausência de políticas públicas, ou das vistas grossas do Estado e da prefeitura são rápidas, intensas e bastante preocupantes.

Ressalto que a boa impressão gerada pelas transformações, ainda que primordiais, oriundas das políticas públicas não cobre de méritos a atual prefeitura da cidade, que, aparentemente, está fazendo apenas o mínimo que a Zona Norte merece. A boa impressão é fruto do contraste com o enorme descaso dado ao subúrbio pela dinastia de Cesar Maia, que maltratou demais essa cidade. Haja flecha pra tirar do peito do padroeiro.

O trânsito andou caótico por uma boa causa: chegou a política de asfalto liso. Não se trata de "operação tapa-buraco". O asfalto velho foi removido e as pistas estão sendo completamente recapeadas. Uma falha que se percebe é a falta de sinalização nas pistas recém-asfaltadas. Nas áreas mais movimentadas, os moradores deverão ter cuidado. A pista está "um tapete" e há marginais autorizados pelo Estado a dirigir. Outros não autorizados dirigem também.

Assinalo que apesar dos problemas, não me lembro da última vez que fizeram esse trabalho. Nenhum grande mérito, repito. É o mínimo que se deve fazer pelo menos a cada 4 ou 5 anos. Entre cada renovação, cubram-se os buracos e tá tudo certo.

Chama a atenção também a instalação em progresso de várias "clínicas da família" na Zona Norte. Em Thomáz Coelho já foi inaugurada a Clínica da Família Herbert de Souza. Vi pelo menos outras duas em construção. Uma em Del Castilho, nas cercanias do Shopping Nova América, e outra no Complexo do Alemão, perto da rua Joaquim de Queiroz, usada pela polícia como principal acesso para a pacificação realizada em novembro de 2010.

Diferente das UPAs, que são voltadas para atendimentos de emergência em suporte aos hospitais, essas clínicas estão voltadas para a saúde preventiva, permitindo a marcação de consultas e a realização de exames periódicos. Os moradores do entorno das clínicas inauguradas já estão sendo cadastrados. Posso garantir pois já bateram à minha porta. Resta saber se isso vai pra frente, se vai durar. Adianto que essa é a minha torcida.

Se a especulação imobiliária está em toda a cidade, no subúrbio ela se manifesta de forma bastante peculiar.

Sim, os preços estão subindo. No Engenho da Rainha, mais especificamente dentro do PREV - Parque Residencial da Estrada Velha - na antiga Estrada Velha da Pavuna, atual Adhemar Bebiano, era possível encontrar apartamentos precisando de obra por 50 mil reais em junho do ano passado. Os reformados saíam por preços entre 70 e 80 mil reais. Em dezembro, já se vendia apartamento completamente reformado por 110 ou 12o mil reais.

Mas o aspecto mais marcante e peculiar dessa especulação está no efeito verticalizante que ela tem sobre o espaço do subúrbio, tipicamente composto por casas e prédios pequenos. É nítido que a gestão estratégica da produção do espaço suburbano flutua ao sabor dos interesses das corporações da construção civil. Os grupos CHL, Agre e Tenda são só alguns dos que estão mandando por aqui.

Por todos os lados crescem condomínios que estão longe de compor uma política habitacional. Eles apresentam-se como ofertas do mercado imobiliário para uma classe média crescente na Zona Norte que procura moradia com estrutura de clube em pontos de localização estratégica como os que tem proximidade aos shoppings e às vias de grande circulação, como a Linha Amarela, a Linha Vermelha e a Avenida Brasil.

O pátio de estacionamento do shopping Nova América está tomado por obras que farão emergir três grandes centros comerciais. Edifícios do tipo "Office Tower", para a instalação de empresas e, provavelmente, de universidades, clínicas particulares etc. Isso a alguns passos da Linha Amarela, estando muito mais perto do Aeroporto Internacional Tom Jobim do que a Barra da Tijuca, que, por sua vez, fica perto de quem sai do Shopping Nova América.

A ocupação do Complexo do Alemão acalmou um pouco a região. Isso se percebe não só nos números da Secretaria de Segurança do Estado mas no cotidiano dos moradores da área. No entanto, todo mundo que conhece pelo menos uma pessoa que more no morro do Juramento sabe que o morro está apinhado até o topo com a turma da malandragem. Ainda não ouvi falar em nenhum movimento de implantação de UPP no Juramento, a casa do Escadinha, herdada pelo Uê, ambos falecidos. Sabe-se lá o dia que isso acaba.

Fora isso, e outros balacobacos que andam pululando por aqui, é o de sempre: a mulherada usa shortes cada vez mais curtos nesse calor; o pagode divide espaço com o pancadão na esquina; qualquer ferro velho, oficina mecânica ou supermercado falido vira igreja; e os macumbeiros continuam fechando o corpo pra brincar o cara-suja nos braços do Momo.

E é com esses que eu vou, deixando essas mal traçadas em homenagem às primaveras da minha mui amada e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Evoé!