domingo, dezembro 12, 2010

SER PROFESSOR

Meus colegas de profissão devem achar absolutamente fora de hora discutir o valor da arte que exercemos diariamente. Isso porque estamos em dezembro, exatamente no final de mais um ano letivo, quando o que realmente reina em nossos pensamentos se expressa por apenas uma palavra: férias!

Mas ontem eu vivi uma situação que me fez pensar sobre o real valor do que fazemos e refletir sobre a educação como uma atividade transformadora e determinante na formação da sociedade, do caráter das pessoas, e sobre como as experiências educativas podem nos marcar profundamente e pra sempre.

Fui ao centro do Rio, na tarde de ontem, numa roda de samba organizada pelo Rodrigo Ferrari, da Livraria Folha Seca, em homenagem ao centenário de Noel Rosa. Estive, portanto, entre muitos amigos, com cerveja gelada - que o dia foi bonito demais, com sol e brisa - e os melhores papos possíveis.

E foi de um breve papo, nem por isso superficial, com o Leo Boechat que eu tirei o mote pra esse texto - eu que fiquei bastante calado esse ano, não passei nem perto da média de textos dos anos anteriores.

Ocorre que o Leo Boechat contava que foi aluno do CAp UFRJ e que pra ele era indiscutível que as aulas de Geografia eram as melhores, as mais interessantes, as mais instigantes e provocativas do seu ensino médio.

Eu, que não tive a felicidade de ter, no ensino médio, bons professores de Geografia, fiquei feliz com a declaração dele. E conhecendo um pouco do time que fazia o front da minha ciência na escola onde ele estudou, perguntei:

- Você foi aluno do João Rua?

Ele devolveu:

- Meu ídolo!

E deu de falar maravilhas do mestre que marcou sua vida. E deu de chorar ao lembrar que o professor João Rua convocou a turma do Léo para um trabalho de campo em Engenheiro Pedreira, para onde os garotos foram com ele. De trem.

Garotos da Zona Sul, no final dos anos 80, pegando o trem, observando as mudanças da paisagem de um ambiente urbano para o peri-urbano e para o rural, e desembarcando em Engenheiro Pedreira. Andando pelas ruas do lugar a entrevistar os moradores etc. Pode haver algo mais inusitado e mais genial? Produzir um choque de realidades dentro do laboratório da ciência geográfica: o espaço em si?

Rousseau recomendava: ensine utilizando os mais variados recursos, e só recorra às palavras quando não houver outra alternativa.

Parece que o mestre sabia o valor e o significado dessa recomendação para aplicá-la ao desenvolvimento dos seus alunos. Das aulas que tive enquanto aluno, lembro melhor das que se diferenciavam por experiências como esta proposta pelo João Rua à turma do Léo.

Aprendi um bocado sobre o lixão de Gramacho quando meu professor de programas de saúde, Maurício Monken - que, vejam só, é doutor em saúde pública mas geógrafo por graduação - levou minha turma ao local, para observação e palestra da direção do local. Esse tipo de experiência é rica, edificante e, certamente, muito marcante na vida dos alunos.

Não tive a oportunidade de ser aluno do João Rua na UERJ pois quando entrei ele já estava de saída. Mas pude fazer pelo menos um trabalho de campo - de geografia agrária, em Teresópolis - estruturado pelo velho mestre. Imagino que ainda hoje os alunos façam o mesmo campo, sem grandes alterações. Mais uma aula que não me esqueço.

Pois eu imagino que deve ser gratificante demais, emocionante demais, saber que, depois de 20 anos, seu trabalho é capaz de emocionar alguém que reconhece como fundamental o conjunto de conhecimentos, experiências e valores que você transmitiu como professor.

Se um dia eu viver algo meramente parecido com isso, estarei gratificado pelo ofício que escolhi.

sábado, novembro 20, 2010

CONSCIÊNCIA NEGRA

Eu, malungo de umbandas e quimbandas, cambono de preto-velho, tocador de atabaque, de berimbau e outras macumbas, deixo o meu recado no dia de hoje - de gritar valeu, Zumbi! - feito cantador de cantiga de capoeira e batedor de jongo em caxambu.

Ocorre que a moda há algum tempo é dizer que esse Brasil de meus deuses é de todas as cores. Mas na hora de dizer que ele também é preto, calunga, o buraco é mais embaixo e o couro tem que comer; o pau tem que quebrar.

E o pau quebrou no dia em que a mocinha do IBGE pintou na casa de minha prima, Ana Carolina, querendo pintar a pele, alma e a identidade do povo daquele ilê. Ana Carolina confirmou:

- É preto! É preto, calunga! Eu também sou preto, calunga!

E a mocinha tergiversou:

- Não bota preto não! Bota pardo! Você é até clarinha!..

E saiu descontente com a afirmação da identidade afrodescendente de Ana Carolina.

É mole? O Brasil não é para principiantes.

quarta-feira, agosto 18, 2010

SAMBA DO IRAJÁ COM MARCEL POWELL

Aniversário da Tia Glória. Não é a primeira vez que o excelente violonista Marcel Powell, que tem o talento no sangue, aparece lá pelo nosso Irajá. A última vez que o vi por lá foi em um outro aniversário da Tia Glória. E ele tinha sido levado pelo grande Lucio Nascimento, que não está mais conosco, e tocava com a Leny Andrade - que também já foi ao Irajá. E Marcel firmou amizade com a família e no último domingo compareceu novamente para prestigiar a Tia Glória. Deixo em vídeo uma pitada do que foi o furdunço. A imagem não está muito boa. Mas o som vale a pena.

segunda-feira, julho 19, 2010

PAPO RÁPIDO

Ultimamente tem sido assim.
Só tem dado tempo para um papo rápido, com raras exceções.

§ Ando preparando uma aula de África que, sinceramente, está me animando. A concepção teórica está pronta. Os alunos lerão o texto "A África inventada", de Leila Leite Hernandez e responderão a perguntas com base nos argumentos do texto. Depois debateremos as questões em sala. Espero que funcione. A introdução às questões ficou assim:

O racionalismo, que emerge como método de produção do conhecimento no século XVI e se consolida nesta posição entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX, constituiu um “saber moderno” que se revestiu de legitimidade científica para compreender, explicar e universalizar o processo histórico. Entretanto, este saber é formado “por visões de mundo, auto-imagens e estereótipos que compõem um ‘olhar imperial’ sobre o universo". Partindo dessa premissa, analise as questões propostas a seguir e apresente argumentos presentes no texto para respondê-las.

§ Está disponível na internet o vídeo com a turma do Irajá cantando o samba "Mas quem disse que eu te esqueço", de D. Ivone Lara e Hermínio Belo de Carvalho. Comovente a atuação firme do Tio Tonga, irmão do mestre Nei Lopes, nos pratos. O vídeo pode ser visto aqui.

§ Lucimar foi, dia desses, à casa de mamãe, onde almoçou e esteve com D. Almerinda, uma senhora com mais de 80 anos, amiga de mamãe há quase meio século. Com Daniel no colo, D. Almerinda ficou espantada com a força do meu rebento. Segurar o garoto é troço difícil. Ele faz muita força pra ir pro chão, onde faz merdas homéricas. A espevitada e sapeca, D. Almerinda saiu com uma sacanagem - e ela fala muita sacanagem - que deixou minha senhora roxa de vergonha. Disse do Daniel assim:

- Ele tem uma força! Isso é porque teu marido fez ele com força! Teu marido tem sangue português? Isso é coisa de português!

É mole?

Abraço e até!

quinta-feira, julho 15, 2010

QUEM VAI DIZER AO IBGE QUE É PRETO?

Neste ano de 2010 o Brasil fará mais um grande Censo Demográfico através do IBGE. Entre as inúmeras questões da pesquisa, estará aquela que há muito se faz presente: você é branco, preto, pardo, amarelo ou indígena? Democraticamente, a questão abre a possibilidade ao questionado para optar por não declarar nada.

O processo é de auto-declaração. Não é o recenseador, baseado em suas concepções e - quem sabe? - em seus preconceitos, quem escolhe a opção a ser marcada. É o entrevistado, livremente.

A formação primordial do nosso povo, baseada na miscigenação afro-íbero-ameríndia, favorece uma categoria especial: a dos pardos. Os pardos surgem da mistura entre europeus, africanos e indígenas, nas suas várias combinações possíveis. É difícil mesmo pensar em brasileiros que não sejam pardos, com exceção dos indígenas que mantêm vínculos de casamento exclusivamente dentro das aldeias e dos migrantes que chegaram ao Brasil recentemente e seus descendentes.

No entanto, a afirmação das identidades etnico-culturais produz a valorização, às vezes a supervalorização, das demais categorias. Por isso é impossível debater essa questão sem passar pelo campo das subjetividades, da forma como as pessoas se vêem - ou desejam ser vistas - e os hábitos, valores e crenças que defendem e cultivam.

Em uma análise objetiva, direta, os brasileiros brancos seriam as pessoas que são exclusivamente descendentes de europeus. Ou seja, filhos de pai e mãe europeus, ou netos cujos quatro avós são europeus, ou ainda bisnetos cujos oito bisavós são europeus, e assim sucessivamente. A mesma lógica seria válida para pretos, amarelos e indígenas. Se há mistura, recai-se sobre o grupo dos pardos, sob esse ponto de vista objetivo.

No entanto são as subjetividades que comandam esse processo de auto-definição e enquadramento em categorias de cor. E é nesse ponto que encontramos os caminhos para as distorções da realidade de cor no país. Principalmente pelos frutos deixados pelo histórico de escravidão do negro, do massacre ao índio, do preconceito contra o amarelo e das vantagens sociais dos brancos sobre os demais.

A afirmação histórica da superioridade do branco nos deixou como herança o desejo de sermos brancos. Afinal, ser branco, muito mais do que remeter ao "berço", à fidalguia, afasta as pessoas das origens "bárbaras", "selvagens", dos "não-civilizados" daqui e da África. Por isso mesmo mais da metade - 53,8% - dos brasileiros declararam ser "brancos" no último censo realizado em 2000. Um número 2% maior que o do censo de 1991.

Não é possível imaginar que, em 2000, mais de 91 milhões de brasileiros fossem 100% euro-descendentes, aqueles com 2 pais, ou 4 avós, ou 8 bisavós europeus. É evidente que isso não é verdade. No entanto é fácil entender porque tantos mestiços preferem se ver como brancos num país onde isso sempre foi sinônimo de prestígio e superioridade social.

Por outro lado, para os negros, o IBGE pergunta: você é preto? A pesquisa é sobre cor. E a cor é, realmente, preta. Portanto, não há aqui nenhuma intenção em criticar a metodologia da pesquisa. Mas é preciso ter em mente que "preto", no Brasil, é mais do que uma cor. É xingamento corriqueiro nas ruas desse país onde o racismo se esconde sob o manto espesso do mito da democracia racial.

Por isso, muito além de ter dois pais, ou quatro avós, ou oito bisavós pretos, é preciso muita auto-estima para se dizer que é preto ao recenseador do IBGE. Nessa hora é até confortável a caldeira dos pardos. Talvez por isso mesmo apenas 6,2% dos brasileiros tenham se definido como "pretos" no censo de 2000, ou seja, 10,5 milhões de brasileiros, aproximadamente.

É possível que o número de pretos seja parecido com esse mesmo, segundo aqueles critérios objetivos que demonstramos. Mas se avaliarmos as subjetividades, quantos brasileiros se declarariam pretos e não se declaram por não desejarem reforçar por vontade própria a inferioridade que lhes é imposta diariamente pela sociedade com seu racismo mascarado?

Os números dos dois últimos censos estão na imagem abaixo, tirada do site do próprio IBGE, para quem quiser analisar.


Acredito que muita gente se define com base no predomínio da cor da pele. Mestiços mais claros definem-se como brancos porque acham realmente que são brancos enquanto mestiços mais escuros definem-se como pretos porque acham realmente que são pretos. E que assim seja, que a democracia se faz com liberdade de expressão, inclusive para a declaração - ou não declaração - de cor.

Mas farei minha declaração baseada na análise da minha história familiar ou genealógica, como queiram.

Dos meus 8 bisavós, dois são brasileiros descendentes de algumas das famílias mais tradicionais e conservadoras de Minas Gerais: os Rezende e os Dutra de Moraes. Ambas têm origem açoreana. As duas, repletas de coronéis, barões e latifundiários de brasão e amigos influentes. O conservadorismo dessas famílias limita bastante as chances de terem ocorrido miscigenações com pretos e indígenas. Meu avô materno, filho desse casal, enfrentou o racismo dos ancestrais quando escolheu casar-se com uma mulher de cor preta.

Com essa mulher, surgem meus dois bisavós pretos. Minha afro-descendência mais direta. Mesmo sem ter conhecido nenhum desses ancestrais, parece que foi deles que herdei a maior parte dos meus gostos. Afinal eu gosto mesmo é de samba, capoeira e de macumba.

Pelo lado paterno tenho outros dois bisavós europeus, um português e uma espanhola. Meu avô paterno, filho desse casal, era um brasileiro ibérico, portanto e papai é 50% assim também. E os últimos bisavós são brasileiros, um filho de portugueses (da família Porto) e outra mestiça, com mãe indígena.

Portanto são cinco euro-descendentes, dois afro-descendentes e um ameríndio-descendente. E eu me reconheço como fruto dessa mistura que formou o nosso povo. Nessas condições, não há outra opção a marcar senão a dos pardos.

No entanto, quando nasci, constava na declaração do hospital que eu era branco, sem prévia consulta aos meus pais. O mesmo ocorreu com meu filho, igualmente sem que eu e minha mulher fôssemos consultados. Minha esposa, apesar da pele claríssima, também tem afro-descendência. Seu pai era primo de Nei Lopes, que é sambista, escritor, historiador, filólogo, lexicógrafo e um dos maiores pan-africanistas do Brasil, além defensor das ações afrimativas para os negros no nosso país.

Isso demonstra que embora raças não existam geneticamente, a noção de raça opera em nossa sociedade e que as pessoas identificam raças nas outras pessoas. E é dessa identificação racial que nasce a possibilidade do racismo, da atitude discriminatória que, históricamente, atingiu majoritariamente os negros desse país.

Mas a pergunta que se exibe no título permanece. Quem vai dizer ao IBGE que é preto? De 1991 para 2000, o número de "pretos" aumentou em função da clara busca por valorização da identidade afro-brasileira conduzida pelo movimento negro do país. De 2000 pra cá tivemos todo um conjunto de discussões que abarcaram essa identidade, especialmente às ligadas às cotas para negros nas universidades públicas. Mais do que discussões, tivemos oito anos de políticas públicas federais comprometidas com a reparação das desigualdades criadas pela escravidão.

Diante disso surgem mais questões. Será que essas dicussões foram suficientes para trazer mais negros para a defesa das ações que afirmam sua identidade? Será que se produziu uma elevação da auto-estima dos negros do país? Teremos mais brasileiros se reconhecendo como pretos em 2010?

A conferir. Até!

sexta-feira, julho 09, 2010

PAPO RÁPIDO

§ Difícil a vida do sujeito que é professor numa semana de fechamento de notas, especialmente quando a esposa e o filho bebê não ficam firmes na saúde. Os dois arriados de gripe têm dado um trabalhão.

§ Você percebe que o nosso modelo de sociedade fracassou quando um dos "eventos culturais" mais frequentados - por ricos tanto quanto por pobres - inclui uma apresentação denominada "Surra de Bunda".

§ Comemorarei nesse fim de semana o encerramento da - interminável - correção de testes e trabalhos dos alunos enchendo a caveira de forma industrial enquanto vejo as finais da Copa do Mundo.

§ Torcerei pela Espanha já que me é inadmissível torcer para a Holanda na África do Sul. Que ela seja campeã em qualquer outro lugar, menos lá. E aqui também não, é evidente.

§ Assistirei com indiferença a sarrafascada entre Alemanha e Uruguai. Até torceria pela Alemanha mas depois da declaração de Lahm de que nós sulamericanos não sabemos perder, decidi não apoiá-los. E não torcerei pelo Uruguai já que acho que isso devia ser crime no Brasil pelo menos desde 1950.

E tenho dito. Até!

quarta-feira, julho 07, 2010

PAPO RÁPIDO

§ Lamentável a forma como o goleiro Bruno sairá do Flamengo, no camburão, para as garras da justa, depois de mandar matar, desossar e ocultar sob concreto os ossos da ex-amante Elisa Salmudio, modelo e atriz pornô com quem ele teve um filho. Preferia que ele tivesse saido há tempos, antes de estragar a vida da moça, a própria vida e deixar essa mácula ao Fla. Nunca gostei do infeliz.

§ Escrevi dia desses no twitter que tenho dificuldades de respeitar alguém que torce pela seleção de futebol do Uruguai. A questão é simples: nenhum outro selecionado causou dor tão atroz ao povo brasileiro. Nem a Itália em 82. Acho a dor do Maracanazzo, dentro de casa, mais intensa do que a do Sarriá. Posso sentí-la. No entanto eu tenho tido dificuldades de torcer para a Holanda, embora desde os dois primeiros jogos eu a apontasse como finalista entre os meus. Isso porque acho que vai ser de uma sacanagem histórica muito grande a vitória da Holanda na África do Sul. Acabei torcendo um pouquinho pela Celeste, como fez muita gente que conheço.

§ A noite de hoje desenha-se como mais uma daquelas de clarividência coletiva, onde será possível ver a alma do subúrbio e, até mesmo, incorporá-la. O subúrbio desencarnou faz tempo e o corpo apodrece na superfície com alguns poucos saudosos chorando seu velório e outros, uns abutres, consumindo o que lhe restou de matéria. Mas a alma está viva! E vai baixar de novo no Irajá hoje à noite. Saravá!

P.S.: Vejo nessa escalada do Uruguai em 2010 um troço perigosíssimo para o Brasil. Acredito na força dos vizinhos do sul. Creio mesmo que o Maracanazzo pode se repetir em 2014. Mas nisso eu não quero nem pensar.

Até!

sábado, julho 03, 2010

O SUBÚRBIO É SÓ ALMA

O corpo agoniza e apodrece. As ruas são as mais esburacadas e as menos iluminadas. O Estado parece completamente ausente. Andar por seus caminhos no negrume da noite é experiência de apreensão, no mínimo, pra ser bastante eufemista. Há tempos que o corpo do Sertão Carioca agoniza de abandono e descaso.

Mas sua alma parece resistir.

O telefone toca na casa do suburbano. O cunhado faz aniversário. E o convite é para um lanchinho em Irajá. Tijuca, Noel Rosa, Jacaré, Del Castilho, Inhaúma, Engenho da Rainha, Thomás Coelho, Vicente de Carvalho e, finalmente, Irajá. Chegamos.

Mesas abertas, conversa fiada e o "lanchinho" no balcão. Saca só a escalação:

Costelinha de porco, Moela, Mocotó e Batata calabresa. Jiló com bacon, Sopa de ervilha e Caldo de sururu. Tudo em panela de 10 litros com reposição pra noite toda.

DVD do Dudu Nobre rolando solto, e quando eu cheguei ele cantava uns sambas do João da Bahiana. Rolou também um Zeca, que a casa é de Brahmeiro, amor!

Me perguntaram: trouxe o 7 cordas?

Fui buscar na mala do carro. Armaram o barraco com cavaco, pandeiro, tan-tan e tamborim, além do violão e do meu 7 cordas.

E fez-se o Samba do Irajá. Autêntico, espontâneo, improvisado, sem repertório programado e, graças aos deuses, sem purismo! Do jeito "missa campal do povo brasileiro", como diz o caboclo Aldir Blanc (saravá!), com o povo cantando em volta.

A alma está viva! Está viva!

segunda-feira, maio 03, 2010

NÓS, OS ROMÂNTICOS MISERICORDIOSOS

Ao ver o time do Santos jogar esse Campeonato Paulista de 2010, nós, os românticos, os nostálgicos, os órfãos do futebol-arte, nos animamos, sorrimos, filosofamos.

Inflamamos o espírito e derramamos impropérios contra o homem que tem (e não tem, ao menos só) o poder de decidir quem entra e quem sai de uma lista que ficará pra história. Atribuímos caráter cívico à defesa da presença de certos nomes no escrete canarinho.

Como somos misericordiósos, nós outros! Sim! Porque sabemos que a turma da pelota de hoje sofre de um mal irreversível: não são jogadores, são produtos. São mercadorias cujo valor está atrelado mais ao aparato midiático do que ao bom rendimento que têm dentro das quatro linhas.

Correndo por fora do discurso dos comunas histéricos, não acho que o futebol-arte morreu. Ele apenas se encantou. E de vez em quando vem nos visitar.

Porém a grita para a convocação de patos, gansos, calopsitas e outras espécies só acelera a pesada locomotiva da especulação que corre perene sobre os trilhos do esporte bretão. Duvido que a maioria dos Meninos da Vila jogue o Brasileirão 2010 inteiro.

E Meninos da Vila é um cartaz e tanto, hein?! Jogo fora a máscara da hipocrisia e reconheço que há ali um excelente futebol. Mas daí para a bajulação das tais espécies há um portal, ao menos para mim, intransponível.

Porque sou o maior dos pessimistas. Tenho que ser. Porque sou também um romântico. Daqueles que sofrem profundamente as dores de uma decepção.

E seu acreditar que os Meninos da Vila trouxeram o futebol-arte de volta do mundo dos encantados para cá, essa decepção não tardará.

sábado, maio 01, 2010

UMA VIAGEM À TERRA DE MEUS ANTEPASSADOS

Os mais chegados sabem que no feriadão de 21 e 23 de abril eu viajei com minha família para Minas Gerais, mais precisamente para Além Paraíba, terra onde meu avô nasceu.

Desejada há muito mas programada em cima da hora, a viagem não foi das mais confortáveis pois foi difícil encontrar boa hospedagem disponível para 4 adultos e um bebê. Sim. Daniel foi conosco, é claro.

No entanto foi extremamente emocionante.

Já tinha dito aqui que meu avô Zequinha foi o maior exemplo de integridade e caráter que eu tive na vida. Tudo o que diz respeito a ele, a sua família - que é minha família, ora! - e sua história, me interessa. Muito.

Por isso que a tal viagem era desejada há muito tempo.

Pelo menos desde meados do ano passado eu venho investigando informações sobre meu avô e seus ancestrais. O ponto de partida foi o cartório de Angustura, pequeno distrito do município mineiro de Além Paraíba.

Angustura foi, no final do século XIX, um lugar mais importante do que Além Paraíba. Ainda está de pé a casa onde Silva Jardim fez seu discurso republicano em março de 1889.

Naquela ocasião, fazendeiros defensores da monarquia armaram um atentado contra o homem dizendo a ex-escravos que Silva Jardim estava defendendo o retorno da escravidão. Foi então que cinco ex-escravos tentaram atacar o político que, dizem, desceu do palanque e foi falar pessoalmente com os homens. A força de Angustura estava, evidentemente, no café.

No cartório, encontrei a certidão de nascimento do meu avô, José Dutra de Moraes. Olhar aquele livro e ler seus dizeres foi emocionante. Diz o livro, sobre o nascimento dele, assim:

"Aos trinta dias do mês de junho, do ano de mil novecentos e dezoito, neste distrito de Angustura, município de São José do Além Paraíba, estado de Minas Gerais, compareceu em meu cartório Argemiro Dutra de Moraes e declarou que no dia vinte e oito do corrente, às vinte e duas horas, no Bom Jardim, nasceu uma criança do sexo masculino, filho legítimo dele participante e Dona Maria Luiza de Rezende, brasileiros, sendo o nome da criança José, sendo seus avós paternos Eduardo Dutra de Moraes e Dona Francelina de Souza Moraes, e sendo avós maternos José Ferreira de Rezende e Dona Joaquina Alves de Rezende, do que para constar nesse livro..."

Fotografei o livro. Não podia perder esta oportunidade. E fui conhecer a Fazenda Bom Jardim, que o livro indica como local de nascimento do meu avô. Sério, não podia haver coisa mais emocionante nessa viagem.

E encontrei bem mais do que isso. Naquele mesmo cartório encontrei a certidão de nascimento de minha bisavó, mãe do velho Zequinha; encontrei a certidão de casamento de minha bisavó com meu bisavô; encontrei a certidão de casamento dos meus tataravós - os pais de minha bisavó (avós maternos do Zequinha); encontrei certidões de nascimento de irmãos e primos de minha bisavó... enfim, muita coisa.

Descobri que tanto o lado Rezende quanto o lado Dutra de Moraes dos pais do Zequinha vêm de Santo Antônio do Aventureiro, uma bela cidadezinha a menos de 20 km de Angustura. Fomos lá.

Visitamos a Igreja e fomos muito bem recebidos pela dona Zete e o sr. Álvaro, que cuidam dos livros da Igreja. Olhamos os livros e achamos informações bem bacanas. Anotamos tudo o que foi possível. Faltou foi tempo. Aventureiro que me espere para uma viagem em breve.

Do eixo Além Paraíba-Angustura-Aventureiro partimos para Natividade, pequena cidade do Noroeste Fluminense. Foi prá lá que meu avô se mudou ainda menino e foi lá que ele conheceu minha avó, mãe de minha mãe - a avó que eu não conheci.

Isso porque minha avó, que veio pro Rio com meu avô em 1943, deixou meu avô e os dois filhos para viver com outro homem, que, segundo consta, foi o grande amor da sua vida. Com ele, ela teve mais de dez filhos e o acompanhou até a morte.

Meu tio, abandonado ainda em amamentação, nunca quis saber da mãe. Passava mal só de ouvir falar. Mamãe, que tinha menos de três anos quando viu a mãe ir embora, deixou isso para trás e manteve algum contato com a mãe. Pouco, em respeito a meu avô, que também não queria saber nem de ouvir seu nome.

Quando minha irmã, Larissa, nasceu, mamãe levou-a para que a avó conhecesse a neta. A preta-velha - minha avó era negra e mãe-de-santo - teve orgulho da "neta loura". Larissa nasceu russa fazendo jus a origem do nome.

O casamento de minha avó com meu avô foi um desafio às tradições da família dele. O sr. Eduardo Dutra de Moraes, avô de meu avô, não era só um sujeito racista. Era um escravocrata. Quem sabe um dos monarquistas que conspiraram contra o Silva Jardim.

O irmão de Eduardo, o fazendeiro de Mar de Hespanha Belchior Dutra de Moraes, era mais um escravocrata. Há registros de que um grupo de escravos de Belchior assassinou o feitor de sua fazenda em reação à violência dos castigos recebidos.

Então, o meu avô casar-se com uma mulher negra parecia ser uma afronta. Ele não ligou. Passou por cima disso e veio com ela para cá. Teve dois filhos até ser abandonando. Ela não levou os filhos pois sabia que, com um novo homem e numa sociedade onde a mulher era - e às vezes ainda é - submissa, eles correriam o risco de serem agredidos e rejeitados pelo padrasto. Risco que eles não corriam com o pai.

Há quem possa julgar sua atitude - abandonar filhos e marido para viver com outro homem - leviana. Eu não. Principalmente porque este homem foi verdadeiramente o homem a quem ela amou e quis viver até morrer. Mas dizem que ela se escondia atrás das árvores para ver minha mãe e meu tio entrando e saindo da escola.

Minha avó já morreu faz muito tempo. Incomodava-me não conhecer seu rosto. Em Natividade encontramos a casa de Tia Nair, a única irmã viva de minha avó. Com mal de Alzheimer, ela não lembrou de minha mãe, muito menos de nós, a queM ela conhecia agora. Sentamos e tomamos um café, ouvindo o barulho das águas do rio Muriaé.

Não resisti e perguntei se havia uma foto de minha avó. Havia. Uma só. E de repente um mundo inteiro de subjetividades se destrói e se reconstrói. Havia um rosto. A foto foi tirada no casamento da filha de Tia Nair. O vestido foi enviado por minha mãe. Porque mamãe soube que ela não ía à festa pois não tinha roupa. Ainda bem.


Ainda há muito pra contar sobre tudo o que nos emocionou nessa viagem. Mas sei, também, o quanto isso seria enfadonho para os que me lêem. Fico por aqui.

Abraços e até!

sábado, abril 10, 2010

ÁGUA - TENTANDO ENTENDER PORQUE AS CHUVAS NO RJ FORAM TÃO FORTES

Interrompo o silêncio prolongado para falar um pouco sobre as chuvas, com suas causas e consequências, que atingiram a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Faz poucos dias que o hemisfério sul abandonou o verão e abraçou o outono. Estamos saindo de uma estação muito quente e passando por uma transição amena para o inverno.

É normal que as chuvas nessa época sejam intensas. O calor força a evaporação elevando as chuvas. Está no popular: são as chuvas de verão.

No entanto esse tipo de chuva "de verão", que é formada pela sequência evaporação-condensação-precipitação, é definida como chuva convectiva, pois após a precipitação, as águas escorrem, infiltram e voltam a evaporar, estabelecendo um ciclo.

Mas esse não foi o tipo de chuva que arrasou a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A tragédia foi provocada por uma chuva frontal, ou seja, que é produzida pelo encontro de duas massas de ar, sendo uma fria e uma quente.

Esse tipo de chuva é muito comum por aqui. O que não é comum é o volume das chuvas que tivemos, concentrado em tão pouco tempo. Para fins comparativos, observe o climograma a seguir:


Cingapura é uma cidade-estado da Ásia que possui clima equatorial. Caracteriza-se por ser um ambiente onde as chuvas são quase diárias, como certos locais da Amazônia onde o povo diz que chove todos os dias, muitas vezes com "hora marcada".

No gráfico, as chuvas são representadas pelas barras verticais azuis. Veja que no mês mais chuvoso, o nível médio de chuvas não passa dos 300mm/m². Do dia 05 para o dia 06 de abril, tivemos aqui na Região metropolitana do Rio de janeiro, 288mm/m² de chuvas em 24 horas.

Isso aconteceu porque a mEc (massa Equatoria continental) - massa quente e úmida que se forma sobre a floresta amazônica - se deslocou para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, como faz normalmente no verão, e por um capricho da natureza, encontrou-se com a mPa (massa Polar atlântica) - massa fria e úmida que se forma no extremo sul do atlântico, e tem o litoral brasileiro como uma de suas frentes de avanço. O choque térmico gerado no contato das massas força a condensação da umidade gerando as chuvas.

Observe esse esquema que mostra a expansão da mEc no verão e da mPa no inverno:


E o que percebemos nos dias seguintes foi que a massa fria se instalou sobre o Rio de Janeiro reduzindo as temperaturas na região e mantendo chuvas de menor intensidade.

Mas ainda persiste uma pergunta: se esse tipo de chuva é comum, porque o volume precipitado foi tão acima do normal?

As explicações são muitas e complexas. Vou me dedicar a explicar a influência do El Niño nesse processo.

O El Niño é um fenomeno climático que se manifesta pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico central. E esse aquecimento se dá quando ocorre a inversão no sentido dos ventos da Célula de Walker.

A Célula de Walker é formada por ventos paralelos à linha do Equador que sopram, normalmente, sobre o oceano Pacífico partindo da América do Sul em direção à Oceania. Essa corrente de ventos espalha as águas frias da corrente de Humboldt que vem da Antártica e banha a costa sulamericana. Na altura da Oceania, esses ventos sobem e retornam (em altitude) em direção à América do Sul. Na Costa Sulamericana, os ventos descem e estabelece-se uma célula convectiva de ventos (a de Walker).

Observe o esquema que apresenta a dinâmica normal da Célula de Walker:


No Brasil, também há uma célula girando nesse mesmo sentido. A corrente ascendente se apresenta na Amazônia (região da mEc) e a corrente descendente se apresenta sobre o Sertão Nordestino. São esses ventos, que atingem o Sertão de cima para baixo, que dificultam a subida e a condensação do vapor d'água na região gerando o clima seco que ali é tradicional.

Ocorre que os ventos da Célula de Walker que descem na costa sulamericana do Pacífico freiam os ventos que sobem na célula que gira entre a Amazônia e o Sertão. E tudo isso mantém o clima em sua normalidade.

Em ano de El Niño, a Célula de Walker se inverte e, em vez dos ventos descerem na costa sulamericana do Pacífico, eles sobem. E isso fortalece, acelera o giro da Célula entre a Amazônia e o Sertão. Assim, a Amazônia fica muito mais úmida e o sertão muito mais seco.

Veja agora a Célula de Walker girando ao contrario e fortalecendo a subida de de ventos na Amazônia:


Quando a mEc parte da Amazônia em ano de El Niño, ela carrega muito mais umidade. Quando essa massa (a mEc) se encontrou - sobre o Rio de Janeiro - com a mPa, que vinha do Oceano Atlântico Sul, também muito carregada, houve uma explosão de umidade.

Fizeram a conta. E disseram que São Pedro despejou 300 mil piscinas olímpicas em 24 horas sobre a região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Águas de Abril. Que esse povo não vai esquecer nunca mais.


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Fontes das imagens:

Climograma: ARAÚJO, Regina. MAGNOLI, Demétrio. Geografia Geral. Ed.Moderna. São Paulo. 2003.

Massas: www.cptec.inpe.br (adaptado)

Célula de Walker: www3.funceme.br

ÁGUA, TERRA, VIDAS E HUMANIDADES - BREVE SÉRIE SOBRE AS CHUVAS NO RIO DE JANEIRO

A promessa é humilde. Pretendo colocar aqui alguns textos que serão um esforço para explicar a questão das chuvas que devastaram a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, desde as causas das chuvas até os movimentos de solidariedade que estamos presenciando e participando nesse momento.

O primeiro texto é sobre a água que desabou sobre nós.

domingo, março 21, 2010

OS PLAGIADORES: ESSA PRAGA

Não é novidade pra ninguém que frequenta os blogs que eu indico na coluna "Dessa água eu bebo", à direita, que veio à tona um dos casos mais escandalosos de plágio da internet de que se tem notícia. O plagiador, Roberto Chalita, copiou da forma mais descarada os textos de várias pessoas que integram nossa rede de blogueiros. Usou fotos que não eram suas como se fossem e se apropriou até mesmo do avô de um dos blogueiros. Entenda tudo o que aconteceu lendo isso aqui, no Buteco do Edu, um dos mais plagiados pelo sujeito.

Verifiquei os blogs do plagiador para saber se eu também tinha sido plagiado. Mas não encontrei nada. No entanto, há tempos que eu pesquiso textos meus na internet. Já encontrei vários mas sempre encontro a citação do meu nome enquanto autor e a citação do(s) meu(s) blog(s) enquanto fonte(s). Nunca me incomodou. Até gosto. Fico feliz quando alguém multiplica minhas ideias respeitando a autoria do texto.

Mas na noite da última sexta-feira (19/03/2010) notei que um texto meu ganhava popularidade acima da média pelo volume e o teor dos comentários recebidos. O texto foi publicado por mim no blog Geografia: Conceitos e Temas e o título é O Conceito de Lugar. Clique para ler o texto ou apenas mantenha esta janela aberta para que você possa comparar o conteúdo e certificar-se dos plágios descarados que encontrei...

É. Resolvi pesquisar possíveis replicações desse texto na internet. Para minha surpresa, encontrei meu texto copiado integralmente em dois blogs e um parágrafo transcrito, também integralmente, em um terceiro blog.

Vou mostrar pra vocês, para que vocês vejam com os próprios olhos e a coisa não fique restrita às minhas palavras.

Primeiro o plagiador de um parágrafo só.

Você pode ver o plágio no blog do plagiador clicando aqui. É possível que esse link não funcione caso o plagiador retire a postagem covardemente.

Para isso, fique com a imagem da tela capturada:



Notou que o terceiro parágrafo do meu texto foi copiado?

Bom. Eu resolvi deixar uma mensagem para o plagiador. Disse à ele o seguinte:

Fábio, ficaria muito satisfeito se você publicasse em seu blog que esse trecho que preenche esta postagem foi copiado integralmente do meu blog (http://conceitosetemas.blogspot.com/2008/10/o-conceito-de-lugar.html) e é de minha autoria.

Fui diplomático, vejam só. Embora tenha nojo dos plagiadores, tenho nojo também de quem vive de explorar essa gente. Só quero a citação do meu nome e do meu blog. É o mínimo que se espera de um professor e de qualquer pessoa que publique textos na internet ou fora dela.

Caso a postagem seja removida, minha mensagem desaparecerá. Então veja a imagem da tela capturada contendo a mensagem enviada.



Viram? Pois bem. Até agora o homem não se manifestou. Não sei se não viu a mensagem ou se viu e a ignorou solenemente. Mas vamos adiante.

Encontrei outro plagiador. Este copiou o texto integralmente mudando apenas o título. Você pode ver o plágio clicando aqui. Mas para o caso do texto também ser removido, deixo a imagem do plágio cara-de-pau capturada. Veja só:



Também consta na postagem meu comentário pedindo a citação do meu nome e da fonte.

Escrevi para ele o seguinte:

José Mário Corrêa, ficaria muito satisfeito se você indicasse nessa postagem de seu blog que esse texto foi copiado integralmente do meu blog (http://conceitosetemas.blogspot.com/2008/10/o-conceito-de-lugar.html) e é de minha autoria.

Para o caso dele ser apagado ou da própria postagem ser apagada - e nunca é demais ser precavido - também capturei a imagem da tela com meu comentário. Olha só:



Este plagiador até agora também não se manifestou. Vou aguardar um pouco mais para continuar insistindo na citação da autoria e da fonte.

Mas vamos ao terceiro caso. Encontrei o blog de um professor de Geografia, Eleano Alves, que também transcreveu na íntegra meu texto. O blog se chama Sala de Geografia. O plágio também foi registrado aqui, em duas imagens. Veja:





Mas que cara-de-pau, não é? Então. Voce deve estar se perguntando onde está o link para a postagem do plagiador. Pois é, caros leitores. O que não faz a falta de humildade e a covardia... Aguarde e você vai entender... Vejam a mensagem que enviei para o professor Eleano:



Ao ler a mensagem, o plagiador me respondeu por email assim:



E eu me perguntei: será que fonte escreve texto ou todo texto tem um autor?

Respondi fazendo questão da publicação do meu nome enquanto autor. Veja a imagem do meu email:



Depois disso, o plagiador retirou covardemente a postagem. Usou meu texto durante 40 dias como se fosse seu e não teve a humildade de citar o meu nome como autor.

Eu já encontrei vários textos meus por aí na internet, mas sempre com citação, o que me dá uma satisfação enorme. Dois exemplos surgem no blog Cravo e Canela, escrito pela leitora Gabriela. Ela já transcreveu dois textos meus na íntegra, mas sempre com as devidas citações. Voce pode ver isso aqui e aqui. Isso me deixa sempre muito feliz.

Outro exemplo foi dado pela leitora Fernanda Machado que pediu para citar meu texto - esse mesmo sobre o conceito de Lugar - em sua tese. Trocamos alguns emails e ela enviou a tese para aprovação na Espanha. Ela ainda não sabe se eles lá permitirão a citação de um texto retirado de um blog (a academia tem suas exigências) mas ela ficou de me dar um retorno sobre isso.

Estou certo de que vocês enxergam a diferença do comportamento dos plagiadores e dessas leitoras que acabei de citar.

Para mim, a maior lição que deve brotar desses casos de plágio - que ocorreram comigo, com meus camaradas e que certamente ocorre com muita gente por aí - é que nós temos a obrigação de não deixar isso impune. Para que a sociedade se dê conta de que a internet não é um ambiente absolutamente incontrolável. De que o plágio na internet pode ser descoberto e que as consequências podem ser ruins para os plagiadores.

Manterei vocês informados sobre a evolução desse troço.

Até.

segunda-feira, março 15, 2010

PAPO RÁPIDO SOBRE A EMENDA IBSEN PINHEIRO

Caríssimos, há muito - desde que vovó foi oló - eu não rabisco nada por aqui. Agradeço mais uma vez por todo o carinho das mensagens que recebi. Mas estou passando aqui para - rapidinho - dar um curto pitaco sobre essa sarrafascada que cresce no ventre da pátria e atende pelo nome de "Emenda Ibsen Pinheiro".

Não sou a favor do troço conforme está previsto. Acho que a medida revela uma burrice histórica. Sim, pois, tomando-se o Rio de Janeiro como exemplo - e não há dúvidas de que o estado e seus municípios mais ligados ao ouro negro serão os mais afetados do país -, haveria de se lembrar dos efeitos lancinantes e economicamente catastróficos da transferência abrupta da capital para Brasília.

Mas não sou, de todo, contra a distribuição dos recursos oriundos de atividades extrativistas. Um país tão profundamente marcado por desigualdades regionais como o Brasil tem a obrigação de pensar em mecanismos que sejam capazes de melhorar essa situação. E essa pode ser uma opção. Ou será que um projeto de Estado deve estar amarrado à sorte e à geologia das unidades federativas?

É. O modelo federativo não me cheira muito bem. As vezes penso que um Estado só se organiza como federação quando falta coragem para encarar o desafio de ser um Estado Unitário ou quando fala mais alto às unidades a conveniência de estar separado dos outros, para poder ditar suas próprias regras, e junto aos outros para filar as boas casquinhas que pululam aqui e acolá.

Então eu acho que esse troço tem que sair do papel porém com um planejamento honesto, coerente com os anseios da nação, e absolutamente independente da politicagem partidária. As receitas do petróleo deveriam ser distribuídas sim. Mas não dá pra fazer isso de uma vez. Todo o processo deveria levar pelo menos 10 anos. Ou 20 anos. Ou 30, mas até lá, se não surgir outro pré-sal, o petróleo já era.

A Alemanha nos dá bons exemplos. Bonn foi a capital escolhida quando da divisão do país. Após a reunificação, os alemães montaram um projeto de transferência da capital para Berlim que duraria 30 anos, ou seja, ainda está em curso. Várias embaixadas e estatais alemãs permaneceram na cidade a fim de evitar seu esvaziamento econômico e político repentino.

Outro exemplo alemão é o da integração da parte oriental. Sabe-se de longa data que o quadro econômico e social da parte oriental era lamentável em 1990. Para atenuar a forte desigualdade regional forjada pela reunificação, os alemães criaram uma "sobretaxa de solidariedade", ou seja, um imposto a ser pago pelos cidadãos do lado ocidental para melhorar o desenvolvimento do lado oriental. Uma medida que se mostrou eficaz e que minimizou vários problemas.

Os que não me conhecem, saibam que passo longe de defender uma germanização ou europeização do Brasil. Não. Mas essas medidas precipitadas, tomadas de ontem pra hoje, e sem planejamento que temos visto, só tendem a prejudicar a sociedade. Qualquer semelhança com o caso do ENEM 2009 é absolutamente intencional.

Até.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

E VOVÓ OCÉLIA FOI OLÓ

Acordei na quarta-feira de cinzas recebendo uma das piores notícias familiares de minha vida:

- Diego, a sua avó faleceu.

Cumprimentei a dama da foice que subtraiu o sopro de vida da minha velha avó, a caçula dos tantos que nem sei quantos filhos que o seu Deocleciano Porto teve no povoado de Rio Seco, em Bacaxá, o segundo distrito do Município de Saquarema, na região dos Lagos do Rio de Janeiro.

Tomei as providências imediatas para partir rumo ao Engenho da Rainha a fim de encontrar papai e com ele subir a serra para Nova Friburgo, onde vovó - neta de um português com uma índia Tamoio da região de Rio Seco - foi oló.

Fomos. Muita gente saiu de vários cantos do Estado do Rio de Janeiro para estar lá na última hora. Da capital, de Macaé, de Rio das Ostras... Minha irmã, sabe-se lá porque essas coisas acontecem, já estava em Nova Friburgo, no sítio do tio do marido, onde passou o carnaval.

Na viagem de ida, durante o velório e o sepultamento, e durante a viagem de volta, tive tempo para refletir sobre o modo de vida que vovó escolheu. Para a maioria das pessoas, ela era o que se chama de "cabeça-dura", uma irredutível, uma inflexível em suas opiniões, posições e vontades. Vovó não era fácil de conviver. Pedra 90, só enfrenta quem aguenta. Explico.

Nos últimos anos, vovó ficou diabética além de conviver com os mais diversos problemas de saúde que exigem uma vida muito regrada e com dietas rigorosas. Mas vovó gostava muito de comer. E esse muito deve ser entendido na mais profunda acepção da palavra. O negócio dela era cozido, rabada, feijoada, e outras comilanças capazes de derrubar homens de estiva.

Até aí tudo bem. Era só beliscar um pouquinho "pra não aguar". Mas pra vovó, comer bem significava armar pratos de fazer qualquer um corar de vergonha. E ela não abria mão. Recusava qualquer advertência. Enchia o prato de feijão com miúdos e não deixava panela vazia. Seu pensamento era simples: fazer aquelas dietas seria um sofrimento que prolongaria uma vida em sofrimento. Era preferível ser feliz no tempo que tinha.

E o que eu fiquei pensando sobre isso é que vovó não tolerava que alguém tomasse decisões sobre sua vida por ela. Ela queria poder decidir livremente o caminho a seguir, ainda que este fosse prejudicial à sua saúde.

Ninguém sabe qual é a melhor maneira - entre todas as maneiras possíveis - de se viver a vida. Mas é certo que uma vida livre é melhor do que uma vida conduzida pela vontade dos outros. Ter a vida conduzida pela vontade dos outros é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Exemplifico.

Trabalho com vestibulandos. Já conheci muita gente que tentou passar para medicina por que os pais sonhavam com isso. Mas, no fundo, os caras sonhavam em fazer Oceanografia, Filosofia, Ciências Sociais, Música com graduação em Fagote, Oboé ou Tuba etc.

E eles não seguiam os passos que desejavam para seguir os passos sonhados pelos seus mais velhos, o que poderia, no futuro, ser motivo de profunda frustração. Afinal, deve ser doído demais chegar ao fim da vida com a convicção de que tudo o que se fez ao longo de tantos anos não valeu para si mesmo.

E isso vai muito além de uma escolha de profissão. Vale para tudo.

E vovó só fazia o que achava que tinha que fazer. Ninguém pode saber se acertou em todas as escolhas feitas ao longo de uma vida. O edifício da dúvida sempre existirá. Teria sido melhor se tivesse seguido outro caminho? Em certas situações é impossível saber, mas entre a escolha livre e a arbitrariedade alheia, a escolha livre é a melhor opção.

Aprendi com a sabedoria do pensamento africano que quando a morte leva o corpo nós permanecemos vivos enquanto somos lembrados por nossos filhos - a maior obra que um homem pode produzir - sejam eles biológicos ou do coração.

Eis, aqui, vovó, na última vez em que esteve cercada por todos os seus netos.


Dedico esse texto a Daniel, meu filho, o único bisneto que ela pôde ter em vida. Ele saberá muito sobre sua bisavó e a manterá viva na lembrança de seus filhos e netos, que desejo que façam o mesmo com seus filhos e netos.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

SAMBA DE ENREDO, HISTÓRIA E ARTE

Não preciso dizer nada para falar da importância dos camaradas Luiz Antonio Simas e Alberto Mussa e o seu trabalho monumental sobre o bum-bum-paticumbum-prugurundum dos sambas de enredo do carnaval desta cidade de São Sebastião. Está tudo escrito AQUI, pelo próprio Simas.

Interrompo o prolongado silêncio deste blog para divulgar o furdunço que se anuncia com este convite.


Até lá.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

EVOÉ!

Aqui em casa, passada a Folia de Reis, está aberta a temporada mundana que precede e invade os festejos de Momo.

Evoé, meus camaradas!