terça-feira, dezembro 18, 2007

"E A CIGARRA QUANDO CANTA, MORRE..."

Dois gigantes do samba, da música popular brasileira, Paulo César Pinheiro e João Nogueira, registraram no penúltimo verso do monumental samba “Minha Missão” essa que é uma das lendas que fez e faz parte do imaginário suburbano e de outras bandas também. Reza a lenda que a cigarra, de tanto cantar, explode, e acaba mortinha da silva, provavelmente presa à casca de uma árvore.

Os mais antigos, sempre mais sabidos do que os mais moços, também dizem que, quando a cigarra canta muito num fim de tarde, prenuncia a vinda de um dia ensolarado na alvorada vindoura. E tal sabedoria sempre se confirmou. Pelo menos nos tempos em que eu via a chegada de Vesper ao som das suas cantorias no Engenho da Rainha, a estrela matutina trazia uma manhã brilhantemente ensolarada.



Me lembro de um sábado de verão da minha infância em que saí pela rua catando as cigarras mortas com o Zelão, um garoto que tinha mâe rica e não ficou muito tempo pelas bandas do subúrbio. Acho que foi morar na Barra, o infeliz. Catamos uma vinte “cigarras mortas”. Fizemos isso porque o Zelão, que era reencarnacionista aos 10 anos de idade, queria me provar que elas - as cigarras - “desencarnavam” e reencarnavam.

Depois da peregrinação, ele falou repleto de seriedade:

- Tá vendo, Diego. Elas Morrem e deixam o corpo, mas a alma vai embora, segue o caminho.

Eu, que tinha os dois pés atrás com essa história, perguntei pro Zelão se ele acreditava que a cigarra poderia ser tão leve quanto aquelas que tínhamos em nossas mãos. Perguntei mas já tinha certeza de que não, não era possível. Aos sete anos, no meu primeiro dia de férias, em 9 de dezembro de 1989, saí pra jogar futebol com os colegas e voltei pra casa com uma fratura grau 3 (quase exposta) na Tíbia, outra, de grau 2, no Perônio e um deslocamento na área de crescimento, que por sorte e pelo excelente atendimento que recebi do Dr. Claudio, no Hospital Geral de Bonsucesso, não me deixou manco, no estilo “ponto e vírgula”. Passei os três meses do verão com a perna direita engessada e um ano de castigo, proibido de jogar futebol.

Quebrei a perna porque quando voltava pra casa, resolvi escalar um morrinho de pedras atrás do bloco 8, e, no meio do trajeto, fui abordado por uma cigarra, que girou umas sete vezes ao redor da minha cabeça, passando sempre muito próximo ao meu rosto. Como sempre tive nojo de insetos, pulei da pedra onde estava, sem calcular que a altura passava de 6 metros, e acabei caindo com um péssimo apoio de perna, fraturando meus ossos violentamente.

Expus minha certeza de que aquilo não era possível ao Zelão, mas ele rebateu-me com um argumento surpreendente...

- O peso da cigarra está na alma, Diego. Quando a alma sai, o corpo fica leveigual a esses aqui, ó! Tá vendo esse buraquinho nas costas dela? É por onde a alma sai...

Fui me afastando de fininho e deixei o Zelão falando com as cigarras. Nunca mais procurei por ele.Tinha certeza de que estava no mundo das drogas e meu pai me dizia que meninos assim não eram boa companhia.

Neste fim de tarde tijucano, as cigarras cantam. Se esguelam, as coitadas. Tanto que parece que vão morrer de cantar. Eu, de férias, espero que elas não me desiludam amanhã e tragam uma alvorada claríssima, repleta de sol.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

PRIMEIRO ANIVERSÁRIO

Foi precisamente no dia 17 de dezemro de 2006, portanto há um ano atrás, que nasceu o Geografias Suburbanas. É provável que isso seja motivo de felicidade apenas para mim, mas isso é o que importa. Afinal, o trabalho de escrever e publicar é todo meu, e se assim for o júbilo por esta data, nada pode ser mais coerente.
Com as postagens, exercitei a escrita, e escrever é algo que sempre gostei de fazer – e descobri que faço bem. Expus minhas idéias, exercendo minha cidadania mais plenamente. Fiz amizade e até inimizades – ambas, inesperadas. Recebi uma média de 1000 visitas por mês, a maioria de desconhecidos, mas também de amigos e alguns alunos. Não é nenhum recorde mas – confesso – jamais vislumbrei tal visibilidade para meus escritos.
Para celebrar esta data, reformei o visual do blog e estou criando a sessão “ Há Um Ano Atrás...”, onde se verá o link do texto publicado na mesma data, do ano anterior. Hoje, esta sessão traz o texto “Muito Além das Cordas de Aço”, publicado em homenagem ao meu avô José Moreira, malandro e sambista. Espero ter tempo e paciência para manter essas atualizações em dia.
E trago este post especial, com o video “ O Samba Pede Pasagem”, que fiz em homenagem ao blog, ao Samba, aos Sambistas e ao Subúrbio. Nele, relembro velhos bambas e faço meu tributo aos mestres dos dias atuais, que embalam o Subúrbio com sua Trilha Sonora Oficial.

Certamente muitos sambistas farão falta neste video mas nossa maior homenagem será guardá-los na memória e cantar seus sambas nas rodas onde mantemos vivo o Axé dessa Cidade. Em “O Samba Pede Passagem” são lembrados 80 gigantes do samba. São eles – na ordem em que aparecem no video:
Noel Rosa, Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Bahiana, Tia Ciata, Zé Espinguela, Paulo da Portela, Padeirinho, Benedito Lacerda, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Assis Valente, Dilermando Reis, Ismael Silva, Zé com Fome, Vassourinha, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Bide e Marçal, Mário Reis, Alcides Histórico, Aniceto do Império, Anescarzinho, Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, Dolores Duran, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Henricão, Jackson do Pandeiro, Jacob do Bandolim, Herivelto Martins, Waldir Azevedo, Dino 7 Cordas, Hélio Delmiro, Baden Powell, Guilherme de Brito, Manacéia, Monsueto, Silas de Oliveira, Zé Kéti, Dona Ivone Lara, Jamelão, Monarco, Noca da Portela, Roberto Silva, Ciro Monteiro, Dorival Caymmi, Candeia, Moreira da Silva, Jair do Cavaco, Wilson Moreira, Nei Lopes, Vinícius de Moraes, Nelson Sargento, Walter Alfaiate, Roberto Ribeiro, Nelson Rufino, Chico Buarque, João Bosco, Aldir Blanc, Moacyr Luz, Paulo César Pinheiro, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, João Nogueira, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Délcio Carvalho, Claudio Jorge, Martinho da Vila, Luiz Carlos da Vila, Almir Guineto, Wilson das Neves e Zeca Pagodinho.
Este filme é um presente para este blog, mas que, certamente, será um presente para todos os que são amantes do samba, das batucadas de bamba e do Subúrbio do Rio. Em breve, publico-o aqui.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

EXISTE VIDA APÓS NOVEMBRO!

Pois é, queridos. Essa é a conclusão a que chego depois da inacreditável jornada que o vestibular impôs aos candidatos e, obviamente, aos professores, que, como eu, ralam pra ajudar a essa garotada a passar nas provas. O calendário foi impressionante e só acabou agora em dezembro nesse último domingo. Puxado pra cacete. Saca só:

11/11/2007 - UFRJ - Não-específica.
15/11/2007 - UFF - Não-específica. Quinta, bem no feriado...
18/11/2007 - UNIRIO - Não-específica.
25/11/2007 - UFRJ - Específica.
01/12/2007 - UERJ - Específica.
08/12/2007 - UFF - Específica.

Foram seis provas em menos de trinta dias. Aula em cima de aula. Alunos e mais alunos. Dúvidas e mais dúvidas. Cansaço e mais cansaço.

O famoso "pacotão" me fez abandonar parcialmente os alunos de colégio. Mas não dá pra fugir da coreção das provas do quarto bimestre e das provas finais que todos são obrigados a fazer. Então, como se já não bastasse o pacote - de aulas - encarei também dezenas de pacotes - de provas pra corrigir. Foram 600 provas corrigidas em meio a esse turbilhão de aulas.

Dá pra entender porque o Geografias Suburbanas ficou mudo em Novembro?