sexta-feira, outubro 19, 2007

PROJETO PARA O MARACANÃ - 2014

Os especuladores não perdem tempo. Depois da palhaçada e da roubalheira que foi o Pan-Americano, agora a idéia é trazer a copa do mundo para o Brasil. Antes de tudo: sou apaixonado por futebol, pelo Maracanã, pelo subúrbio e sua gente, com seus hábitos, que também são os meus. Mas não acho uma boa idéia termos a copa do mundo aqui na Terra Brasilis. É claro que eu gostaria de ver uma final de copa no Maior do Mundo. Seria uma grande realização pessoal. Mas sabendo do que vem por trás (literalmente) fico o contra o fato de termos a copa aqui. O que vem por trás é de foder! Foder o povo, que pagou a conta do Pan, e não viu a bazófia dos especuladores pois ela foi escondida por baixo dos panos. Com a Copa não será diferente. Talvez seja pior.

O projeto para o Maracanã inclui a reforma do estádio, o que parece bom, mas olhando os projetos, a ânsia de vômito é inevitável. Além dos projetos loucos de reforma feitos por arquitetos porras-loucas - mas ultra modernos, segundo eles mesmos e a escumalha da Barra - a reforma da região do Maraca inclui construção de dois condomínios e um Centro Comercial - mais um shopping, a casa do consumo. Vejam o que pretendem fazer, os especuladores de merda, com o glorioso.


Uma merda. Parece a nave espacial da Xuxa. Esse X cruzando o teto do estádio é suspeito pra cacete. Além disso, em vários lugares do mundo, a experiência de cobrir o teto do estádio foi um fracasso, gerando vários problemas como o encarecimento da manutenção do estadio - alguém duvida da ânsia da empreiteiras? - e os problemas para a qualidade da grama, que deixa de receber a água natural das chuvas. Sem contar que com essa cobertura vai ficar quente pra caralho lá dentro.

De interessante, o projeto tem apenas a idéia do estacionamento sobre a linha férrea, já que estacionamento é algo que falta na região. Em dia de jogo no Maior do Mundo, a região fica sempre intransitável. Piora com os carros parados em cima das calçadas, dificultando também a circulação das pessoas que precisam andar pelas ruas. Se alguém estiver de cadeira de rodas, certamente terá que passar pelo meio da rua. A integração entre o trem e o Metrô do Maracanã também está prevista, mas, convenhamos, nós não precisamos esperar até a copa de 2014 pra cobrar essa obra tão simples.

No entanto, construir condomínios e shoppings é o que dá dinheiro. Facilitar a vida do povo que trabalha na região, que estuda na UERJ, mas mora longe, na Baixada por exemplo, é secundário. Foda-se o povo e a estação intermodal. Se a Copa vier talvez a estação saia pois vai ser mais uma obra pra lavar o dinheiro sujo que vai sustentar mais essa palhaçada. Vejam o projeto para o entorno.



Eu, amante do futebol e do Maraca, desde já manifesto minha opinião contra as aberrações a que pretendem submeter o Gigante Glorioso, uma das maiores maravilhas do mundo, no coração do Subúrbio do Rio!

domingo, outubro 14, 2007

TRADIÇÕES SUBURBANAS

Não há um hábito mais belo e mais suburbano do que o papo em família ou entre amigos. Já tinha comentado isso aqui quando demos - leiam - um pulo no Irajá. E foi exatamente isso o que fiz nesse feriadão. Quinta-feira, depois de uma jornada pesada de trabalho em sala de aula, me senti mal e fui pra casa. Um sufoco pra conseguir alguém que encarasse o restante da minha jornada, que terminaria às dez e meia da noite, depois de mais quatro horas de aulas pesadas - estamos na reta final!

Bati um fio pra minha velha mãe. Pouco depois ela chegava aqui em casa, cruzando o subúrbio, do Engenho da Rainha até a Tijuca, onde moro. E só foi embora hoje, no fim da tarde. Nesses dias, nós cultivamos o papo em família.

Minha mãe tem algo de especial, que me emociona. Antes de tudo, ela é minha mãe, pô! Se eu não me emocionasse só em vê-la eu seria um merda. Mas a velha tem uma coisa que me comove muito mais: é a sabedoria dos antigos.

Sua memória para as coisas práticas do cotidiano é pífia. Não guarda o nome de ninguém, não sabe o aniversário de ninguém, sempre troca letras de músicas - e ela erra com convicção quando canta! Essas coisas. Mas essa mesma memória foi capaz de registrar histórias e mandingas - tradições suburbanas do "tempo de Don Don" - que fizeram e fazem parte do meu dia-a-dia até hoje.

Exemplifico.

Aqui em casa nunca se pendura par de meias lavadas com a boca virada pra baixo. A tradição diz que, com os pés-de-meia dispostos desse jeito, não há quem consiga juntar algum dinheiro, ainda que sejam só uns trocados.

Aqui em casa também não se vê sapato amarrado com o dono descalço. Jamais! Os antigos diziam que tal descuido amarra os caminhos do sujeito, limitando seu progresso na vida.

Respeito essas tradições que aprendi e continuo aprendendo. Há quem diga que é tudo, apenas, superstição. Pois bem. Mas se isso faz parte da minha cultura, da minha formação, algo que certamente vem sendo transmitido há muitos anos através de várias gerações - no velho estilo dos irmãos da diáspora - não pretendo abandonar ou subverter nenhuma dessas tradições, em favor de uma pretensa superioridade intelectual.

Exatamente porque é a cultura - parte constitutiva também dos intelectuais - que possui a primazia de nos tornar únicos, e de nos identificar em coletividades de pequena escala, num mundo onde tudo, no campo da cultura, caminha para a uniformização, para a homogeneização e para a pobreza, por conta da ação das forças hegemônicas, contra as riquezas da diversidade cultural - a única obra que a coletividade humana, em sua totalidade, de fato, conseguiu construir.

Um Abraço Solidário!

segunda-feira, outubro 08, 2007

CULTURA DE GOOGLE. DE QUEM É A CULPA?

Quando entrei no primeiro período de faculdade de geografia da Uerj, fiz um curso de História Econômica Geral. O professor, ao nos passar a bibliografia, foi logo questionado pelo Andrezinho, um daqueles alunos que, desde o primeiro dia de aula, todos sabiam que militaria em grupos de orientação marxista. O Andrezinho perguntou pro professor porque não havia nenhum texto escrito pelo Marx naquela bibliografia. O professor argumentou que nem sempre é necessário recorrer às fontes diretas, mas que vários dos textos da bibliografia eram influenciados pelo pensamento econômico marxista, e que, portanto, estaríamos em contato com as informações necessárias para a compreensão dos conteúdos que nos deveriam ser transmitidos em um curso desse tipo.

Claro. Imagine se tivéssemos que ler tudo o que foi escrito por Ratzel, La Blache, Humboldt, Ritter, Lacoste, Rochefort, Raffestin, Harvey, Milton Santos e outros autores de obras importantes e emblemáticas para saber alguma coisa de geografia? Todos estes, e outros autores, produziram conhecimentos importantes para a geografia moderna (ou para as geografias pós-modernas, como diria Harvey). Suas obras são fundamentais e em muitos casos são revolucionárias pois transformaram radicalmente o pensamento geográfico. Mas ter contato com todas elas é algo complicado, que consome muito tempo de estudo e, quase sempre, muito dinheiro pra comprar tantos livros. Não é pra qualquer um.

Por isso algumas obras de pesquisadores que se dedicam exclusivamente a esses estudos mais aprofundados podem construir painéis sintéticos que permitam ao leitor o contato com a essência do que foi produzido pelos autores mais importantes, reunindo os conceitos e os temas de maior relevância em cada área. É isso. Podemos conhecer a essência do pensamento marxista sem ter lido os textos escritos pelo velho barbudo.

Porém nada impede ao leitor que busque confrontar as idéias apresentadas pelos pesquisadores com os originais. É uma questão que depende do interesse de cada um sobre os assuntos. No entanto, se o trabalho do pesquisador for superficial, tiver erros, distorções ou manipulações das idéias originais, o leitor só poderá fazer essa crítica se conhecer os originais. No caso de um curso universitário, cabe ao professor orientar seus alunos nesse sentido, pois dele espera-se esse conhecimento e essa capacidade crítica.

O problema que surge com a internet, para essas questões, é que cresce de modo rápido e incontrolável o número de resumos de livros, trabalhos de pesquisa, textos e resenhas sobre os mais diversos assuntos. E a facilidade de acesso a essas informações através dos sites de busca como o Google, gera uma situação perigosa, especialmente quando se trata de informações científicas, seja no caso da geografia, da história, das ciências matemáticas ou no campo biomédico, já que nem sempre as informações publicadas são, de todo confiáveis.

E um dos reflexos mais claros dessa situação está nos estudantes da educação fundamental e do ensino médio. Estes garotos e garotas nascidos na sociedade da informação vêm utilizando a internet como principal fonte de pesquisa. Google e Wikipédia são consultados sem reservas pelos alunos que, seduzidos pela rapidez, copiam e colam textos obtidos através desses sites, sem a preocupação de uma análise mais crítica. Livram-se dos trabalhos e partem para o lazer. É fácil, é prático, mas é arriscado.

O problema vai além. Até mesmo os jornais de grande circulação, como O Globo, já mostraram várias vezes a sua capacidade de publicar informações sem uma pesquisa mais cuidadosa. Na terça-feira, dia 02/10, o Ancelmo Góis publicou uma nota irônica n’O Globo afirmando que o curso em que leciono teria feito uma proposta de redação onde os alunos deveriam escrever uma carta ao capitão Nascimento, personagem do filme Topa de Elite, o maior fenômeno de pirataria dos últimos anos, lançado nos cinemas nesta última sexta-feira. Ancelmo deixou seus leitores entenderem que o curso estaria estimulando o consumo da pirataria ao elaborar tal proposta em seu simulado dominical.

No entanto, o que Ancelmo não soube (por que não quis saber, que fique claro!) é que a proposta foi baseada em cinco textos publicados pelo mesmo jornal que o emprega, onde vários pontos de vista sobre o filme eram expostos por jornalistas, atores e leitores que tiveram acesso à obra. Além disso, o livro que deu origem ao filme já está publicado faz um tempo. No ano passado uma companheira de Ancelmo atribuiu ao capoeirista Besouro Magangá, ou Mangangá para outros, os versos de Fita Amarela, samba do Noel Rosa. Um erro grotesco, advindo quase certamente de uma pesquisa mal feita no Google.

Mas de quem é a culpa? Do Google? Acho que não. Há quem tenha preconceito contra os usuários dessa máquina de busca exatamente porque ela é o canal usado pela maioria desses pragmáticos que, por conta da preguiça intelectual, copiam qualquer informação sem uma pesquisa mais aprofundada. No entanto, deve-se ressaltar que há também os usuários que buscam confirmar as informações obtidas, fazendo pesquisam mais cuidadosas.

Por isso não acho que a culpa seja do Google mas, exatamente do sujeito que está de frente pra tela. Cabe a ele selecionar o que serve e o que não serve. Já li coisas muito boas no site Wikipédia mas também já li asneiras deploráveis. E isso vale pra tudo. Recentemente encontrei um velho amigo. Aliás, encontrei vários nas últimas semanas. Ele me disse que não iria à Bienal do Livro e listou as aberrações que eu encontraria por lá. Um radical. Convencido de que mesmo diante de tantos problemas eu encontraria algo de bom, fui. E fui no último dia, repleto de promoções.

É verdade que a Bienal parecia um shopping. Lotada, crianças histéricas em filas gigantes para pegar autógrafos de gringa autora de livro 'Teen', comidas e bebidas caríssimas... uma lástima. Não posso deixar de mencionar o mercado religioso que dominou, no somatório, quase um terço do espaço da feira. Livrarias evangélicas e esotéricas aos montes; Chico Xavier, uma celebridade. Encarei a visita como a tarefa árdua de um garimpeiro. E achei jóias preciosas.

Morri em umas trezentas pratas bem gastas aproveitando algumas das melhores promoções em compras que me deixaram muito satisfeito. Destaque para o livro do Manuel Castells, A Sociedade em Rede e para o livro do Décio Freitas, Palmares: A Guerra dos Escravos. Comprei os dois no estande da editora Paz e Terra aproveitando o desconto de 50%. De 110 reais, paguei 55 pratas pelos dois, sendo que só o do Castells custava 75 no preço original. E o livro é um tratado sobre a globalização, uma daquelas obras que se tornam fundamentais, daqueles autores fundamentais, mas que às vezes só podemos ler se nos sobram tempo e algum dinheiro.

É por isso que eu acho que a mediocridade não está no Google ou na Wikipédia, mas em quem consulta estas ferramentas e como o faz. O mesmo vale para a Bienal. Não importa o que ela apresenta em seu aspecto global. Conta aquilo que cada um busca de especial dentro desses universos múltiplos, e nos dois casos sempre é possível encontrar algo de bom. Ser radical ao extremo, nesses casos, pode nos tornar involuntariamente cegos.

Um Abraço Solidário!

terça-feira, outubro 02, 2007

LULA NA ONU

Faz muito tempo que o Brasil tem o privilégio de realizar o primeiro discurso na Assembléia Geral da ONU, o que reflete a importância da diplomacia brasileira, que vem, desde os tempos do Barão do Rio Branco, obtendo conquistas no caminho da paz e dos acordos diplomáticos.



Comentei tal fato em sala, hoje, citando o recente discurso do Lula no órgão. Disse à eles:


- Queridos, há anos que o Brasil abre a assembléia geral da ONU, o que nos confere posição de destaque e reconhece a diplomacia de paz que orienta nossa política externa. Na semana passada o Lula fez o discurso de aber...


Fui interrompido por gritos, zumbidos, reclamações de todos os tipos. Parei a aula. Perguntei quem tinha lido o discurso do Lula. Sabendo a resposta, concluí que as manifestações de contrariedade vinham do preconceito contra o governo do operário, nordestino, analfabeto e populista. Respondi:

- Para que se tenha autoridade intelectual para criticar o que quer que seja, é necessário saber do que se trata. Nesse caso, vocês, antes de falarem qualquer coisa, devem ler o texto do discurso na íntegra e depois tirar suas conclusões, sem deixar-se manipular pela grande imprensa que os rodeia.

Eis a íntegra do discurso do Presidente Lula na Assembléia Geral da ONU, em 2007.
Senhoras e senhores delegados,

Cumprimento-o, senhor secretário-geral, por ter sido escolhido para ocupar posição tão relevante no sistema internacional. Saúdo sua decisão de promover debates de alto nível sobre o gravíssimo problema das mudanças climáticas. É salutar que essa reflexão ocorra no âmbito das Nações Unidas. Não nos iludamos: se o modelo de desenvolvimento global não for repensado, crescem os riscos de uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes. É preciso reverter essa lógica aparentemente realista e sofisticada, mas na verdade anacrônica, predatória e insensata, da multiplicação do lucro e da riqueza a qualquer preço.

Há preços que a humanidade não pode pagar, sob pena de destruir as fontes materiais e espirituais da existência coletiva, sob pena de destruir-se a si mesma. A perenidade da vida não pode estar à mercê da cobiça irrefletida. O mundo, porém, não modificará a sua relação irresponsável com a natureza sem modificar a natureza das relações entre o desenvolvimento e a justiça social. Se queremos salvar o patrimônio comum, impõe-se uma nova e mais equilibrada repartição das riquezas, tanto no interior de cada país como na esfera internacional.


A eqüidade social é a melhor arma contra a degradação do Planeta. Cada um de nós deve assumir sua parte nessa tarefa. Mas não é admissível que o ônus maior da imprevidência dos privilegiados recaia sobre os despossuídos da Terra. Os países mais industrializados devem dar o exemplo. É imprescindível que cumpram os compromissos estabelecidos pelo Protocolo de Quioto.


Isso contudo não basta. Necessitamos de metas mais ambiciosas a partir de 2012. E devemos agir com vigor para que se universalize a adesão ao Protocolo. Também os países em desenvolvimento devem participar do combate à mudança do clima. São essenciais estratégicas nacionais claras que impliquem responsabilidade dos governos diante de suas próprias populações.


O Brasil lançará em breve o seu Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. A Floresta Amazônica é uma das áreas que mais poderão sofrer com o aquecimento do Planeta, mas há ameaças em todos os continentes: elas vão do agravamento da desertificação até o desaparecimento de territórios ou mesmo de países inteiros pela elevação do nível do mar.


O Brasil tem feito esforços notáveis para diminuir os efeitos da mudança do clima. Basta dizer que, nos últimos anos, reduzimos a menos da metade o desmatamento da Amazônia. Um resultado como este não é obra do acaso. Até porque o Brasil não abdica, em nenhuma hipótese, de sua soberania e nem de suas responsabilidades sobre a Amazônia.


Os êxitos recentes são fruto da presença cada vez maior e mais efetiva do Estado Brasileiro na região, promovendo o desenvolvimento sustentável – econômico, social, educacional e cultural – de seus mais de 20 milhões de habitantes. Estou seguro de que nossa experiência no tema pode ser útil a outros países. O Brasil propôs em Nairobi a adoção de incentivos econômico-financeiros que estimulem a redução do desmatamento em escala global.


Devemos aumentar igualmente a cooperação Sul-Sul, sem prejuízo de adotar modalidades inovadoras de ação conjunta com países desenvolvidos. Assim, daremos sentido concreto ao princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas.
É muito importante o tratamento político integrado de toda a agenda ambiental. O Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92. Precisamos avaliar o caminho percorrido e estabelecer novas linhas de atuação. Por isso, proponho a realização, em 2012, de uma nova Conferência, que o Brasil se oferece para sediar, a Rio + 20.
Senhoras e Senhores,


Não haverá solução para os terríveis efeitos das mudanças climáticas se a humanidade não for capaz também de mudar seus padrões de produção e consumo. O mundo precisa, urgentemente, de uma nova matriz energética. Os biocombustíveis são vitais para construí-la. Eles reduzem significativamente as emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, com a utilização crescente e cada vez mais eficaz do etanol, evitou-se, nesses 30 últimos anos, a emissão de 644 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.


Os biocombustíveis podem ser muito mais do que uma alternativa de energia limpa. O etanol e o biodiesel podem abrir excelentes oportunidades para mais de uma centena de países pobres e em desenvolvimento na América Latina, na Ásia e, sobretudo, na África. Podem propiciar autonomia energética, sem necessidade de grandes investimentos. Podem gerar emprego e renda e favorecer a agricultura familiar. E podem equilibrar a balança comercial, diminuindo as importações e gerando excedentes exportáveis.


A experiência brasileira de três décadas mostra que a produção de biocombustíveis não afeta a segurança alimentar. A cana de açúcar ocupa apenas 1% de nossas terras agricultáveis, com crescentes índices de produtividade. O problema da fome no Planeta não decorre da falta de alimentos, mas da falta de renda que golpeia quase um bilhão de homens, mulheres e crianças. É plenamente possível combinar biocombustíveis, preservação ambiental e produção de alimentos.
No Brasil, daremos à produção de biocombustíveis todas as garantias sociais e ambientais.


Decidimos estabelecer um completo zoneamento agroecológico do País para definir quais áreas agricultáveis podem ser destinadas à produção de biocombustíveis. Os biocombustíveis brasileiros estarão presentes no mercado internacional com um selo que garanta suas qualidades sóciolaborais e ambientais. O Brasil pretende organizar em 2008 uma conferência internacional sobre biocombustíveis, lançando as bases de uma ampla cooperação mundial no setor. Faço aqui um convite a todos os países para que participem do evento. A sustentabilidade do desenvolvimento não é apenas uma questão ambiental, é também um desafio social. Estamos construindo um Brasil cada vez menos desigual e mais dinâmico.


Nosso país voltou a crescer, gerando empregos e distribuindo renda. As oportunidades agora são para todos. Ao mesmo tempo em que resgatamos uma dívida social secular, investimos fortemente em educação de qualidade, ciência e tecnologia. Honramos o compromisso do Programa Fome Zero ao erradicar esse tormento da vida de mais de 45 milhões de pessoas.
Com dez anos de antecedência, superamos a primeira das Metas do Milênio, reduzindo em mais da metade a pobreza extrema no nosso País. O combate à fome e à pobreza deve ser preocupação de todos os povos. É inviável uma sociedade global marcada pela crescente disparidade de renda. Não haverá paz duradoura sem a progressiva redução das desigualdades.


Em 2004, lançamos a Ação Global contra a Fome e a Pobreza. Os primeiros resultados são animadores, principalmente a criação da Central Internacional de Compra de Medicamentos.
Meus amigos e minhas amigas,


A Unitaid já conseguiu reduções de até 45% nos preços dos medicamentos contra a Aids, a malária e a tuberculose destinados aos países mais pobres da África. É hora de dar-lhe um novo impulso. Idéias que tanto mobilizaram nossos povos não podem perder-se na inércia burocrática. Mas a superação definitiva da pobreza exige mais do que solidariedade internacional. Ela passa, necessariamente, por novas relações econômicas que não penalizem os países pobres.


A Rodada de Doha da OMC deve promover um verdadeiro pacto pelo desenvolvimento, aprovando regras justas e equilibradas para o comércio internacional. São inaceitáveis os exorbitantes subsídios agrícolas, que enriquecem os ricos e empobrecem os mais pobres. É inadmissível um protecionismo que perpetua a dependência e o subdesenvolvimento. O Brasil não poupará esforços para o êxito das negociações, que devem beneficiar sobretudo os países mais pobres.
Senhor Presidente, senhor Secretário-Geral,


A construção de uma nova ordem internacional não é uma figura de retórica, mas um requisito de sensatez. O Brasil orgulha-se da contribuição que tem dado para a integração Sul-Americana, sobretudo no Mercosul. Temos atuado para aproximar povos e regiões, impulsionando o diálogo político e o intercâmbio econômico com os países árabes, africanos e asiáticos, sem abdicar de nossos parceiros tradicionais.


Criamos – Brasil, África do Sul e Índia – um foro inovador de diálogo e ação conjunta, o IBAS. Temos realizado inclusive projetos concretos de cooperação em diversos países, a exemplo do que fizemos no Haiti e em Guiné-Bissau.


Todos concordamos ser necessária uma maior participação dos países em desenvolvimento nos grandes foros de decisão internacional, em particular o Conselho de Segurança das Nações Unidas. É hora de passar das intenções à ação. Notamos, com muito agrado, as recentes propostas do presidente Sarkozy, de reformar o Conselho de Segurança, com a inclusão de países em desenvolvimento.


Igualmente necessária é a reestruturação do processo decisório dos organismos financeiros internacionais. Senhor Presidente, As Nações Unidas são o melhor instrumento para enfrentar os desafios do mundo de hoje. É no exercício da diplomacia multilateral que encontramos os meios de promover a paz e o desenvolvimento. A participação do Brasil, em conjunto com outros países da América Latina e do Caribe, na Missão de Estabilização no Haiti simboliza nosso empenho de fortalecer o multilateralismo.


No Haiti, estamos mostrando que a paz e a estabilidade se constróem com a democracia e o desenvolvimento social. Senhoras e Senhores, Ao entrar neste prédio, os delegados podem ver uma obra de arte presenteada pelo Brasil às Nações Unidas há 50 anos. Trata-se dos murais “Guerra” e “Paz”, pintados pelo grande artista brasileiro Cândido Portinari.


O sofrimento expresso no mural, que retrata a guerra, nos remete à alta responsabilidade das Nações Unidas de afastar o risco de conflitos armados. O segundo mural revela que a paz vai muito além da ausência da guerra. Pressupõe bem-estar, saúde e um convívio harmonioso com a natureza. Pressupõe justiça social, liberdade e superação dos flagelos da fome e da pobreza.


Não é por acaso que o mural "Guerra" está colocado de frente para quem chega, e o mural “Paz”, para quem sai. A mensagem do artista é singela, mas poderosa: transformar aflições em esperança, guerra em paz, é a essência da missão das Nações Unidas.


O Brasil continuará a trabalhar para que essa expectativa tão elevada se torne definitivamente realidade.


Muito obrigado.


Um Abraço Solidário!