E o mais bonito de tudo: mamãe diz que deu certo.
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O Geografias deseja um Feliz Natal aos Suburbanos Transeuntes!
Forte Abraço!
Um espaço virtual que estará voltado, principalmente, para a Geografia, para a Cultura e, especialmente, para o que há de Brasileiro, Carioca e Suburbano!
Debaixo de tomates, cebolas, pimentões, batatas, azeitonas e tempero (que tempero!) há um filé de peixe especial.
Abraços!
Na despedida ainda pude ouvir a rapaziada tocar o Samba do Irajá, composto pelo tio Nei, numa lembrança do velho Luiz - seu pai - que chegou naquela freguesia no início do século XX. E bateu uma saudade agúda do velho Mizoca. E com a saudade, uma lágrima, expressão maior das nossas humanas emoções.
Tenho impressa no meu rosto
E no peito, lado oposto ao direito
Uma saudade – que saudade!
Sensação de na verdade
Não ter sido nem metade
Daquilo que você sonhou
São caminhos, são esquemas
Descaminhos e problemas
É o rochedo contra o mar
É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa que eu posso te dar
Saudade veio à sombra da mangueira
Sentou na espreguiçadeira
E pegou um violão
Cantou á moda do caranguejo
Estendeu a mão pra um beijo
E me deu opinião
Depois tomou um gole de abrideira
Foi sumindo na poeira
Para nunca mais voltar
É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa que eu posso te dar.
Abraços!
O clássico Gre-Nal de hoje foi uma decepção profunda para aqueles que são apaixonados pelas análises numéricas, matemáticas e oswald-de-andradeanas no futebol. Porque, pra esses, o time que tem os melhores números no decorrer do jogo, tem vantagens sobre o adversário. Mas nem sempre é assim, como ocorreu hoje no clássico gaúcho. Veja só se não tenho razão.
Número de faltas (aos 20 do primeiro tempo)
O jogo estava empatado em um a um, com o grêmio, que começou perdendo com um gol aos quatro minutos, batendo mais.
Inter – 2
Grêmio – 7
Aos 20 do segundo tempo as faltas estavam assim:
Inter – 15
Grêmio - 20. O tricolor gaúcho continuava batendo mais e essa é a única vantagem do Inter.
Número de finalizações (aos 24 do primeiro tempo)
O grêmio teve o triplo de chances mas só aos 19 conseguiu o empate.
Inter – 2
Grêmio – 6
Número de passes errados (aos 41 do primeiro tempo)
Mesmo trocando muito mais passes errados, o Inter guardou mais dois e cravou três a um no placar.
Inter – 10
Grêmio – 7
E faria mais um aos 45.
Número de desarmes (aos 12 do segundo tempo)
Mesmo desarmando mais, o Grêmio não consegue fazer disso uma vantagem no resultado.
Inter – 11
Grêmio – 16
E o Inter, ao contrário do que os números indicam, conseguiu o melhor resultado, goleando e até tripudiando do o adversário, com a galera gritando olé, o goleiro fazendo embaixadinha com bola recuada e o escambau. Porque, no futebol, a matemática funciona para os gols. Quem faz mais e leva menos, ganha. É simples. O resto é conversa fiada.
E a quantidade de moradores em minha casa só faz crescer nos últimos meses. Em julho, recebemos Talumejwá, como falei aqui. Em agosto foi a vez do Luis Henrique, meu cunhado, que está passando uns dias aqui em casa, aproveitando a calma do ambiente pra meter a cara nos estudos. E agora, em setembro, foi a vez do Picolino, um Coleiro Bigodinho que meu cunhado deu de presente para a irmã.
Lembro sempre dos coroas, amigos de meu pai e de meu avô, que criavam coleiros lá no Engenho da Rainha. Aposentados, eles levavam os passarinhos bem cedo pra tomar o sol da manhã. E no subúrbio se fazia uma sinfonia. Lá em casa nós criávamos um Tiziu e dois Gold Diamonds australianos. Lucimar, durante muito tempo, criou o Tarcísio, o papagaio que a avó dela ganhou de presente e batizou numa homenagem ao Tarcísio Meira, seu ator preferido.
Antes que os politicamente corretos me critiquem por criar uma ave selvagem em casa, explico que não soltarei o bicho pois, já que foi domesticado por aquele que o prendeu, ele não sobreviveria muito se solto nos céus da cidade. Já procurei saber tudo sobre a certificação de pássaros e vou me tornar um criador amador com registro no Ibama, substituindo a gaiolinha por um viveiro para que o mais novo membro da família tenha mais espaço.
O nome Picolino foi dado por minha digníssima. Originalmente, esse era o nome de um pinguim que aparecia no desenho do Pica-pau, e que a patroa adorava. Na infância ela ganhou um passarinho e deu à ele o nome do pinguim. Agora, relembrando os velhos tempos, ela resgata o nome do antigo passarinho e batiza o Coleiro Bigodinho de Picolino.
E não é que as cores do Coleiro são semelhantes à do pinguim do desenho? Ele tem o peito branco, as costas pretas, a cabeça preta e uma mancha branca em cada uma das bochechas, que inspiram o nome popular de Bigodinho. Vejam vocês:
Fundado em 28 de abril de 1953, com sede na Rua Acari, em Inhaúma, o Everest Atlético Clube foi palco de algumas peladas que participei nos tempos de garoto. Comecei a nutrir profunda simpatia pelo clube ao saber que o seu Darci, coroa boa praça que era porteiro do meu prédio, tinha sido um dos fundadores desse atlético inhaumense. Depois, quando eu fiz a bola rolar com meus amigos por lá, o clube garantiu uma vaga especial do lado esquerdo do meu peito.
Antes que se enganem os poucos que passam por aqui, quero dizer que sou flamenguista desde sempre, mas o amor à camisa rubro-negra jamais encontrou problemas em compartilhar um espaço no meu coração com o carismático time do subúrbio. As coisas não se misturam por aqui.
Então, cheguei na sala e dei de cara com o manto amarelo e azul. Reconheci a camisa imediatamente. Olhei pro Fernando e fiz uma pergunta que só eu sabia que era retórica:
- O que é isso?
Ele prontamente respondeu:
- Essa é do Everest, clube da terceira divisão do Rio, professor.
- Eu sei – respondi, já com a camisa nas mãos.
- Conhece? – ele perguntou, ignorando minha história com o clube.
- Claro, claro – respondi com olhos de menino.
Não conseguia parar de sorrir. Um sorriso largo e mudo, de quem é transportado para a infância, vivendo um instante daqueles que, se a gente pudesse, eternizava. Não sei de onde veio a idéia ou como surgiu, mas quando vi, eu já tinha sacado o celular do bolso e depositado nas mãos do Fernando, pra ele, ao menos em parte, eternizar aquele momento.
- Bate! – disse.
E ele fez isso aqui, ó:
Os jogos do rubro-negro da Gávea não têm sido para torcedores cardíacos e vêm deixando os torcedores mais fanáticos hipertensos, até os que não são. E na noite de ontem não foi diferente. Encarando o Figueirense, freguês que perdeu de cinco a zero para o Mengão no Maraca, pelo primeiro turno do brasileirão deste ano de 2008, o escrete fez um primeiro tempo emocionante, principalmente porque dominou o jogo e guardou dois gols, um aos 18' e outro aos 40', sem deixar espaço para o adversário trabalhar. Um jogo primoroso, com uma escalação que incluiu três homens jogando como zagueiros e três como atacantes. Fim do primeiro tempo.
O segundo teve outra cara. Pior para a nação rubro-negra que viu o time apático tomar um gol aos 5' e ser fortemente pressionado durante os vinte e cinco minutos iniciais. Mas pra espantar o calor do Figueira bastou fazer mais um gol aos 34'. Bola na área, toque de cabeça pro meio do bololô, Marcelinho Paraíba cabeceia pro chão, o caroço resvala no pé direito do arqueiro e sobra para o moicano Léo Moura guardar no fundo do barbante e sair pro abraço. O Flamengo ainda tomou um gol aos 47', numa jogada individual mas garantiu a vitória e os três pontos. É o que importa, diriam aqueles que comentam o futebol exclusivamente segundo a perspectiva da matemática dos pontos, aqueles que usam expressões como G-4 e outras pederastias. Daqui a pouco vão chamar a Série A de G-20 do futebol brasileiro.
Só que nesse jogo um lance, que não resultou em gol, foi mais importante do que os outros. Foi o gol que o Léo Moura não fez, chutando de dentro do grande círculo na direção do gol ao ver que o goleiro adversário estava ridiculamente adiantado. A bola subiu pouco nos céus e ao descer não tomou o rumo do gol, passando, caprichosa, a menos de um palmo da trave, o que fez o goleiro voltar correndo pro gol e cair catando cavaco, todo estabanado lá dentro do saco de barbante. De tão perto, o banco de reservas chegou a comemorar o golaço que o moicano teria feito. Mas não fez. Precisei abrir mais uma cerveja pra suportar a pressão. Aliás, tenho enchido a caveira de forma industrial durante os certames do meu time.
E o que o Léo Moura fez - sem dúvida o lance mais bonito do jogo e talvez do futebol brasileiro nos últimos meses, depois daquele come desconcertante do Robinho num defensor do Equador, em pleno Maraca - foi uma daquelas jogadas que conferem magia ao esporte bretão. Foram eternos aqueles dois ou três segundos em que a bola viajou pelo espaço. Tivesse sido mais curta a trajetória da parábola descrita pela bola... tivesse sido maior a força de atrito com o ar... tivesse sido maior o vento contra...
Que importa? Fodam-se a parábola, o atrito e o vento contra. O irreal, aquilo que não é, pode ser maior e muito mais importante do que o real, aquilo que é, exatamente por que ele alimenta o desejo de transformar o não-ser em ser, porque permite sonhar imaginando a celebração de uma glória não obtida, por que essa ilusão nos faz meninos de novo, e nos faz reis de novo, ainda que só por alguns instantes, e só dentro nós.
No vídeo, os gols do jogo, os melhores momentos e, claro, o gol que o Léo Moura não fez. Recomendo assistir com o volume zerado pra não ter que ouvir as merdas que os comentaristas cospem.
Abraços!