sábado, agosto 30, 2008

HOJE É DIA DE SALGUEIRO!

Queridos, hoje é dia de ir para o Salgueiro. Já faz tempo que eu andava querendo escrever alguma coisa sobre o samba de dois malandros que conheço e guardo grande estima, o Simas e o Mussa. Mas enquanto isso, andei lendo o que os outros escreveram até agora.

Por aí, nos blogs, vi que meu mano Claudio Falcão ressuscitou o Geogordo 2, que andou calado por muito tempo, e tascou lá o texto Salgueiro, falando do samba desses dois, que ele conhece muito mais e melhor do que eu.

Quando estive pela última vez na quadra o Simas comentou que o Hermano Vianna tinha escrito algo sobre o Samba e publicado um texto do Mussa, que o Hermano tem como escritor da literatura brasileira favorito. Li o texto, publicado no blog Obra em Progresso.

Vi também que o Eduardo Goldenberg, malandro que comanda o balcão imaginário do frequentadíssimo Buteco do Edu, cravou um, dois, três textos sobre esse samba, com merecidos elogios ao trabalho dos compositores e uma discussão que aponta para a necessidade de resgate de uma tradição perdida ao longo do processo de transformação do samba enredo nas marchas que desfilam atualmente.

Foi ali que encontrei os outros textos que li falando sobre o samba dos caras. Um do Marcelo Moutinho, do blog Pentimento, com o título "Põe na roda o tambozeiro", em alusão a um dos versos do samba. Assim também fizeram Carlos Andreazza, do Tribuneiros, que pôs no título do seu texto o verso "Qual é o povo que não bate seu tambor?", e Bruno Ribeiro, do Botequim do Bruno, que intitulou seu texto com o verso "Festa na Aldeia".

E claro, li o que o Simas tinha pra dizer sobre o que andam falando do samba que ele compôs, no blog dele, o Histórias do Brasil no texto O samba no Salgueiro . E concluí que não tinha nada a mais pra dizer além do que estas feras já disseram. Portanto escrevo apenas para convidar os parcos leitores que passam por aqui com alguma freqüência para que compareçam à quadra do Salgueiro hoje para torcer pelo excelente samba desses caras.

Um abraço!

sexta-feira, agosto 22, 2008

BAR MANOLO - O RESGATE DO OPERÁRIO COMBALIDO

Deixei a portaria do meu prédio às seis e quarenta da manhã portando um celular sem carga no bolso da calça. Na mochila eu levaria os testes para aplicar em uma turma do turno da tarde. Levaria, se não a tivesse esquecido em casa. Então levava comigo apenas um objeto temporariamente imprestável, que não serviria nem pra controlar o tempo de minhas aulas naquela manhã.

Encarei três turmas durante quatro horas e meia de aulas distribuídas em seis tempos, das sete da manhã ao meio dia e quinze, com um intervalo de trinta minutos e outro de quinze entre as aulas. Acabei a jornada matinal cansado, me sentindo como se quem foi atropelado por vinte caminhões-cegonha, em seqüência e lentamente.

Voltei pra casa. Pus o celular para carregar a fim de usá-lo ao menos como relógio nos sete tempos de aula que ainda me restavam e fui, com fome, em busca de comida. Encontrei no fundo da geladeira uma quantidade insignificante de um macarrão com cara de que tinha sido feito antes da Laurásia se separar de Gondwana. E mais nada. Comi rápido. Afinal, não levou nenhum minuto pra comer aqueles cento e cinqüenta gramas de macarrão proterozóico. E além disso, eu estava com pressa.

Cutuquei o bolso da calça logo que pus os pés pra fora do portão do prédio movido pela certeza profunda de que tinha feito merda.

- Caralho, esqueci meu celular... Vou ficar sem relógio de novo...

Tinha visto as horas em casa, antes de sair. Estava muito atrasado. Não haveria tempo para voltar e buscá-lo. Pelo menos a mochila com os testes, desta vez eu não tinha esquecido.

Procurei economizar esforços nos três tempos de aula daquela tarde mas com crianças entre dez e treze anos é quase sempre impossível. Saí às cinco e meia da tarde do colégio com apenas uma moeda de vinte e cinco centavos no bolso, como um operário dramaticamente combalido após vender sua força de trabalho por sete horas e quinze minutos, ao longo de nove tempos de aula desde o início daquele dia. Entrei no banco e cumprimentei, mais uma vez, condoído - quase fúnebre - o meu cheque especial e segui pra Botafogo. Com fome.

Como um beduíno perdido no deserto, encontrei meu oásis momentâneo na esquina da Marquês de Olinda com a rua Bambina. Era o Bar Manolo. Entrei, encostando a portentosa barriga no balcão de aço e vidro, e pedi um sanduíche de pernil, no que fui atendido prontamente. Depois de partida, a peça foi levada para esquentar na chapa e servida no pão, com limão a gosto. Não pedi um chope porque em quinze minutos tinha que estar em sala de aula e, se eu pedisse o primeiro, tenho a mais absoluta convicção de que não sairia dali tão cedo.

Apesar do refrigerante pra acompanhar, o sanduíche bastou. Saí do Manolo novo. Pronto pra encarar com ânimo mais quatro horas de aula, entre seis e quinze e dez e meia da noite. Porque a atmosfera do bares, dos botequins, possui ares capazes de desconstruir a angústia do operário combalido pelo esforço diário, ainda que seja a fim de retomar a labuta depois de tragada a dose necessária de boemia. Hoje acabou. Amanhã tem mais.