segunda-feira, outubro 27, 2008

SOBRE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NO RIO

Pesquisei no site do TRE-RJ e no site Raio X da Eleição (do UOL) os números do pleito desse último domingo que elegeu Eduardo Paes para prefeito da cidade do Rio de Janeiro de 2009 até 2012. E foi possível identificar claramente o que já se sabia: vivemos em uma cidade partida e tal divisão se manifestou nos números dessa eleição. Vejam os dados por zona:

Zona Central
Paes - 50,2%
Gabeira - 49,8%


Zona Sul
Paes - 29,4%
Gabeira - 70,6%

Zona Norte
Paes - 51,6%
Gabeira - 48,4%

Zona Oeste
Paes - 57,5%
Gabeira - 42,5%

Vamos às primeiras considerações.

No Centro, houve forte equilíbrio entre os dois candidatos com diferença muito pequena a favor de Paes. O novo prefeito ganhou melhor (56% a 44%) na Zona Eleitoral 02, do Centro, enquanto Gabeira ganhou melhor (57% a 43%) na Zona Eleitoral 204, da Saúde.

Na Zona Sul, a vitória de Gabeira foi incontestável. O candidato do Partido Verde ganhou em todas as Zonas Eleitorais, com grande diferença para Eduardo Paes, que conseguiu no máximo 40% dos votos na Zona Eleitoral 164 (Laranjeiras), enquanto Gabeira conseguiu até 76% dos votos, nas Zonas Eleitorais 16 (Laranjeiras) e 212 (Jardim Botânico).

Na Zona Norte, ao contrario do que se alardeou, a vitória de Paes não foi tão larga quanto se esperava. A maior vitória do novo prefeito, na Zona Norte, ocorreu na Zona Eleitoral 118, em Cascadura, com 65% dos votos. Na porção mais próxima ao Centro (Tijuca, Maracanã, Vila Isabel e adjacências), Gabeira ganhou com larga vantagem a exemplo da Zona Eleitoral 07 (Tijuca) com 70%, da Zona Eleitoral 228 (Maracanã) com 69% e da Zona Eleitoral 173 (Vila Isabel) com 68%. As outras áreas do Subúrbio que elegeram Gabeira foram o Méier e Del Castilho. No entanto Paes ganhou mais votos na maioria das Zonas Eleitorais que cobrem bairros como Anchieta, Marechal Hermes, Olaria e Madureira.

No entanto, a vitória de Paes só se confirmou efetivamente com os votos do grande colégio eleitoral da Zona Oeste. A votação mais expressiva de Gabeira nessa área foi na Zona Eleitoral 119, da Barra da Tijuca, onde obteve 70% dos votos. Gabeira também ganhou nas outras três Zonas Eleitorais da Barra (09, 13 e 179). Mas perdeu em todas as outras 27 Zonas Eleitorais da Zona Oeste, onde a maior vitória de Paes ocorreu na Zona Eleitoral 241, de Santa Cruz, com 66% dos votos.

Alguns detalhes importantes: dos 4.579.365 de eleitores, apenas 3.652.115 compareceram e manifestaram sua vontade escolhendo um prefeito ou votando nulo ou em branco. Foram mais de 900 mil ausências de eleitores, entre eles os idosos e os que viajaram para aproveitar o feriado do serviço público dessa segunda-feira. No entanto, a diferença entre os dois candidatos no final do pleito foi de pouco mais de 55 mil votos. O voto em branco ou nulo registra uma posição política, um desejo de não escolher nenhum dois dois candidatos. Já o número de ausências diante da pequena diferença entre os candidatos comprova que a situação poderia ter sido diferente.

sábado, outubro 25, 2008

UM GRANDE DIA

A última quinta-feira teria sido um dia absolutamente normal se não fossem os ocorridos que pipocaram a partir do início da noite. Havia semanas que eu tinha comprado um caderno do Le Monde Diplomatique Brasil e até então não tinha lido uma página sequer. Naquele fim de tarde, enfim, eu lia algumas coisas sobre a América Latina e sobre a crise financeira atual.

Por volta das 19 horas peguei meu telefone celular e vi várias ligações perdidas, dentre elas uma do Nando e uma do Zé Eduardo. Liguei pro Nando.

- Alô? - ele atendeu.

- Fala, meu irmão, como é que você tá?

- Fala, cara! Beleza!

- E aí, meu velho, você me ligou?

- Pô... é, cara. Te liguei pra saber como é que você tá.


Se há uma coisa que me comove é receber o telefonema de um amigo que liga só pra saber como é que eu estou. Conversamos, em pouco tempo, sobre várias coisas, trabalho, família e ficamos de marcar um almoço pra botar o papo em dia e pra ter o prazer de desfrutar da companhia amiga. Desligamos

E toca o telefone de casa.

- Alô?

- Diego?

- Fala, Zé!

- Já sabe onde vai ver o jogo?

- Não! Estou nervosíssimo com isso!

- Então você vai ver comigo!

- Onde?

- No Maraca, num camarote que eu consegui pra gente.

- Caralho, é
mermo? - raramente eu falo mesmo.

- Te encontro daqui a pouco no prédio do meu irmão. Ele vai com a gente.

- Beleza. A gente se fala.


E fui. Nos encontramos e andamos até o estádio. Caminhava em direção ao guichê para retirar as credenciais quando ouvi meu nome.

- Diego!

Era o Rodrigo Ferrari, o Digão da Livraria Folha Seca, que estava por ali com o chef Santos, do Botequim Casual para encontrar um amigo e assistir a partida. Trocamos um abraço fraternal e nos falamos rapidamente, porque já ia começar o jogo. E que jogo.

Entramos. Tudo liberado no camarote 27. Comes e bebes pra lá e pra cá, e a pelota rolou. Não pretendo fazer nenhum jornalismo esportivo aqui. O jogo foi bom pra caralho. Ponto. Ganhamos de dois a zero no primeiro tempo e de três a zero no segundo. Quando o placar ainda marcava quatro a zero, a torcida gritava olé até para as bolas recuadas para o goleiro. E pedia:

- Mais um! Mais um! Mais um!

Eu não acreditava no que via. O Coritiba, que não é um time-merda nem de longe, estava totalmente anulado pelo Flamengo. Não fez nada. E o rubro-negro arrumou um pênalti no final, que foi (bem) batido pelo goleiro Bruno. Pra fechar o paletó de madeira do time paranaense e sepultá-lo no solo do Maracanã. E aquela noite esplêndida transformou um dia comum e sem graça num grande dia.

segunda-feira, outubro 20, 2008

O PEIXE ASSADO QUE MAMÃE FEZ

É verdade. Mamãe anda nos presenteando com seus dotes culinários adquiridos ao longo dos seus 64 anos de experiência. Nesse fim de semana ela veio aqui pra casa e nos deu o prazer de sua companhia. Como se não bastasse, foi pra cozinha no domingo. Horário de verão, todo mundo acordou tarde. O almoço saiu, então, muito mais tarde do que o nosso habitual. Por isso só fotografei o peixe antes de ir para o forno. Quando ele saiu... não deu tempo.

Debaixo de tomates, cebolas, pimentões, batatas, azeitonas e tempero (que tempero!) há um filé de peixe especial.

Abraços!

sábado, outubro 18, 2008

O LARGO DAS CINCO BOCAS

Num dos finais de semana de setembro, eu, Lucimar, Larissa e Zé Eduardo levamos mamãe para visitar o Paulinho, a Cristiane e a Tia Elza em Jacarepaguá. O Paulinho tinha passado semanas internado num hospital por ter sofrido envenenamento ao aplicar inseticidas na padaria que ele comanda com a Cristiane. Conhecemos a casa, passamos um bom tempo por lá, e conversamos horas sobre tudo, sobre as coisas da vida.

Quando saímos de lá, entramos no carro e sentimos que ficou faltando alguma coisa. Alguém faz um comentário, outro responde... tudo sem muito ânimo. Até que o , inspirado, resolve revelar o que pensava.

- Se vocês topassem, sabe aonde eu queria ir?

Cinco segundos de silêncio. Minha respiração ficou ofegante. Tinha certeza de que o tiraria da cartola o melhor programa para aquele fim de noite. Mamãe perguntou:

- Aonde?

- No Largo das cinco bocas.

O ainda pronunciava o "Bocas" quando eu disse:

- Eu topo!

Lucimar e Larissa também responderam, uma depois da outra:

- Eu também, eu também!

O Largo das cinco bocas é um encontro de caminhos - uma encruzilhada - onde o transeunte não encontra nem três, nem quatro, mas cinco possibilidades, cinco escolhas, cinco destinos para percorrer. É, também, a confluência que reúne os habitantes dos arredores, um ponto de encontro onde se sente a verve suburbana com o povo na rua.

E fomos. De terça-feira até domingo os comerciantes armam suas barracas e vende-se de tudo: pastel, cachorro-quente, crepes, caldos, sopas, salpicão, pizza e, claro, cerveja. Geladíssima em qualquer buteco das esquinas. Um troço bonito demais. Quando chegamos lá encontramos o largo assim.

Paramos em uma das barracas e compramos vários pastéis. Sentamos diante de um trailer e pedimos sanduíches. Ficamos ali, jogando conversa fora, e comentando, obviamente, sobre como é bom aquilo ali.

Durante dois anos, enquanto fui aluno da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, dentro da Fio-Cruz, em Manguinhos, o largo das cinco bocas esteve na minha rota de volta pra casa, portanto eu passava por ali todos os dias, de segunda à sexta-feira.

Memórias mais antigas daquela encruzilhada eu também tenho posto que o eixo Ramos-Olaria-Bonsucesso sempre fez parte dos meus caminhos desde a infância. Dos cinco até os dezoito anos eu cortei meus cabelos na rua Sizenando Nabuco, morro do Amorim, em Manguinhos, na barbearia do Manuel. Na volta sempre passava por ali.

E um dos troços que sempre me chamou mais atenção ali era a antiguíssima Veterinária Lassie. No meu inconsciente, tenho a sensação de que ela sempre existiu. Há uma na rua Barreiros, que leva até o Largo, e outra bem na esquina do Largo. Não resisti e fotografei. Notem que o telefone no letreiro ainda tem apenas sete dígitos e não oito como temos atualmente. Na época da mudança esse letreiro já era velho.

E ficamos ali, beliscando, bebendo e vivenciando tranquilamente aquele lugar, com o qual possuo identidade profunda. Nenhum sinal de violência - apesar do horário - nos incomodou. Ao contrário, ficamos muito à vontade, como quem está realmente em casa. Deixei o largo palitando os dentes em público, troço que já fiz em Ipanema - no quadrilátero do charme (náuseas!) - gerando olhares de reprovação. Ali eu tinha certeza de que em cada uma das cinco bocas alguém fazia rigorosamente a mesma coisa, como eu, sem ser perturbado com a babaquice dos outros.

Pra quem não conhece, fica a dica. O Largo das Cinco Bocas é, pra mim, uma das "mecas" do subúrbio. Traduz a alma suburbana e merece muito uma visita - um cortejo, uma romaria, seja lá o que for - que valerá a pena pra quem gosta do troço.

Abraços!

quinta-feira, outubro 16, 2008

A RABADA QUE MAMÃE FEZ

Quem acompanhou a série sobre o Samba do Irajá sabe que nós aqui de casa estivemos naquela freguesia no dia quatro de outubro pra comemorar o anversário do Luis Henrique e inaugurar a churrasqueira do Doce Refúgio com um samba pra nunca mais esquecer.

Pois eu, Lucimar e Talumejwá dormimos na casa de mamãe porque era mais perto do Irajá, porque eu votaria por lá no pleito do dia seguinte e, claro, porque queríamos ficar pra ter o prazer da companhia de mamãe, Larissa e Zé Eduardo no dia seguinte. E, invariavelmente, mamãe capricha no almoço de domingo, especialmente quando estamos lá.

Dona Maria Luiza é, pra mim e pra muitos, uma sumidade na cozinha. Tudo o que eu mais gosto, em termos de regabofes, ela faz excepcionalmente bem. Cozidos, dobradinha, angú à baiana, bobó de camarão, caldo verde - essas coisas - ela faz com maestria.

Meu avô, mineiro nascido em Angustura - antigo distrito de Além Paraíba - e criado em Carangola, era bastante exigente com o que sai das panelas. Nunca reclamou. Só botava, as vezes, uma pimenta a mais, daquela que ele mesmo fazia em casa, do jeito que aprendeu na roça. Caso seríssimo. A pimenta do velho tinha que ser respeitada. Uma gota no ensopado era o suficiente pra muita gente.

E naquele domingo mamãe fez rabada. Um espetáculo! Gostosa demais de ver e de comer. O cheiro, então, foi longe. Daqueles de atrair manifestações públicas de beatas criminalizando o pecado capital da gula e de mulheres bulímicas e anoréxicas pedindo a prisão pertétua de mamãe. Crime é não se fartar.

Não sou muito ligado nesse negócio de receitas, por isso deixarei apenas a imagem que registrei da rabada. Dou a dica para minha irmã, Larissa Moreira, que escreve em seu blog sobre casa, cozinha e afins, que publique a receita de mamãe. O cheiro e o sabor ficarão só pra quem teve o privilégio de provar.


Abraços!

quarta-feira, outubro 15, 2008

SAMBA DO IRAJÁ IV

A madrugada já abria suas portas quando fiz o último registro em vídeo que conclui essa série improvisada sobre o Samba do Irajá. Minha irmã, Larissa Moreira, que definitivamente é um ser do dia, àquela altura já me dava as primeiras cutucadas.

- Vamos?

Era quase uma e meia da manhã. Se o samba não estivesse excepcional, ela certamente teria me chamado pra ir embora às onze. Mas antes das despedidas, tive tempo de gravar o Tito cantando um samba do Arlindo Cruz, O meu lugar.

Antes que digam que o malandro se vendeu fazendo sambinhas pra globo e outras coisas, quero dizer que nesse samba ele foi extremamente feliz, não só pelo conjunto letra e melodia mas principalmente porque seu título se adéqua perfeitamente ao conceito de lugar na visão da geografia humanística.

Há poucos dias escrevi o seguinte em meu outro blog (conceitosetemas.blogspot.com): "muito além de um espaço físico, de uma paisagem repleta de elementos e de referências peculiares passíveis de descrições objetivas e racionalizadas, o lugar, na visão humanística, constitui-se como uma paisagem cultural, campo da materialização das experiências vividas que ligam o homem ao mundo e às pessoas, e que despertam os sentimentos de identidade e de pertencimento no indivíduo. É, portanto, fruto da construção de um elo afetivo entre o sujeito e o ambiente em que vive”.

É exatamente essa relação de identidade e de pertencimento que o samba apresenta. E isso traduz o sentimento das pessoas que amam o lugar onde vivem, seu bairro, sua rua, sua cidade, ou seja, o lugar onde as pessoas se sentem em casa.

E isso é algo que me emociona profundamente, porque o lugar do Arlindo, que é Madureira, "com seus mitos e seres de luz, é bem perto de Oswaldo Cruz, Cascadura, Vaz Lobo e Irajá". E Irajá é a terra do nosso samba familiar, o que nos faz construir elos afetivos cada vez mais profundos com o subúrbio do Rio.

Abaixem o volume dos alto-falantes. O Tito tem um gogó poderoso, fortíssimo. Fosse ogan, seria capaz de fazer até ateu receber caboclo e preto-velho em terreiro de Umbanda, puxando só na palma, dispensando até o rufar dos atabaques. Reparem que a Márcia Viegas, vai embora do Doce Refúgio enquanto o samba rola. A vontade era de ficar - no início do vídeo ela ainda está batucando - mas a viagem pra tocar com o Jorge Aragão, e eu acho que o show era no Nordeste, não podia mais esperar.

Na despedida ainda pude ouvir a rapaziada tocar o Samba do Irajá, composto pelo tio Nei, numa lembrança do velho Luiz - seu pai - que chegou naquela freguesia no início do século XX. E bateu uma saudade agúda do velho Mizoca. E com a saudade, uma lágrima, expressão maior das nossas humanas emoções.

Tenho impressa no meu rosto
E no peito, lado oposto ao direito
Uma saudade – que saudade!
Sensação de na verdade
Não ter sido nem metade
Daquilo que você sonhou
São caminhos, são esquemas
Descaminhos e problemas
É o rochedo contra o mar

É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa que eu posso te dar

Saudade veio à sombra da mangueira
Sentou na espreguiçadeira
E pegou um violão
Cantou á moda do caranguejo
Estendeu a mão pra um beijo
E me deu opinião
Depois tomou um gole de abrideira
Foi sumindo na poeira
Para nunca mais voltar

É isso aí, ê Irajá
Meu samba é a única coisa que eu posso te dar.

terça-feira, outubro 14, 2008

SAMBA DO IRAJÁ III

Que o samba do Irajá do dia quatro de outubro desse ano de 2008 começou bonito pra cacete, isso, quem passou por aqui antes, já viu. Jantar servido, churrasqueira aprovada, tudo dentro do regulamento.

Mas o que venho dizer e mostrar hoje é que o samba continuou bonito. E ficou ainda mais bonito quando o Jorge Moreno assumiu o microfone pra cantar uns troços belíssimos, que emocionaram quem estava por lá, e depois fazer o barraco pegar fogo. Cantando um samba do Zé Catimba, malandro que foi compositor da Imperatriz Leopoldinense durante décadas e parceiro constante de Martinho da Vila, o bom Jorge Moreno botou a rapaziada pra cantar. E o troço ficou bonito pra cacete.

Meu cunhado, o Zé Eduardo, de olhos transmutados em duas poças d'água, me disse qualquer coisa em tom de agradecimento por estar ali. Lembrava do pai, eu sei. Lembrava do pai que, tudo consta, adoraria estar ali. Mas o couro comeu mesmo com a mistura de uns sambas do Djavan - e samba é o que há de bom na obra do cara.

A turma da batucada não se fez de rogada e esfolou a mão no couro. Mariângela e Milena aproveitaram pra quebrar tudo nas cadeiras ao som da rapaziada. E foi com essa mistura que eles fecharam o primeiro módulo. Já passava de meia noite e a batucada ainda voltaria muitas vezes varando madrugada.

Saca só!

Abraços!

quinta-feira, outubro 09, 2008

SAMBA DO IRAJÁ - II

Seguindo com a narrativa do inesquecível encontro do último sábado, no Doce Refúgio, em Irajá, trago algumas imagens que registram a presença de parte da rapaziada que participou da festa (foram mais de 80 pessoas!, mais de 80!). Um encontro familiar que contou com a presença de amigos do Luis Henrique, amigos da turma do Irajá, vizinhos e o escambau!


Cheguei pontualmente às nove da noite e fui recebido pelo Budé, de camiseta regata amarela, que pilotava a gigantesca churrasqueira.

- Fala, Budé!

- Ô, meu querido!

- E aí, como é que você , malandro?

- Agora melhor, porque você chegou, garoto!

Abraços efusivos em todos - cumprimentei todas as pessoas que estavam na festa - e depois abri a primeira. Meu cunhado, o Zé Eduardo, mandou a lei seca às favas e me acompanhou naquela gelada. A turma foi chegando, as cervejas - intermináveis, diga-se, - foram saindo até que rolou a homenagem ao velho Mizoca, como contei no primeiro texto.

Havia comida para um exército. Meu sogro, que fazia feijoada pra 400 pessaoas com a facilidade de quem frita um ovo, certamente ficaria feliz com aquela bagunça. E o jantar saiu. O Nelson, malandro bom à bessa de bola e conhecido como Jacaré, ficou pilotando o bar, distribuindo as cervejas para a rapaziada e comandando o serviço do jantar, sempre com o avental preto e um pano de prato pendurado no ombro direito. Veja as fotos do farnel:



A churrasqueira foi um dos maiores destaques da festa e sua inauguração um dos motivos para o encontro da rapaziada. Segundo o Fagner, nosso amigo, advogado - e humorista nas horas vagas - a construção da churrasqueira assumiu dimensões de obra do PAC devido à sua estrutura faraônica e à incrível solução de engenharia para dispersar a fumaça. Notem as fotos!

Duas lâmpadas de 100 watts pra eliminar o breu da galeria - isso não é uma churrasqueira, é uma galeria de carnes! - estrutura em tijolo com acabamento de granito e - vejam! vejam! - um imenso coletor metátilco que leva toda a fumaça para um cano, altíssimo, que faz as vezes de chaminé. Se fosse um pouquinho mais alto, o cano precisaria daquela luz vermelha para alertar e afastar os aviões.


Ainda com o jantar sendo servido, a turma do batuque e da melodia foi chegando, passando o som, e esquentando a mão no couro pra fazer o samba rolar madrugada a dentro. Nesse vídeo, vê-se a turma fazendo o "esquenta" antes de começar pra valer. A Marcia Viegas, percussionista da mão cheia - o Jorge Aragão não abre mão do auxílio luxuoso dessa moça na sua banda - puxou um batuque no pandeiro, o Doceu, no violão, chamou o restante da turma - "vem, vem, vem..." - e o que saiu foi isso aí, ó. O povo cantou e aplaudiu como se fosse o fim. Mas era só o começo.




Até breve!

terça-feira, outubro 07, 2008

SAMBA DO IRAJÁ

Meu cunhado Luis Henrique fez aniversário na última sexta-feira, três de outubro. Motivo mais do que suficiente pra fazer um samba comemorativo. No entanto, há umas duas semanas, o Tito, também meu cunhado, irmão mais velho de Luis Henrique e de minha digníssima, ligou aqui pra casa avisando que a churrasqueira do Doce Refúgio – projeto antigo do meu sogro, o velho Mizoca - estava pronta e seria inaugurada no sábado, quatro de outubro. Era um convite. Ou melhor, uma convocação. O aniversário e a inauguração da churrasqueira seriam celebrados com um samba em grande estilo no Doce Refúgio.

Batizado com esse nome pelo velho Mizoca, aquele quintal foi palco dos encontros do dia-a-dia da família e de outros momentos mais do que especiais. Já recebeu artistas brasileiros – e estrangeiros – da mais alta categoria, membros de gerações antigas e novas do samba carioca. Já passaram por ali músicos como o mestre Nei Lopes – membro da família; Leny Andrade, sempre acompanhada pelo grande Lúcio Nascimento, também membro da família e baixista de primeira linha; Marcel Powell, filho do grande Baden, de quem herdou um talento fortíssimo para deslizar nas cordas do violão; Diogo Nogueira, filho do grande João, além de outros que não me ocorrem agora.

E a noite foi esplendorosa, tão rica em todos os seus detalhes que merecerá uma série de postagens que farei contando a vocês leitores, mais raros do que chuva em deserto, que passam por aqui para ler as minhas mal traçadas linhas com alguma freqüência, como foi que tudo ocorreu nessa festa. Proponho que assistam aos vídeos que fiz. Quem tiver a sensibilidade um pouco mais aguçada perceberá a beleza do momento.

Notem como o Tito confere um tom solene – a ocasião merece – ao discurso que introduz a homenagem feita ao velho Mizoca. Notem que é com gratidão que ele devolve o carinho e a amizade do Varé, presidente do Clube Pau-Ferro, que emprestou as mesas e cadeiras para a festa. Notem como Luis Henrique chora imediatamente ao ver a imagem do pai ser exposta para os aplausos de todos, e como Tia Eninha e Tia Gloria - mãe do Tito, do Osnir (o Neném) e da Mariângela, também choram e se abraçam, conferindo ao momento uma emoção ainda mais profunda.

E foi só o começo de uma festa sem hora pra acabar.

sábado, outubro 04, 2008

LUCIMAR E TALUMEJWÁ

Nesse dia quatro de outubro, de São Francisco de Assis, sincretizado com Ifá/Orumilá em Cuba, dedico as postagens do dia aos animais que vieram povoar minha casa: o Picolino e o Talumejwá, sendo este último enviado pelos desígnios de Orumilá. Explico. O odu-ifá de minha digníssima senhora diz que ela precisa ter uma cão em casa sempre, pois isso lhe trará energias positivas para a vida material e, principalmente, espiritual. Mirando os olhos de Talu pela primeira vez, ela sentiu por ele uma afinidade incompreensível aos céticos e um amor quase maternal.

É bem o que se vê com os dois juntos nessa foto:

Abraços!