Trabalho em Ipanema às terças e quartas. Gosto. Nunca tive problemas por lá. Muito pelo contrário. Foi ali que entrei em sala de aula pra ensinar geografia pela primeira vez. E deu certo. Muito certo. E lá se vão quatro anos.
Em plena Garcia D´Ávila, no quadrilátero mais sofisticado da cidade - e isso é o que me desagrada por lá - fica meio difícil pra um suburbano encontrar boas opções próximas. Mas eis que eu, que agora tenho uns bons intervalos entre as aulas ali, estou determinado a garimpar e mapear - como um bom geógrafo deve fazer - os pontos com cara de subúrbio no tal quadrilátero chic.
Do começo. Cafézinhos literários, Bistrôs de não sei o que, Lounges de não sei o que lá, definitivamente combinam com Ipanema e não com o Subúrbio. Até o que não é pra ser sofisticado parece querer ou finge ser sofisticado ali. Entrei hoje numa loja de sucos - que não divulgo o nome nem na base da porrada, que isso aqui não é agência de marketing, mas indico a esquina: Pirajá com Maria Quitéria. Pedi um suco de laranja e o sujeito me mandou pegar a ficha.
Até aí tudo bem. Se bem que no Subúrbio eu comeria qualquer coisa no balcão e pagaria na saída, mas... vamos em frente. Pedi também um sanduíche. Paguei e encostei a portentosa barriga no balcão pra, enfim, fazer meu desjejum. Uma dentada e um gole. Olho pra parede atrás do balcão e vejo algo que me deu mais nojo do que teria se tivesse visto uma barata cascuda passeando tranquilamente.
Eram duas ampliações de notas do Joaquim Ferreira dos Santos na coluna Gente Boa do lixo editorial conhecido por O Globo. Uma relatando a fortuita presença de celebridades gringas naquele recinto e a outra pedindo o tombamento de um sanduíche da casa como patrimônio da cidade. Tudo em meio a exaltações babacas à pretensa superioridade de Ipanema.
Não terminei o lanche. Saí e me arrependi de não ter entrado no pé sujo clássico que descobri ao lado da espelunca vendedora de sucos que pretende ser chic estampando tais notinhas abjetas. Na próxima eu vou ao pé sujo. E conto aqui pra vocês sobre o primeiro espaço suburbano do quadrilátero sofisticado de Ipanema que devassarei na próxima semana.
Inté!
5 comentários:
eca eca eca.
Di, seus textos estão cada dia melhores.
Pq vc não escreve um livro?
vc ja tem uma fã certa.
bjoos
Você deveria ter perguntando ao gerente da lojinha de suco:
- Quem é esse merda?
No meio da resposta, prosseguir:
- Não é o Jota, aquele idiota que escreve n´O GLOBO?
No meio do "sim" do sujeito, lançar o sanduíche com ódio na lata de lixo, derramar o suco no asfalto e sair vociferando:
- Que nojo!
Carol, quando eu separar um tempo para escrever um livro, quero que seja algo que merece ser escrito. De verdade. E aí? Vai pro CACO ou vai ficar com os reacionários da UERJ? Beijo.
Edu, e o babaca é suburbano - só de nascença, é claro. Veio do Largo do Bicão, estudou na Escola Grécia e hoje comete esses atentados, que você conhece melhor do que eu, contra o Rio, seu povo e suas glórias. Abraço.
Diego,
Tenho muita má vontade com esses lugares que pedem pra gente pagar antes de comer e de beber. mesmo porque, eu nunca sei ao certo quando é que eu vou querer parar de comer e muito menos de beber.
Arnaldo,
Definitivamente, esses caras são um saco!
Abraço!
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