segunda-feira, março 15, 2010

PAPO RÁPIDO SOBRE A EMENDA IBSEN PINHEIRO

Caríssimos, há muito - desde que vovó foi oló - eu não rabisco nada por aqui. Agradeço mais uma vez por todo o carinho das mensagens que recebi. Mas estou passando aqui para - rapidinho - dar um curto pitaco sobre essa sarrafascada que cresce no ventre da pátria e atende pelo nome de "Emenda Ibsen Pinheiro".

Não sou a favor do troço conforme está previsto. Acho que a medida revela uma burrice histórica. Sim, pois, tomando-se o Rio de Janeiro como exemplo - e não há dúvidas de que o estado e seus municípios mais ligados ao ouro negro serão os mais afetados do país -, haveria de se lembrar dos efeitos lancinantes e economicamente catastróficos da transferência abrupta da capital para Brasília.

Mas não sou, de todo, contra a distribuição dos recursos oriundos de atividades extrativistas. Um país tão profundamente marcado por desigualdades regionais como o Brasil tem a obrigação de pensar em mecanismos que sejam capazes de melhorar essa situação. E essa pode ser uma opção. Ou será que um projeto de Estado deve estar amarrado à sorte e à geologia das unidades federativas?

É. O modelo federativo não me cheira muito bem. As vezes penso que um Estado só se organiza como federação quando falta coragem para encarar o desafio de ser um Estado Unitário ou quando fala mais alto às unidades a conveniência de estar separado dos outros, para poder ditar suas próprias regras, e junto aos outros para filar as boas casquinhas que pululam aqui e acolá.

Então eu acho que esse troço tem que sair do papel porém com um planejamento honesto, coerente com os anseios da nação, e absolutamente independente da politicagem partidária. As receitas do petróleo deveriam ser distribuídas sim. Mas não dá pra fazer isso de uma vez. Todo o processo deveria levar pelo menos 10 anos. Ou 20 anos. Ou 30, mas até lá, se não surgir outro pré-sal, o petróleo já era.

A Alemanha nos dá bons exemplos. Bonn foi a capital escolhida quando da divisão do país. Após a reunificação, os alemães montaram um projeto de transferência da capital para Berlim que duraria 30 anos, ou seja, ainda está em curso. Várias embaixadas e estatais alemãs permaneceram na cidade a fim de evitar seu esvaziamento econômico e político repentino.

Outro exemplo alemão é o da integração da parte oriental. Sabe-se de longa data que o quadro econômico e social da parte oriental era lamentável em 1990. Para atenuar a forte desigualdade regional forjada pela reunificação, os alemães criaram uma "sobretaxa de solidariedade", ou seja, um imposto a ser pago pelos cidadãos do lado ocidental para melhorar o desenvolvimento do lado oriental. Uma medida que se mostrou eficaz e que minimizou vários problemas.

Os que não me conhecem, saibam que passo longe de defender uma germanização ou europeização do Brasil. Não. Mas essas medidas precipitadas, tomadas de ontem pra hoje, e sem planejamento que temos visto, só tendem a prejudicar a sociedade. Qualquer semelhança com o caso do ENEM 2009 é absolutamente intencional.

Até.

9 comentários:

Beth/Lilás disse...

Olá, Diego!
Caí aqui de paraquedas e gostei do seu post, inclusive concordo que o Rio deveria dividir esta grana toda, já que 5 bilhões anualmente não vemos nem a terça parte do que é feito por aqui e no interior.
Uma andada pelo centro do Rio quando se chega para o trabalho de manhã, já vemos o abandono do próprio centro que deveria ser mais bem tratado.
E, depois, o petróleo se encontra a mais de 200 km mar adentro, portanto dizer que é do Rio não é uma verdade absoluta.
E o mais nojento disso tudo é ver a presepada política que o Cabral fez hoje, colocando mais de 300 ônibus vindo do interior do estado com gente que nada entende sobre o assunto, mortos de fome que por um simples sanduiche aceitam fazer barulho e complicar mais ainda a vida do carioca que trabalha por ali.
Acho mesmo que tais royallties estão sendo gastos em viagens à Paris do governo e sua troupe para ver os últimos desfiles de moda e tomarem os vinhos deliciosos das caves françaises.
abraço carioca

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Diego, você me pegou direitinho. Quando li o título de seu post já me preparei para discordar de ti, imaginando que estaria defendendo essa coisa escrota de que o dinheiro não deveria ser dividido, que o Rio tem que ficar com tudo, etc e tal. Só que, ao ler o seu texto, percebi que você pensa exatamente como eu e aí, encho-me de vergonha só de pensar que você poderia ir na mesma onda dos escrotos de plantão.

Um grande abraço.

Diego Moreira disse...

Arnaldo, eu jamais me submeteria às ideologias uma coligação que consegue reunir Cabral, Rosinha, Garotinho e outros que tais, especialmente quando se forja uma espécie de nacionalismo fluminense disfarçado de chororô feito por gente que já deu provas da mais profunda incapacidade de administrar verbas públicas. Abração!

Beth, seja bem chegada. Assino seu comentário.

Anônimo disse...

Como diria Mestre Simas, esta fuzarca em torno dos roialtis (perdão, Verissimo!) só provam a decadência e a depreciação do antigo estado da Guanabara frente ao governo federal.

De outra forma: tá tudo errado. E essa discussão, que cheira à (comum) promiscuidade das orgias públicas, sequer deveria ter começado.

Anônimo disse...

Como diria Mestre Simas, esta fuzarca em torno dos roialtis (perdão, Verissimo!) só prova a decadência e a depreciação do antigo estado da Guanabara frente ao governo federal.

De outra forma: tá tudo errado. E essa discussão, que cheira à (comum) promiscuidade das orgias públicas, sequer deveria ter começado.

Luiz Antonio Simas disse...

Assino o texto. Penso exatamente a mesma coisa.

duda disse...

Oi Diego,
Achei seu blog por acaso e já gostei dessa primeira matéria que li. É certo que continuarei te acompanhando por aqui. Parabéns pelo texto.
Grande abraço.

Anônimo disse...

Parabéns Diego, excelente blog com ótimas postagens. Continue se dedicando !

Larissa disse...

Sem planejamento. medidas sem planejamento. Somos peritos na arte do improviso, do jeitinho e ainda nos vangloriamos por isso. E eu trabalho como servidora desse país na área de planejamento de um órgão federal. Advinha o que faço? rs