segunda-feira, abril 16, 2007

SOBRE A CARTILHA PALOCCI: UM DESABAFO

Ninguém em sã consciência pode aprovar um modelo político que protege e premia um escrete de mensaleiros, cuecas e caseiros, enfiando a poeira grossa das politicagens escrotas pra debaixo dos panos, a não ser que esteja com o bolso abarrotado de grana, no esquema do 'cala a boca' ou no esquema do 'Valério-propinoduto'.

Não. Quem rala pra ter o seu de cada dia, pagando tudo o que deve e o que não deve (olha a CPMF aí gente! Agora é pra sempre!), não pode se conformar com tanta sujeira. É verdade.

Se essas palavras deram-lhe a impressão de "já ouvi essa história", consegui o que queria. Passado o período eleitoral, esse discurso, que ecoou forte em todos os cantos do país em 2006 e que percorreu as vísceras da classe média, hoje sumiu. Esvaziou-se. Claro! É Lula-lá! De novo.

Re-eleito o Barbudo, não há mais razão para histeria. O que se pretendia (evitar a re-eleição) não tem mais volta. O esforço midiático, multiplicador do discurso da ética, ou melhor, da falta de ética do governo, não produziu os resultados esperados. Resta saber quais serão os caminhos a percorrer por essa imprensa que se esmera na arte de manipular a opinião pública.

Aliás, a imprensa já perdeu a vergonha de dizer que é formadora de opinião, e não multiplicadora da informação. As propagandas dos produtos jornalísticos já vêm com a mensagem “tenha opinião”. Como se lendo tais jornais ou revistas, formaremos nossa opinião a partir do que eles escrevem e não de nossas interpretações sobre os textos.

Mas já que nada ficou às claras com as CPIdiotas, como diria Aldyr Blanc, porque diabos o discurso da classe média não encontra mais abrigo no seio da imprensa nacional? Sim! É Lula de novo, como já disse, mas tem mais coisa por aí.

É daqui em diante, depois desse longo início de conversa, que falarei sobre o que me fez vir até aqui pra escrever. Nas próximas linhas estarei escancarando minha opinião, na forma de desabafo, sobre a cartilha do ex-ministro Antônio Palocci para a política econômica do Brasil.

Quatro anos depois de sair de uma forte crise econômica ocorrida no início do segundo governo FHC e qualificada como ‘de alto risco’ para os investidores, a economia brasileira passa a ser regida pelo maestro Palocci. Fazendo coro com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, e com um Comitê de Política Monetária , o Copom, o ministro da fazenda põe em prática seu plano para recuperar a estabilidade e a segurança da economia brasileira.

Com uma política extremamente conservadora em curso, Palocci jogou a taxa Selic pra estratosfera, visando atração de capital especulativo. Com isso, capitalizou o país para enfrentar os reflexos das crises econômicas mundo afora e o mau humor do mercado financeiro sem causar grandes abalos na estrutura econômica do país, principalmente estabelecendo um rígido controle inflacionário.

Garantiu apoio e suporte à estatal do petróleo no contexto de alta dos preços do ouro negro após a invasão Anglo-Americana ao Iraque, fato que fez o valor do barril de petróleo saltar de 25 dólares pra 75 dólares num período de seis meses, mantendo estáveis os preços dos combustíveis a base de petróleo aqui no Brasil.

Com os elevadíssimos superávits primários, reduziu brutalmente a dívida externa, amenizando a dependência econômica do país e a suscetibilidade às crises financeiras externas. Uma opção política foi zerar a dívida com o FMI, o que deu moral à equipe econômica do maestro Palocci. O problema da dívida interna ficou pra agenda do segundo governo.

Em praticamente todos esses aspectos Palocci foi incompreendido pela classe média. A Confederação Nacional das Indústrias, que ‘tacou pedra’ na política economica durante os quatro anos do primeiro governo, compreendia o ministro, mas não admitia os juros tão altos, que desestimulam o consumo de longo prazo, e a carga tributária elevadíssima, que reduz os lucros e dificulta os novos investimentos.

Mas o caseiro, que apareceu com inexplicáveis R$ 25.000,00 em sua conta, demitiu o ministro. E o que mudou? Nada! Mantega continua seguindo a velha cartilha de Palocci, como se nada tivesse acontecido. E vejamos os resultados:

Atualmente, o que se vê é que a inflação está controlada. Não passa de 4% ao ano. O sonho de todo brasileiro que viveu com mais de 800% de inflação ao ano no governo Sarney. Naquela época os preços mudavam no mesmo dia. A dívida externa, que ainda existe e deve ser paga, já não é mais um estorvo e permite um superávit primário menor, garantindo mais recursos para serem investidos internamente.

O Risco-País, índice definido pelas agências americanas de 'rating', caiu de mais de 2000 pontos para 165, atingindo seu piso histórico nessa última semana. E a solidez da economia permite que caia ainda mais. A taxa Selic, que destrói o poder de consumo quando muito alta, caiu de 26,5% para 12,75%, o menor índice dos últimos 50 anos, e deve cair mais nessa semana. Isso significa que estamos pagando menos juros, mas ainda há um porém.

A Selic é a taxa básica de juros do país. Significa, grosso modo, o tanto de juros que o governo paga para quem compra seus papéis, os títulos de dívida pública. Se essa taxa é muito alta, significa, para o investidor que é um bom investimento comprar títulos de dívida pública daquele país. Por exemplo. Se eu empresto R$ 1.000.000,00 ao governo através de compra de títulos e a taxa básica (selic) é de 20% ao ano, em um ano o governo me devolverá o dinheiro com juros. Receberei R$ 1.200.000,00. O capital especulativo vê as taxas altas como oportunidade de reprodução em larga escala. Então, quem tem dinheiro prefere esse investimento a outras formas de investimento comum.

Pra facilitar o entendimento das conseqüências disso para o mercado consumidor. Se uma pessoa vai ao banco pedir um empréstimo, o banco só libera o dinheiro se o retorno for o mais interessante possível. Se a Selic é de 20% ao ano, o banco só empresta dinheiro às pessoas se for pra ganhar mais do que isso. Caso contrário, ele investe nos papéis públicos. Portanto, com Selic alta, os bancos cobram mais, e com Selic baixa os bancos cobram menos. No contexto atual, perceberemos uma aceleração do consumo devido à redução da taxa básica,que facilitará o acesso ao crédito.

No entanto, pra quem guarda dinheiro no banco, o efeito é o contrário. Quando depositamos nosso dinheiro em uma conta de investimento (poupança, renda fixa, DI etc.) o banco usa nossa grana pra comprar aqueles títulos do governo e ganhar dinheiro. Dos juros que ganha com nosso investimento, ele nos paga uma parte, ficando com a maior fatia para si, é claro! Pois são bancos e não jogam pra perder. Se a taxa básica for alta eles ganham muito dinheiro e nos pagam juros mais altos. Com a queda das taxas, cai também a rentabilidade dos investimentos pessoais. Ultimamente, a caderneta de poupança, que era considerada a última e mais conservadora hipótese de um pequeno investidor, já não é tão mal vista assim.

Por isso a Selic nunca vai agradar a todos. Pra quem quer comprar, os rumos atuais da taxa básica sopram como leve e agradável brisa num rosto cansado de tanto se arrastar em juros de dívidas, mas pra quem quer guardar dinheiro, o momento atual mais se assemelha à tempestade que desestabiliza a embarcação segura do planejamento financeiro pessoal de médio e longo prazo.

Por essas razões, afirmo, num desabafo, que não gostei do enredo da novela do caseiro, mas defendo veementemente a estratégia econômica arquitetada por Palocci, e mantida por Mantega, não só pela sua consistência, mas pelo fato dela não ter preocupação com os resultados de curto prazo, típicos de quem usa a economia pra fazer politicagem barata. A cartilha de Palocci foi elaborada pra, no mínimo, oito anos de governo e começa a dar os resultados mais claros agora, depois da re-eleição. Falta crescimento econômico, é claro. Mas está aí o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) pra isso. Ainda é tímido, mas tudo tem um começo.

O que espero desses próximos quatro anos é que paguemos da dívida externa só o necessário, e que se direcionem os investimentos para equipar o território, para que ele seja inserido de maneira cada vez mais competitiva no comércio mundial. Que se faça isso com infra-estrutura (portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias); qualificação de mão-de-obra, através de investimentos pesados na área de educação; e tecnologia, incentivando a produção científica de ponta no Brasil. Assim, acredito que podemos sair do buraco em que fomos jogados nos últimos 500 anos.

Vamo que Vamo!

Um Abraço Solidário!

10 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Diego,

Acho que o Lula, pro primeiro mandato, foi eleito pela força de dois grupos:

1 - A classe média entendeu bem o recado de que tudo continuaria como era antes, na época do FHC. Resolveu apostar nessa solução, mesmo porque, confiou menos no José Serra para garantir esta continuidade.

2- A classe mais oprimida confiou no passado e na história do Lula e acreditou, sinceramente, que avanços sociais seriam implementados de uma forma mais radical.

Na minha opinião, o primeiro governo Lula atendeu as expectativas do primeiro grupo e traiu as esperanças do segundo. E mesmo assim, à beira da eleição para o segundo mandato, foi a classe média, devidamente orientada pela grande mídia, que resolveu virar-lhe as costas e apoiar o candidato tucano, muito mais conservador do que o Serra e, portanto, muito mais confiável, do ponto de vista da classe dominante.

Não deu certo. A mídia perdeu a batalha pois, inexplicavelmente, a garnde massa, apesar de traída, resolveu exercitar sua eterna esperança e garantiu a reeleição.

O que mais me incomoda é ver que, depois de tudo isso, o governo Lula segue com esta vocação mais neo liberal do que social.

Eu até concordo que a política econômica foi conduzida com competência pelo Palocci e está sendo seguida pelo Guido Mantega, com a mesma competência. Esta política deve gerar frutos e o tal crescimento deve acontecer, em médio prazo. A vida, no Brasil, deve melhorar, pra classe média e, principalmente, pra classe dominante.

O que me preocupa é a multidão de miseráveis. Não vejo saída pra essa situação a curto prazo. Aliás, a saída que há é a que já estamos vendo ser implantada. É a violência. É assim que as coisas se acomodam.

Clélia Riquino disse...

ASSIM SEJA, AMÉM
Gonzaguinha & Miltinho


Inda me lembro quando mãe dizia:
"A paciência sempre é bom guardar"

Meu pai, então, do canto respondia:
"O nosso exemplo deve te bastar"

Minha mão calava
E calada chorava
E chorando vinha me pegar
Me pegava e abraçava
E abraçando falava
Esta vida eu sei que um dia vai mudar

A professora me repreendia
"Quem não estuda não come merenda"
Mas lá em casa meu pai me acudia
"Não há aquele que com que fome aprenda"

Minha mãe...
...mudar

E de ditado em ditado ouvindo
De dia em dia a vida encheu seu taco
Até parece que foi mesmo ontem
E ainda repito o dito dos retratos

Minha mãe...
...mudar

O meu maior pede uma bicicleta
A mãe diz pra ter fé me Deus dará
Eu do meu canto digo: eu só fiz isso
Então, sentei aqui pra não cansar

Minha mulher se cala
E calada chora
E baixinho, pede pra eu me acalmar
A nós só resta a morte
Aos filhos toda a sorte
Esta vida eu sei que um dia vai mudar

E quem quiser que invente outra estória
Pois essa estória eu já conheço bem
Acaba sempre de volta ao começo
É viciada nesse vai e vem

Então você se cala
E calado chora
E chorando busca no que acreditar
E bem baixinho fala
Mas também só fala
Esta vida eu sei que um dia vai mudar

Clélia Riquino disse...

Pedro Pedreiro
Chico Buarque/1965


Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande no bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Está esperando um filho
Pra esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro está esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espera alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar
Mas pra que sonhar
Se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem

Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem...

Clélia Riquino disse...

Comportamento Geral
Gonzaguinha


Você deve notar que não tem mais tutu
E dizer que não está preocupada
Você deve lutar pela xepa da feira
E dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
E dizer "tudo tem melhorado"
Você deve rezar pelo bem do patrão
E esquecer que está desempregado

Você merece
Você merece
Tudo vai bem,tudo legal
Cerveja,samba e amanhã,seu Zé
Se acabar em teu carnaval

Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre "muito obrigado!"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um fuscão no juízo final
E diploma de bem-comportado

Clélia Riquino disse...

Artistas da Vida
Gonzaguinha


Vozes de um só coração
Igual no riso e no amor
Irmão no pranto e na dor
Na força da mesma velha emoção
Nós vamos levando este barco
Buscando a tal da felicidade
Pois juntos estamos no palco
Das ruas nas grandes cidades
Nós os milhões de palhaços
Nós os milhões de arlequins
Somos apenas pessoas
Somos gente, estrelas sem fim
Sim, somos vozes de um só coração
Pedreiros, padeiros,
Coristas, passistas,
Malabaristas da sorte
Todos, João ou José
Sim, nós esses grandes artistas da vida
Os equilibristas da fé
Pois é!
Sim, nós esses grandes artistas dessa vida

Clélia Riquino disse...

Gonzaguinha, + 1 x:

João do Amor Divino
Gonzaguinha


39 anos de batalha, sem descanso, na vida
19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
9 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarida
Muita noite sem dormir na fila do INPS

Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não esclarece
Todo dia, um palhaço dizendo que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete, mal escrito
Que causou um certo interesse

É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já carreguei, num guento mais,
O peso dessa minha cruz
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era o melhor

E o povo, lá embaixo, olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio de quem já morreu
Bateu no calçadão e, de repente,
Ele se mexeu

Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana que a platéia deu

Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário

Clélia Riquino disse...

O que fez-me lembrar Chico:

Construção
Chico Buarque/1971


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Clélia Riquino disse...

Duplamente...

Deus lhe pague
Chico Buarque/1971


Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

Anônimo disse...

Eu entendi o seu pensamento Diego, mas infelizmente eu não acredito em um futuro melhor para o país. Na minha opinião, por mais que seja uma boa medida tomada pelo Palocci e sendo continuada pelo Mantega eu não acredito que esse governo e nenhum outro comecem a investir pesado em infra-estrutura, educação... Eu estou muito decepcionado com a politica no Brasil e não vejo uma luz no fim do túnel, o exemplo disso é o seu texto, onde você mostra que a mesma mão que faz carinho dá um tapa. No país dos mensalões, cuecas e caixas e tudo acabando em pizza fica difícil acreditar num futuro melhor. Na minha opinião, se tudo andasse junto aqui no Brasil, essa medida poderia gerar bons frutos para o país, mas eu acho que isso acaba sendo uma medida boa num caldeirão de más intenções.
E quanto ao encontro vamos marcar sim. Como te dissemos, no momento só estamos fazendo estágio na parte da manhã durante a semana, tendo disponibilidade no resto do dia e aos fins de semana.
Abraços...

Diego Moreira disse...

Arnaldo, Clélia e Philipp,

Concordo com os pontos de vista de vocês, e acho que, políticamente, a situação do Brasil continua ruim.

Não tenho dúvidas de que o governo mantém o caráter neoliberal pois mantém o mercado aberto, mas as privatizações, que caracterizam fundamentalmente o neoliberalismo dos países periféricos e semi-periféricos, não aconteceram.

Minha defesa possui uma linha tênue. Me atenho a louvar a política econômica. Já a política fiscal, por exemplo, eu execro. Aliás, isso merece outro post, mas não agora...

Quanto às questões sociais, que assolam o país, me preocupo fortemente, mas acho que não se conserta no "curto prazo" o que se destruiu em 500 anos. Entendo a necessidade de começar isso o quanto antes, mas "pra ficar bonito, primeiro tem que ficar feio". Na hora da faxina a casa fica uma bagunça, mas depois de arrumadaé mais fácil e agradável desfrutar o ambiente.

É esse trabalho que vejo que está sendo feito, com toda roubalheira ao redor, mas tá indo...

Sou favorável à uma opção diferente do Neoliberalismo, o Neoestruturalismo, que defendi no final do texto.

Mas não tenho, assim como o Philipp, muitas esperanças de que a coisa caminhe nesse sentido.

Resta esperar.

Clélia, belas as canções. Todas de forte caráter social. Tá ficando supimpa a trilha sonora do Geografias!

Abraços pra todos.