terça-feira, julho 03, 2007

SAUDADES DA BRAVELHA

Não, eu não tenho fotos. Passamos quatro anos juntos e eu não guardo comigo uma foto sequer. E talvez seja melhor por razões que não cabem ser discutidas aqui. O fato é que deu uma puta saudade da minha Bravelha. Do início.

Janeiro de 2003, entra pela janela do apartamento no Engenho da Rainha o som do assobio familiar. Ao debruçar, dei de cara com Cesar e Sergio Moreira, meu pai e tio respectivamente, malandros escolados, e ela. A Bravelha. Pintada num tom de bege puxando para o amarelo, o Volkswagen 1974 que surgia diante de meus olhos estarrecidos, deixou-me paralisado. Depois de uns segundos sem responder aos chamados, ouvi algo do tipo:

- Bora, Diego! A gente ainda tem que ir em Irajá pra fazer a vistoria. Seu tio ainda volta hoje pra Caxias...

Desci do jeito que estava. E fomos. Notei uma caixinha de fósforos em cima do painel. Bisbilhotei. Encontrei dez reais dentro dela e meu tio foi logo avisando:

- Isso aí é pro caso dela não passar na vistoria... Só não tem jeito pra morte! Depois que morre a gente bebe o defunto e saúda aos vivos!

Passou.

E passamos muitos perrengues juntos. Encarei enchentes no Jacaré, quebra dos limpadores de pára-brisa em meio a tempestade na Grajaú-Jacarepaguá, quebra da embreagem no estacionamento do Nova América e no túnel Santa Bárbara, cabo de acelerador arrebentado na estrada velha da Tijuca (subida), tiroteio no Noel Rosa... essas coisas que marcam a vida de um motorista.

Eu, professor, meio desligado desses lances automobilísticos e com vida atribulada, fiquei algumas vezes por mais de dois meses sem a bravelha por falta de tempo ou sorte pra consertar as constantes panes da malvada. O Buiu, era assim que a vovó Eva chamava a Bravelha, com motor 1.6 aos 32 anos de idade, subia o Alto da Boa Vista deixando os 1.0, 1.3 e 1.4 zerados no chinelo. Nunca parou por causa disso. Mas se o coração ia bem, os ossos já não eram tão perfeitos. Parava muito por cabos arrebentados, freio-de-mão que quase não tinha, os bancos sempre quebrados, portas empenadas, essas coisas...

Passei pra frente nesse último mês de dezembro. O felizardo é um camarada de Casimiro de Abreu.

Sujeito de sorte! Saudades!

Um abraço solidário!

2 comentários:

AdaPri disse...

Estava passando no blog do Nei e acabei aqui.
Li o texto por curiosidade do que seria "Bravelha" só agora entendi..
Meu primeiro carro, ganhei de minha mãe, era um Escort 95, mas ele parecia ser 50, dava tantos problemas, tantos. Eu saia de carro, mas não tinha certeza se o carro voltaria. Até que consegui troca-lo por um novo, fiquei tão feliz naquele dia... Mal sabia eu, que iria sentir saudades do carro antigo... Enormes saudades. Afinal eu vivia cheia de emoções...

Abs.

AdaPri disse...

Obrigada!
Voltarei sim!

Abs.