No último dia 12 de agosto, dia dos pais, meu velho avô Zequinha encantou-se, tendo a Natureza, subtraído-lhe o sopro da vida. Perdi, sem nenhuma dúvida, a maior referência de bom-senso, integridade e respeito ao semelhante que tive até hoje em minha vida. Tristeza profunda em relembrar os momentos de acalanto na infância e saber-me inevitavelmente carente deles para o resto dos meus dias.
Não faz um mês que, na véspera do dia de São Sebastião, meu sogro, o velho Mizoca, também foi levado por um infarto que fez seu peito calar. Perdi, então, uma referência intelectual daquelas que nos fazem desejar estar sempre por perto na ânsia por saber mais, conhecer mais, experimentar, viver e ser. Produzir o nosso "eu" de uma maneira mais consistente e mais livre.
Eis que nas últimas horas, por desígnios do Alto, mais uma vida que me cercou desde o início dos meus dias encontrou a encruzilhada pela qual todos passaremos. Na infância, sempre soube-lhe ser um querido tio, sem laços sanguíneos, que tinha por missão fazer mágica nas vidas das pessoas. Inclusive na minha, cuja preocupação nos tempos de escola era somente ir bem nas provas e passar de ano. Pra isso nunca faltou uma balinha e a cordial orientação pra que batesse meu pé direito três vezes e chamasse meu amigo "preto que brilha", pra me ajudar nas perguntas difíceis. Sempre funcionou.
Cresci sabendo-lhe ser um avô, na medida em que a idade avançava. E era a isso que ele mais se assemelhava nos últimos anos, quando pudemos acompanhá-lo mais de perto. Nesse tempo, não houve sequer um momento em que encontramos suas portas fechadas. Sempre abertas para todos, elas permitiam ver que em seu peito, o que pulsava não era uma pedra e sim uma flor, leve e clara, como sua alma.
Mas foi uma pedra, uma Pedra Preta, que guiou seus caminhos até aqui, desde a mais tenra idade Capixaba, em Cachoeiro do Itapemirim, estando presente em seus caminhos na Mangueira, em São Cristóvão, Manguinhos, Ramos, na Penha e em Vista Alegre, onde seus filhos, tristes, se despediram desse encantado Ser da Natureza Divina, que espalhou bondade, complacência, justiça, caridade, cura e fé a milhares de pessoas durante sessenta anos de história. E agora está guiando seu filho mais dileto ao seu lugar de direito, que é estar sentado aos pés de Oxalá.
Minha consciência diz que perdi, desta vez, a maior referência de espiritualidade que já tive em minha vida. Aquele que me fez sentir a presença de Deus, de forma tão profunda quanto inquestionável, tão intensa quanto suave. Isso não tem preço. É de valor inestimável, assim como tudo o que ele nos ensinou, que é exatamente o que nos fortalece, agora. Afinal, segundo ele mesmo, ao contrário do que eu disse até aqui, nós não estamos perdendo ninguém. Estamos devolvendo ao verdadeiro Dono.
E é daí também que sabemos que seria de um egoísmo profundo desejar a sua permanência por mais tempo neste orbe, sabendo que seu estado físico já não lhe permitia andar, agir e se comunicar livremente, como pôde fazer ao longo de sua vida. Seria um fardo pesado demais para um espírito tão leve e que fez por não merecer tamanho sofrimento.
Não faz um mês que, na véspera do dia de São Sebastião, meu sogro, o velho Mizoca, também foi levado por um infarto que fez seu peito calar. Perdi, então, uma referência intelectual daquelas que nos fazem desejar estar sempre por perto na ânsia por saber mais, conhecer mais, experimentar, viver e ser. Produzir o nosso "eu" de uma maneira mais consistente e mais livre.
Eis que nas últimas horas, por desígnios do Alto, mais uma vida que me cercou desde o início dos meus dias encontrou a encruzilhada pela qual todos passaremos. Na infância, sempre soube-lhe ser um querido tio, sem laços sanguíneos, que tinha por missão fazer mágica nas vidas das pessoas. Inclusive na minha, cuja preocupação nos tempos de escola era somente ir bem nas provas e passar de ano. Pra isso nunca faltou uma balinha e a cordial orientação pra que batesse meu pé direito três vezes e chamasse meu amigo "preto que brilha", pra me ajudar nas perguntas difíceis. Sempre funcionou.
Cresci sabendo-lhe ser um avô, na medida em que a idade avançava. E era a isso que ele mais se assemelhava nos últimos anos, quando pudemos acompanhá-lo mais de perto. Nesse tempo, não houve sequer um momento em que encontramos suas portas fechadas. Sempre abertas para todos, elas permitiam ver que em seu peito, o que pulsava não era uma pedra e sim uma flor, leve e clara, como sua alma.
Mas foi uma pedra, uma Pedra Preta, que guiou seus caminhos até aqui, desde a mais tenra idade Capixaba, em Cachoeiro do Itapemirim, estando presente em seus caminhos na Mangueira, em São Cristóvão, Manguinhos, Ramos, na Penha e em Vista Alegre, onde seus filhos, tristes, se despediram desse encantado Ser da Natureza Divina, que espalhou bondade, complacência, justiça, caridade, cura e fé a milhares de pessoas durante sessenta anos de história. E agora está guiando seu filho mais dileto ao seu lugar de direito, que é estar sentado aos pés de Oxalá.
Minha consciência diz que perdi, desta vez, a maior referência de espiritualidade que já tive em minha vida. Aquele que me fez sentir a presença de Deus, de forma tão profunda quanto inquestionável, tão intensa quanto suave. Isso não tem preço. É de valor inestimável, assim como tudo o que ele nos ensinou, que é exatamente o que nos fortalece, agora. Afinal, segundo ele mesmo, ao contrário do que eu disse até aqui, nós não estamos perdendo ninguém. Estamos devolvendo ao verdadeiro Dono.
E é daí também que sabemos que seria de um egoísmo profundo desejar a sua permanência por mais tempo neste orbe, sabendo que seu estado físico já não lhe permitia andar, agir e se comunicar livremente, como pôde fazer ao longo de sua vida. Seria um fardo pesado demais para um espírito tão leve e que fez por não merecer tamanho sofrimento.
Diante disso, tenho a exata noção de que ele faz agora uma jornada para a liberdade do espírito, longe das dores, na certeza do dever muito bem cumprido, na merecida paz. E que despede-se de nós e dessa personalidade que assumiu nesses quase oitenta anos de existência terrena, cantando sua canção anunciada para o adeus:
“Adeus madrugada de hoje.
Não posso mais demorar.
Adeus, Umbanda.
Não posso mais demorar”.
Sua bênção, Bàbá.
Não posso mais demorar.
Adeus, Umbanda.
Não posso mais demorar”.
5 comentários:
O pai Oxóssi está coroando neste momento o nosso grande conselheiro...Saudades eternas.
É festa na ancestral Aruanda, meu velho.
Abraço
A festa da coroação!
Ainda lembro do quanto chorei ao ouvir essas palavras pronunciadas por ti naquele momento inesquecível. Ainda agradeço à Lucimar por ter permitido que eu entrasse na enfermaria e, assim, ter podido tocá-lo, beijar suas mãos e dizer o quanto o amava. Meu padrinho Pedra Preta da Guia, seu orientador e amigo, cuida agora dele em outras bandas. Vieira era um pai, um avô, um amor que me ajudou a crescer em espírito. Não sei se um dia poderei devolver-lhe tudo o que fez por mim. Mas por hora, me contentaria com um beijo na testa, daquele que só ele me dava...
Tenho tanto a dizer... Mas nesse instante só me vem ao coração...
Uma saudade imensa das nossas reuniões por ele comandadas... Uma saudade imensa daquele olhar tão significativo... Oxalá chamou mais um dos seus "anjos" aqui da Terra para mais perto dele... Por hora o nosso querido vô deve estar muito bem nas reuniões (belas reuniões) em ARUANDA.
Lindo texto.
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