quinta-feira, julho 17, 2008

UM ROLÉ EM OLARIA

Luis Henrique tinha prometido ao João, nosso primo-irmão de 15 anos, que o levaria à festa de aniversário da sua amiga debutante em Olaria. No início daquela tarde de sábado ele calculava: se a festa estava marcada para começar às nove, ele sairia do curso no Centro às oito, chegaria em casa na Tijuca às oito e meia e partiria com o garoto pra chegar em Olaria umas nove e meia, porque inaugurar festa é coisa de gente meio sem noção. As festas nunca estão prontas na hora marcada e quem chega cedo sempre atrapalha.

Mas não podia estar tudo tão certinho. O João, que é lerdo feito um caramujo, sempre faz algo errado. Não faz muito tempo, a sua irmã Ana Carolina pediu que ele achasse um acendedor de churrasco - aquele troço às vezes rosa, às vezes branco, que vem no saco de carvão - e ele entregou uma cocada para ela. E justificou:

- Você disse que era branco!

Não satisfeito, foi pra cozinha, deixou a cocada e voltou com uma tábua plástica de carne, branca, perguntando:

- É isso, então?
Como se vê, o Luis tinha razões para desconfiar do garoto. Achou que o horário da festa estava muito tarde. Pegou o convite e confirmou suas suspeitas. A festa era às sete da noite e não às nove como o petiz havia confirmado. Com certa satisfação pela sua perícia, fechou o convite e entregou ao garoto. Mudança de planos, o Luis não iria mais para o curso. Levaria o João à festa saindo de casa ao cair da noite.

Pé na estrada rumo ao Subúrbio da Leopoldina, o endereço era a rua Paranapanema, 754. Desceram do ônibus quase na Penha e voltaram à pé. Uma caminhada desnecessária, como desnecessário se fazia aquele rolé em Olaria. Chegando no logradouro, caminharam até o número que indicava o convite. Mas onde estava o convite? Em casa. O João, inerte como uma rêmora, havia esquecido em casa. Mas tudo bem. Quem nunca entrou numa festa sem o convite ou mesmo sem ser convidado?

Fosse só esse o problema... De frente pro local da festa, Luis estranhou o que estava acontecendo. Aquilo não parecia uma festa e sim um culto evangélico. Lá da porta do Cacique de Ramos dava para ouvir o pastor, voz de exorcista, dando ordens a seu Tranca-rua e dona Maria Padilha para que deixassem os corpos das ovelhas do seu rebanho. Incrédulo, o Luis perguntou:

- João, a sua amiga é evangélica?

- Não... Quer dizer, não sei... Acho que não... Ué, mas ela dança até funk...

Em poucos segundos tocava o celular da Ana Carolina. Era o Luis perguntando o que não queria perguntar. Se preparando para ouvir o que não queria ouvir. Sem delongas, foi direto ao ponto:

- Carol, tá vendo o convite em cima da mesa?

- O que é que tem?

- Abra.

- Já abri, e aí?

- Qual é a data da festa?

Ana Carolina já gargalhava sozinha na sala de casa. O João tinha errado o dia da festa, que estava marcada para o próximo sábado, e o Luis entrou de gaiato e pelo cano nessa furada.

5 comentários:

Anônimo disse...

salve a acumpuntura que não me fez matar o joão...


Luís

Anônimo disse...

acupuntura. O m foi pela MERDA que o João fez...

Luís

Larissa disse...

Nossa, mas o João é SEM NOÇÃO!! kkkkkkkkkkkkkkkkk
Figuraça!

Anônimo disse...

Esse é o meu irmão.
Foi sensacional esse dia, só não sei se supera o dia da cocada.hahaha
O texto ficou ótimo como sempre, Diego.

Diego Moreira disse...

CAROL, você precisa fazer os amigos do João lerem esse texto. Ele não vai ficar com vergonha porque eu sei que ele mesmo está espalhando a furada em que se meteu para os amigos.

LARISSA, esse é o João, uma figura impagável.

HENRIQUE, minha solidariedade à você, meu caro cunhado. Tivesse me ligado lá de Olaria, tinha te recomendado uns programas por lá, pra não perder a viagem.

Abraços a todos!