segunda-feira, janeiro 15, 2007

DIAMANTE DE SANGUE

Domingo é um dia que dedico à família. Neste último, após o almoço, em família, é claro, eu e a "patroa", também conhecida pelas alcunhas de "digníssima", "senhora", ou a mais recente, "sub-gerência", fomos ao cinema ver o filme que deu título a este texto. Mantendo fidelidade litúrgica aos propósitos deste blog, venho tecer alguns comentários acerca da temática tratada por tal obra cinematográfica. Não é uma crítica especializada. Som, imagem, fotografia, direção e outros princípios da sétima arte não fazem parte das minhas preocupações. Quero passar minhas impressões sobre as idéias trabalhadas pelo filme.

O contexto é: Serra Leoa, continente africano. O país com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. O ano é 1999 e o país está em guerra. A Frente Unida Revolucionária (FUR), constituída por guerrilheiros locais, pretende assumir o controle do território, dos recursos naturais e dissemina violência por todo o país. As tropas do governo também atuam violentamente, pois pretendem garantir para si o controle dos recursos naturais, especialmente o diamante, produto de alto valor comercial. E o número de mortos, feridos, mutilados e refugiados por conta do conflito é imensurável.

Eis, então, alguns apontamentos ordenados de acordo com a intensidade das impressões que me causaram.

O filme não apresenta uma visão preconceituosa na abordagem das questões. Ao contrário do que fez "O Jardineiro Fiel", que também trabalha problemas ligados ao continente africano, "Diamante de Sangue" não é uma clara visão européia ou norte-americana sobre o conflito.

Fica nítido que o objetivo da FUR consiste na ruptura dos laços deixados pela herança colonial que conectam as elites, detentoras do poder político local aos interesses de conglomerados empresariais europeus que sustentam os mecanismos de exploração das riquezas de Serra Leoa. Para atingir tal finalidade, o uso da violência é extremo.

O processo de exportação de diamantes contrabandeados sofre uma necropsia minuciosa. Serra Leoa, por ser zona de conflito, não podia exportar diamantes. Os contrabandistas, então, conduziam, utilizando táticas extremamente criativas, os diamantes para países vizinhos como a Libéria. Daí em diante, através da corrupção de alguns funcionários públicos, é claro, as preciosas pedras seguiam para os mercados internacionais com origem registrada em países que estão fora de zonas de conflito, portanto, aceitas abertamente pela comunidade internacional.

O contrabando de armas também não passa em branco. A figura dos Senhores da Guerra está presente no filme. Estes são homens que tiram o seu sustento da guerra, vendendo armas para os grupos envolvidos nos conflitos. Não possuem preferências políticas na escolha da clientela. O comprador pode ser o governo ou os rebelados. Tanto faz. Importa é que paguem bem. Num continente onde, dos 53 países, pelo menos dez estão envolvidos em algum tipo de guerra, mercado não falta para eles.

A maior parte das milícias rebeldes africanas, inclusive as de Serra Leoa, promove o recrutamento de crianças para atuação direta nos ataques armados. Garotos de dez a quinze anos são obrigados a praticar atrocidades para salvar as próprias vidas e, os que sobrevivem, acabam doutrinados e participando dos ideais das milícias. Está aí mais uma execrável situação retratada.

A ação dos Organismos Internacionais também é criticada. Homens trajando ternos milionários, reúnem-se em salas de convenção milionárias e assinam, com suas canetas igualmente milionárias, acordos diplomáticos que não promovem a resolução de problema algum. Não impedem o contrabando, não impedem a continuidade do conflito e não impedem a destruição de milhares de famílias forçadas a abandonar suas casas e viver, se sobreviverem, aglomerados aos milhões em campos de refugiados de paises próximos.

E aquilo que, pra mim, era indispensável, é mencionado em vários momentos durante o filme. A relação direta existente entre a guerra e o consumo de diamantes pela população de alto poder aquisitivo dos países centrais. A fascinação provocada pelas pedras conduz os consumidores a não refletirem sobre a origem dos diamantes. Que dirá pensar em quanta tragédia pode estar por trás da jóia rara desejada. Neste campo, a alusão ao mercado consumidor americano é direta e dura.

Bem provável é que receba indicações pra Hollywood, pois o filme é bem feito. Bem provável é, também, que não vença devido às críticas fortes que traz. Afinal, aquele povo de Hollywood gosta muito de um diamante bem lapidado e parece não se importar com a procedência das centenas de quilates que carregam em seus adornos.

Um abraço solidário!

3 comentários:

Anônimo disse...

BOM DIA!
É VERDADE.É DA NAATUREZA HUMANA VERDADEIROS ADORNOS LAPIDADOS PENDURADOS NO PESCOÇO OU NA ROUPA PARA PODER DECLARAR A SUA SUPREMACIA.NO ENTANTO PERGUNTO, QUANDO MORREREM TAVEZ SEUS PARENTES TENHAM QUE VENDER PARA PODER QUITAR AS SUAS DIVIDAS TERRESTRE OU PROMOVER UM GRANDE GENOCÍDIO ENTRE SEUS PARES PARA VER COM QUEM FICA COM OS DIAMANTES.É DA NATUREZA HUMANA E O CICLO CONTINUA INFELIZMENTE.

Anônimo disse...

H STERN nunca mais?

Anônimo disse...

Olá Diego,

Parabéns pelo Blog. Também sou geógrafo e realizei juntamente com uma galera suburbana o filme "Alma Suburbana" totalmente independente. Se você tiver interesse visite o blog do filme. http.suburbanonaalma.blogger.

Desde já agradeço pela atenção.

Um abraço.

Luiz Claudio.