domingo, janeiro 07, 2007

SOBRE O FESTEJO DE ANO NOVO

Passadas as festas de fim de ano, deliberei retornar, com a aspiração de grafar aqui algumas reflexões originadas no evento da virada. Nada sobre os fogos de Copacabana, sobre a novidade dos shows na praia de Ipanema (e eu acho que Vinícius e Tom devem estar invocadíssimos lá em cima, mas de Whisky na mão, pois são festeiros) nem sobre a festa na praia da Barra, "A Barra dos Orixás", já que eu não entendi até agora o que, realmente, significou aquilo.

O que vim dizer é que, de certa forma, estamos quase sozinhos nesta data. A maioria dos povos do planeta não celebra o Reveillon no dia 31 de Dezembro. Pensando na humanidade como um todo, vemos que apenas 35% da população mundial (aproximadamente) comemoram esta data. Algo próximo de dois bilhões, dos mais de seis bilhões que povoam heterogeneamente o orbe. Chineses, Hindus, Islâmicos e Judeus, estão entre os grupos que contabilizam a passagem dos anos em momentos diferentes do nosso.

Estes povos que citei utilizam calendários lunissolares, ou seja, os meses e os anos são baseados no movimento lunar e, eventualmente, cada povo, à sua maneira, faz ajustes para que não se perca a sincronia com o movimento solar. Em geral, o ano é dividido em 12 meses que acompanham os ciclos lunares e o ano possui 354 dias, gerando uma diferença de 11,25 dias, aproximadamente, em relação ao calendário solar, com 365 dias e seis horas.

O calendário chinês é o mais antigo que se tem registro e o ano novo não possui um marco inicial, começando sempre em uma lua nova entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro. Tal calendário se repete em um ciclo menor de doze anos e um ciclo maior de sessenta anos e o ajuste ao calendário solar é feito a cada oito anos, quando se acrescentam noventa dias ao calendário. Se for botar no papel você vai ver que só com a rapaziada da china, vão lá quase 1,4 bilhão de pessoas, pouco menos que o total dos que comemoram no dia 31 de dezembro. O reveillon deles será do dia 17 para 18 de fevereiro neste ano.

Para os hindus, e eles, espalhados pelo mundo, também não são poucos, o ano novo coincide com o Festival das Luzes que é chamado de "diwali" ou "deepavali", festa devotada à vitória do rei Rama, uma das principais entidades do hinduismo, contra o monstro Ravana. O Ano Novo hindu representa inovação, vida nova. Os anos são contabilizados a partir da data da morte de Krishina, ocorrida à meia noite entre os dias 17 e 18 de fevereiro do ano de 3102 a.C do calendário Gregoriano. Portanto eles estão no ano de 5233 d.K, conforme a tradição. Seu calendário que também possui 354 dias é corrigido através da introdução de um mês lunar a cada trinta meses. Este ano, a festa da virada será realizada no dia 12 de Novembro.

O calendário Islâmico tem sua contagem iniciada a partir da hégira (fuga) de Maomé, de Meca para a Medina, ocorrida no dia 16 de julho de 622 do calendário gregoriano. O reveillon muçulmano acontecerá no próximo dia 20 de janeiro (do nosso 2007), quando eles, que já são quase 1,3 bilhão, e crescendo, festejarão a chegada do dia 1º de Muharram (primeiro mês islâmico) do ano de 1428. O ajuste ao calendário solar é feito com a introdução de um mês em onze dos anos de um ciclo de trinta anos. Estes anos que recebem um mês a mais são chamados de abundantes.

O número de Judeus espalhados pelo mundo não se compara aos três grupos mencionados, mas acho interessante destacá-los pelo fato de estarem bastante inseridos na sociedade ocidental, que comemora a passagem em 31 de dezembro. No calendário judaico cada mês se inicia com a lua nova e o ano novo (Rosh Hashaná) é celebrado no mês de Tishrei, o sétimo do calendário. Estranho? A razão é que a Torá fez o mês de Nissan o primeiro do ano, para enfatizar a importância histórica da libertação do Egito, que aconteceu no décimo quinto dia daquele mês, e que assinalou o nascimento da nação judaica. Entretanto, de acordo com a tradição, o mundo foi criado em Tishrei, ou mais exatamente, Adão e Eva foram criados no primeiro dia de Tishrei, que foi o sexto dia da Criação, e é a partir deste mês que o ciclo anual se inicia. Por isso, Rosh Hashaná é celebrado nesta época. O próximo ocorrerá em 13 e 14 de setembro de 2007, quando os judeus darão as boas vindas ao ano de 5768, sendo que o Yom Kipur (dia do Perdão), o décimo dia do mês, será no dia 22 de setembro. No calendário judaico, o ajuste ao calendário solar é feito com a introdução de um mês (Adar II) ocasionalmente.

Muitos outros grupos, outras sociedades celebram um novo ano em momento diverso ao nosso. Conosco no dia 31, só aqueles que, mesmo tentando bravamente, não conseguiram resistir à violenta colonização cultural, nas Américas, na África, na Ásia e Oceania, ou os que não quiseram resistir ao que chamam de cultura da sociedade civilizada.

Um abraço solidário.

4 comentários:

Alan disse...

É bom relembrar as diversas raízes culturais no planeta.

Talvez assim, estátuas da liberdade nos trópicos deixem de ser vistas como 'normais'. Só o conhecimento, meu caro, pode abolir as bitolas.

Abraço!

Anônimo disse...

Caro cunhado,
é tão bom ver num antro como a internet( cada vez eu tomo mais nojo dessa merda)um suspiro de inteligência... Parabéns. Agora não vem me dizer que Orkut pode ser bom... aí já é demais para um coração velha-guarda que luta contra essa idiotice todos os dias...

Saudações insurgentes

Luís Henrique

Anônimo disse...

Fala, mano!
Adorei o texto. bem interessante. beijos

Anônimo disse...

Oi professor!
é a Bruna Jorge do colégio pH da tijuca da turma 61!
Texto maneiro!