Dois gigantes do samba, da música popular brasileira, Paulo César Pinheiro e João Nogueira, registraram no penúltimo verso do monumental samba “Minha Missão” essa que é uma das lendas que fez e faz parte do imaginário suburbano e de outras bandas também. Reza a lenda que a cigarra, de tanto cantar, explode, e acaba mortinha da silva, provavelmente presa à casca de uma árvore.
Os mais antigos, sempre mais sabidos do que os mais moços, também dizem que, quando a cigarra canta muito num fim de tarde, prenuncia a vinda de um dia ensolarado na alvorada vindoura. E tal sabedoria sempre se confirmou. Pelo menos nos tempos em que eu via a chegada de Vesper ao som das suas cantorias no Engenho da Rainha, a estrela matutina trazia uma manhã brilhantemente ensolarada.
Os mais antigos, sempre mais sabidos do que os mais moços, também dizem que, quando a cigarra canta muito num fim de tarde, prenuncia a vinda de um dia ensolarado na alvorada vindoura. E tal sabedoria sempre se confirmou. Pelo menos nos tempos em que eu via a chegada de Vesper ao som das suas cantorias no Engenho da Rainha, a estrela matutina trazia uma manhã brilhantemente ensolarada.
Me lembro de um sábado de verão da minha infância em que saí pela rua catando as cigarras mortas com o Zelão, um garoto que tinha mâe rica e não ficou muito tempo pelas bandas do subúrbio. Acho que foi morar na Barra, o infeliz. Catamos uma vinte “cigarras mortas”. Fizemos isso porque o Zelão, que era reencarnacionista aos 10 anos de idade, queria me provar que elas - as cigarras - “desencarnavam” e reencarnavam.
Depois da peregrinação, ele falou repleto de seriedade:
- Tá vendo, Diego. Elas Morrem e deixam o corpo, mas a alma vai embora, segue o caminho.
Eu, que tinha os dois pés atrás com essa história, perguntei pro Zelão se ele acreditava que a cigarra poderia ser tão leve quanto aquelas que tínhamos em nossas mãos. Perguntei mas já tinha certeza de que não, não era possível. Aos sete anos, no meu primeiro dia de férias, em 9 de dezembro de 1989, saí pra jogar futebol com os colegas e voltei pra casa com uma fratura grau 3 (quase exposta) na Tíbia, outra, de grau 2, no Perônio e um deslocamento na área de crescimento, que por sorte e pelo excelente atendimento que recebi do Dr. Claudio, no Hospital Geral de Bonsucesso, não me deixou manco, no estilo “ponto e vírgula”. Passei os três meses do verão com a perna direita engessada e um ano de castigo, proibido de jogar futebol.
Quebrei a perna porque quando voltava pra casa, resolvi escalar um morrinho de pedras atrás do bloco 8, e, no meio do trajeto, fui abordado por uma cigarra, que girou umas sete vezes ao redor da minha cabeça, passando sempre muito próximo ao meu rosto. Como sempre tive nojo de insetos, pulei da pedra onde estava, sem calcular que a altura passava de 6 metros, e acabei caindo com um péssimo apoio de perna, fraturando meus ossos violentamente.
Expus minha certeza de que aquilo não era possível ao Zelão, mas ele rebateu-me com um argumento surpreendente...
- O peso da cigarra está na alma, Diego. Quando a alma sai, o corpo fica leveigual a esses aqui, ó! Tá vendo esse buraquinho nas costas dela? É por onde a alma sai...
Fui me afastando de fininho e deixei o Zelão falando com as cigarras. Nunca mais procurei por ele.Tinha certeza de que estava no mundo das drogas e meu pai me dizia que meninos assim não eram boa companhia.
Neste fim de tarde tijucano, as cigarras cantam. Se esguelam, as coitadas. Tanto que parece que vão morrer de cantar. Eu, de férias, espero que elas não me desiludam amanhã e tragam uma alvorada claríssima, repleta de sol.
Depois da peregrinação, ele falou repleto de seriedade:
- Tá vendo, Diego. Elas Morrem e deixam o corpo, mas a alma vai embora, segue o caminho.
Eu, que tinha os dois pés atrás com essa história, perguntei pro Zelão se ele acreditava que a cigarra poderia ser tão leve quanto aquelas que tínhamos em nossas mãos. Perguntei mas já tinha certeza de que não, não era possível. Aos sete anos, no meu primeiro dia de férias, em 9 de dezembro de 1989, saí pra jogar futebol com os colegas e voltei pra casa com uma fratura grau 3 (quase exposta) na Tíbia, outra, de grau 2, no Perônio e um deslocamento na área de crescimento, que por sorte e pelo excelente atendimento que recebi do Dr. Claudio, no Hospital Geral de Bonsucesso, não me deixou manco, no estilo “ponto e vírgula”. Passei os três meses do verão com a perna direita engessada e um ano de castigo, proibido de jogar futebol.
Quebrei a perna porque quando voltava pra casa, resolvi escalar um morrinho de pedras atrás do bloco 8, e, no meio do trajeto, fui abordado por uma cigarra, que girou umas sete vezes ao redor da minha cabeça, passando sempre muito próximo ao meu rosto. Como sempre tive nojo de insetos, pulei da pedra onde estava, sem calcular que a altura passava de 6 metros, e acabei caindo com um péssimo apoio de perna, fraturando meus ossos violentamente.
Expus minha certeza de que aquilo não era possível ao Zelão, mas ele rebateu-me com um argumento surpreendente...
- O peso da cigarra está na alma, Diego. Quando a alma sai, o corpo fica leveigual a esses aqui, ó! Tá vendo esse buraquinho nas costas dela? É por onde a alma sai...
Fui me afastando de fininho e deixei o Zelão falando com as cigarras. Nunca mais procurei por ele.Tinha certeza de que estava no mundo das drogas e meu pai me dizia que meninos assim não eram boa companhia.
Neste fim de tarde tijucano, as cigarras cantam. Se esguelam, as coitadas. Tanto que parece que vão morrer de cantar. Eu, de férias, espero que elas não me desiludam amanhã e tragam uma alvorada claríssima, repleta de sol.
5 comentários:
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
Diego,
Agora, ficou mais fácil voltar a fazer comentários musicais no seu blog... (e dá até pra você ouvir, no seu computador! Basta clicar no título da canção)
Cigarra
(Milton Nascimento & Ronaldo Bastos)
Intérprete: Simone
Porque você pediu
Uma canção para cantar
Como a cigarra
Arrebenta de tanta luz
E enche de som o ar
Porque a formiga
É a melhor amiga da cigarra
Raízes da mesma fábula
Que ela arranha, tece
E espalha no ar
Porque ainda é inverno
Em nosso coração
Essa canção é para cantar
Como a cigarra acende o verão
E ilumina o ar
Zi, zi, zi, zi...
Vá no Achados que há algo pra você...
Bjo,
Clé
Mano,
Zelão, na poesia mais pura de uma criança, deixou uma marca em você, pois nunca esqueceu suas palavras e as escreve aqui, eternizando-as.
Reencarnacionista ou não, tô com ele (e com muitos filósofos, como Platão) e não abro: o peso de tudo o que há, o nosso peso está na alma, na essência. No fim, o que resta são as histórias que deixamos para outras pessoas contarem. Isso é o que nos eterniza.
Um beijo!
PS:
ZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZIZ
linda história!
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