quarta-feira, setembro 17, 2008

VELHOS AMIGOS

Raramente a vida me presenteia com o encontro de velhos amigos. Nos últimos anos tenho feito alguns poucos mas bons amigos, no entanto vi muito pouco aqueles que me cercaram na infância e na juventude. Alguns compareceram ao meu casamento. Outros casaram-se e eu pude comemorar com eles seus enlaces. E há aqueles que eu encontrei por sorte, sem data marcada, porque o destino quis. Quem estiver atento vai perceber nesse texto que foi através dos meus amigos que eu conheci os recantos mais belos do subúrbio, meu berço e inspiração.

Em dezembro de 2006 o meu velho amigo Daniel Simões casou-se com a amiga Marina. Foi motivo para o encontro de vários amigos, registrado aqui.

Da esquerda para a direita: Daniel Meirelles, Carlos Bojon, Aline Maia (atrás), Daniel Simões (o noivo, vestindo a farda da FAB), Alice Barreiros, Rubens e eu. Falei de todos eles e de outros amigos quando escrevi A SANTA DA RUA AIERA E OUTROS CASOS (leia aqui). Com eles, e outros amigos, eu conheci melhor a Vila Kosmos, a Vila da Penha, o Largo do Bicão, Vista Alegre e Irajá, entre outras freguesias.

Daniel é o nome de alguns dos poucos sujeitos que eu considero como meus melhores amigos. O Simões e o Meirelles, na foto, certamente fizeram parte desse time. O Meirelles, sempre excelente aluno em matemática, fez CEFET e acabou indo parar na Suíça, fazendo experimentos com anti-matéria. Voltou para casar-se com a Polyanna, em fevereiro de 2007. O Simões, que sempre sonhou pilotar caças e até me levou na Base Aérea de Santa Cruz, onde entramos num F-5, viveu duas vezes o esforço de passar para a EPCAR (na primeira foi reprovado injustamente por um problema de joelhos que não existia) e depois encarou quatro anos de Academia da Força Aérea. Depois de casar-se foi para Roraima, onde está até hoje.

Rubens e Carlos Bojon sempre foram camaradas pra toda hora. Certa vez, no treino para uma apresentação de capoeira na escola, eu quebrei o nariz do Rubens com um toque muito leve no rosto. Nervosíssimo, chamei a professora Miriam, de ciências, que já foi dessa pra melhor, deixando saudades por aqui. Ela ajudou a conter o sangramento e eu acabei fazendo a exibição de capoeira com outro camarada, o Felipe Barreto, que eu encontrei pela última vez, por acaso, em 2000.

Quem tem a sorte de ter como amigas os dois primeiros amores da vida? Eu tenho. A Alice Barreiros e a Aline Maia, que embalaram as emoções que vivi entre os doze e os treze anos de idade, são daquelas pessoas que eu só esqueceria se fosse um canalha. Porque o tempo passa e algumas pessoas fogem de nossa memória, mas essas amigas não.

E como é bom ter os amigos dentro de casa. Desde que nos casamos, eu e Lucimar - minha digníssima senhora – temos nos esforçado para trazer nossos velhos amigos pra cá. E eles vieram várias vezes, o que sempre nos alegrou muito. No ano passado recebemos essa turma aqui:

Da esquerda para a direita: Lívia, Viviane, Anne (em pé), eu (sentado), Lelê (agachado), Tatiana, Daniela (no colo) e Daniel. Com eles, e outros amigos, eu me inebriei da verve suburbana. Passei por Manguinhos, onde nos conhecemos, por Ramos, Olaria, Penha, Cordovil; pelo Méier, Engenho de Dentro, Deodoro, Realengo... E também por Niterói, São Gonçalo, Itaipu e pela Baixada, de onde veio minha digníssima senhora, que é Nilopolitana e me fez conhecer melhor a Pavuna, Anchieta, Ricardo de Albuquerque, Olinda e, claro, Nilópolis.

Há, aqui, um encontro de gerações. Explico. Todos nós passamos pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, em Manguinhos, e nos formamos técnicos em saúde. Exceto eu, claro, que saí da escola e segui o caminho que me levou à geografia. O Lelê é o mais antigo e foi aluno da Turma 91. Nós nos identificávamos assim porque a escola, fundada em 86, só tinha uma turma de trinta alunos por ano, num curso que durava quatro anos. Quando eu e o Daniel chegamos, na Turma 97, ele já era professor da escola. Daniel hoje também é professor da lá e trabalha com o Lelê. Eles são professores do meu primo João (leia o que escrevi sobre ele aqui). As meninas são da Turma 93, da qual fez parte minha digníssima senhora. Minha irmã, que não esteve nesse dia conosco, foi da Turma 94.

De certa maneira, todos fizeram parte da minha juventude, especialmente Daniel, que em questão de semanas virou um novo irmão. A ele eu ensinei os primeiros acordes do violão, que hoje ele toca com maestria. Freqüentei sua casa com a assiduidade de um membro da família. Dormia, ou caía, como dizíamos, lá pelo menos umas três vezes por semana, deslizando os dedos no braço do pinho até altas horas. Sua mãe virou minha mãe. Seu pai, meu pai. Seus primos, tios e avós, todos viraram meus parentes e eu conheci os caminhos e mistérios da Ilha do Governador. Nando, Vitor e Gordinho, grandes amigos desses velhos tempos, completavam aquilo que foi nossa banda até uns sete anos atrás.

E no último sábado eu tive a felicidade de encontrar um amigo da mais tenra idade. O Bráulio, ou gaguinho, era meu vizinho de porta, eu no 101 e ele no 102 do bloco 4 do PREV, na antiga Estrada Velha da Pavuna, no Engenho da Rainha. Durante a semana inteira a gente vivia uma coisa que só é possível no subúrbio. As duas portas, coladas uma na outra, passavam a semana inteira abertas. Minha mãe, sem bater, entrava no 102, abria a geladeira e pegava uma cebola emprestada. A saudosa mãe Fátima, mãe do Bráulio e do Bruno, que todo dia cozinhava bebendo uma cerveja gelada, fazia rigorosamente o mesmo lá em casa. E elas se anunciavam apenas assim:

- Ô, vizinha, vim aqui no Paes Mendonça e peguei uma cebola, tá?
- Ah, tudo bem! Daqui a pouco eu vou ali no Disco buscar uma batata.

Era assim. A geladeira da vizinha era o mercado mais próximo de casa e funcionava na base da troca. Só mudavam, de vez em quando, os nomes dos mercados. As vezes era Guanabara, Supermercados Rio, Rainha... Os rádios ligados tocando os LP`s das Escolas de Samba. O dia inteiro. Todo mundo mangueirense roxo. Roxo, não. Verde e rosa. O pai Jorge, o Camarão, era mangueirense mas foi um dos fundadores da Caprichosos de Pilares que, pela simpatia que eu tinha por ele, sempre foi minha segunda escola. Aqui o registro do encontro com o Bráulio, no último sábado.

Com esse irmão eu aprendi muita coisa. Se você, leitor, notar bem, verá que o Bráulio chora com o reencontro. Ele se emocionou, como eu também, com as lembranças daqueles tempos de outrora, com as memórias das estações vividas naquele Parque Residencial da Estrada Velha. Da guerra de água e de amêndoas. Do polícia e ladrão e do pique - esconde com mais de cinqüenta garotos e garotas; do futebol e da sangria no parquinho; da conquista do topo das árvores escaladas; das escorregadas com papelão nas gramas inclinadas; das aventuras ilícitas invadindo a piscina no ano novo e a quadra de futebol depois das dez da noite; e outras experiências que formaram nosso caráter, suburbano até as vísceras.

E com ele vou conhecer mais da freguesia de Campo Grande, onde hoje mora esse velho amigo, pai de cinco filhos e marinheiro do cais da Barão de Mauá. Fica registrada aqui a promessa de visitar o seu quintal, Gaguinho!

Para os meus amigos, velhos e novos, de quem eu falei aqui ou não, deixo o meu caloroso abraço, desejando que nos reencontremos em breve.

6 comentários:

@line Maia disse...

NOSSA!! PRIMEIRAMENTE E REALMENTE MARAVILHOSO SER AMIGA DO PRIMEIRO AMOR DA MINHA VIDA. FAÇO MINHAS SUAS PALAVRAS...

VC NAO MENCIONOU OS RAPS Q VC E BRAULIO FAZIAM NA EPOCA DE FUNK MELODY, E NEM QUE ELE CHEGOU A GRAVAR UM NO CD RAP BRASIL E QUE A GENTE IA PRO MELLO VE-LO CANTAR...

OTIMOS TEMPOS DI...

Diego Moreira disse...

Aline, foi o Bráulio que me ensinou as primeiras noções de ritmo e de tempo na música, quando com ele aprendi a ser Dj, troço a que não me dediquei por ter assumido outras preferências, o Rock e hoje o Samba.

Mas os raps eu fazia com o Meirelles. Uma vez ele foi comigo na sua casa pra buscar o caderninho com os Raps adotados. O Braulio fez um puta sucesso com o Rap do Corno. Hahaha! Bons tempos!

Beijos!

Larissa disse...

Di, eu estava na sua casa no dia do encontro com o pessoal do Poli! Lembro que meu pavê de frutas vermelhas fez um sucesso!! kkk Só não saí na foto, detesssssssto!

Diego Moreira disse...

É verdade... tinha fugido de minha memória...
Valeu por me lembrar, garota!

Beijo!

Unknown disse...

Grande Diego, resolvi dar uma relembrada no nosso rápido mas saudoso encontro no Prev. Por acaso, a Aline aí de cima é aquela daquela época?? amiga da Cara de Lua??? hhahahuaa!!!

Essa eu resgatei de longe...


Abs meu amigo.

Diego Moreira disse...

É sim, meu velho. Elas são primas e eu encontrei com as duas faz pouco tempo, na quadra do Salgueiro.

Resgatando de longe!!

Abraço!